A Fifa é alvo de acusação de um trabalhador de Bangladesh que diz ter sido explorado quando atuava nas obras para a Copa de 2022, no Qatar. Com apoio de advogados de uma federação de sindicatos da Holanda, Nadim Shariful Alam, de 21 anos, ameaça levar o caso à Justiça da Suíça, país onde fica a sede da entidade que comanda o futebol no mundo. As denúncias de desrespeito às leis trabalhistas são frequentes contra o Qatar, mas é a primeira vez que a Fifa é responsabilizada diretamente.
Em carta enviada na noite de domingo à Fifa, segundo reportagem do jornal inglês “The Guardian”, advogados que representam Alam e a Confederação Holandesa dos Sindicatos do Comércio deram prazo de três semanas ao presidente da entidade, Gianni Infantino, para reconhecer a cumplicidade da instituição com a situação degradante dos operários dos estádios que serão usados no Mundial. Se a Fifa não fizer esse reconhecimento e pagar indenizações, a denúncia será feita ao Judiciário suíço e poderá virar um processo legal.
Copa do Qatar 2022 (atualizada em 10 de outubro de 2016)
A Fifa tem dito que não pode ser responsabilizada pelo que chama de “problemas sociais” do país sede da Copa. Segundo ela, são feitos esforços junto ao governo do Qatar para regularizar a situação dos operários estrangeiros, que muitas vezes trabalham em condições similares à da escravidão. Segundo os advogados de Alam e dos sindicatos holandeses, porém, a organização se omite ao não usar sua influência para garantir que os trabalhadores sejam tratados justamente, já que cabe a ela o papel de supervisionar o andamento das obras para o Mundial.
Pelos valores com as quais a Fifa trabalha, o pedido de indenização do operário de Bangladesh é até modesto. Ele cobra compensação financeira de 10 mil euros. O problema pode ser o efeito em cascata disso, se outros trabalhadores optarem por exigir da Fifa que os indenize também.
Segundo denúncias frequentes, os trabalhadores estrangeiros que atuam nas obras de infraestrutura e nos estádios do Qatar não podem se demitir nem deixar o país. E recebem pagamentos abaixo do combinado.
Nadim Shariful Alam contou ter pago 3,5 mil euros a um recrutador para trabalhar nas obras. Ele relatou que teve seu passaporte confiscado pelos donos da empreitada logo depois de chegar ao Qatar e que trabalhou por 18 meses em condições ilegais. O trabalhador revelou ainda que ficou confinado num campo com outros operários. A função dele era descarregar navios que levavam materiais de construção. Alam informou que, depois de ser despedido e deportado, não recebeu o suficiente nem para ter de volta o que pagou ao recrutador.
O Qatar tem sido alvo frequente de denúncias de desrespeito às regras do trabalho em relação aos estrangeiros levados ao país para atuar nas obras da Copa de 2022. Organizações não governamentais, como a Anistia Internacional, têm se manifestado contra o tratamento dado aos operários no país.