Esportes

Delegações ?se escondem? em São Paulo em busca de privacidade

2016 926637880-201607291719297375.jpg_20160729.jpgSÃO PAULO – Delegações de ao menos nove países optaram por ?se esconder? em São Paulo nas últimas semanas para se preparar para a Olimpíada do Rio. Com o objetivo de garantir a privacidade dos atletas e evitar a espionagem esportiva, elas estão treinando em áreas reservadas de clubes, universidades e resorts. O Comitê Paulista do Esporte Olímpico, vinculado ao governo do estado, ainda espera a chegada de esportistas de outras 13 nacionalidades nos próximos dias.

Segunda maior potência olímpica, a China investiu cerca de US$ 3,5 milhões para usar parte das dependências do Esporte Clube Pinheiros, um dos mais tradicionais da capital paulista. Atletas brasileiros ligados ao clube já conquistaram dez medalhas nos Jogos Olímpicos, entre eles, o ouro de Cesar Cielo nos 50m livre em Pequim-2008. Ao todo, 350 membros da delegação chinesa devem passar pelo Pinheiros de forma escalonada até 15 de agosto.

O Comitê Olímpico Chinês pediu privacidade total durante os treinamentos. Funcionários foram orientados a não tirar fotos nem fazer contato com os atletas sem necessidade. Além disso, foi montada uma logística para que os treinamentos não atrapalhem a rotina dos cerca de 38 mil sócios do clube, localizado em uma área de 170 mil metros quadrados em um bairro nobre da Zona Sul da capital paulista. A imprensa está proibida de acompanhar as atividades e fazer entrevistas.

Nas contas de um dirigente do Pinheiros, os chineses que estão treinando no clube devem brigar por ao menos 30 medalhas de ouro. Para abrigar atletas de duas modalidades em que o país foi hegemônico na Olimpíada de Londres, o Pinheiros precisou fazer ajustes em sua estrutura: o tênis de mesa ocupará o espaço do ginásio de handebol, e o badminton ficou no salão de festas. Atletas de outras modalidades em que os chineses ficaram em primeiro lugar nos últimos Jogos, como a natação e o levantamento de peso, também estão no Pinheiros.

O treinamento da equipe de canoagem está sendo feito em outro lugar, igualmente fechado à imprensa e ao contato de outros atletas: a raia olímpica da Universidade de São Paulo (USP), ao lado do poluído Rio Pinheiros. Um jovem que costuma treinar no local contou que a raia fica fechada diariamente das 10h às 12h e das 15h às 18h para uso exclusivo da delegação chinesa. Mesmo estando atrás das grades da raia olímpica, o GLOBO foi orientado por um segurança do campus da USP a não fotografar os exercícios quando visitou o local na tarde de ontem.

Também não é possível entrar em contato com os chineses no hotel de alto padrão onde estão hospedados ? uma unidade da Rede Radisson na região da Avenida Faria Lima, próximo ao clube Pinheiros. Como a delegação é grande, sobraram poucos quartos para os demais hóspedes, de acordo com um atendente. Um cozinheiro chinês acompanha o grupo.

2016 926080923-201607271955405913_RTS.jpg_20160727.jpgNa capital paulista, também treinam longe dos holofotes as equipes de natação do Japão e de Israel. Abrigados no Clube Hebraica, parte dos japoneses deixou São Paulo anteontem, após um período de nove dias de aclimatação. Na semana que vem, devem chegar a São Paulo os times de atletismo de França e Itália e de canoagem da Rússia para treinar no Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp), destinada a alunos e professores da universidade.

Boa parte dos atletas russos optou por ficar fora da capital. Um grupo de 53 nadadores e seus técnicos escolheu São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, para se preparar para a Olimpíada. Antes de bater o martelo, o Comitê Olímpico Russo cogitou fazer a preparação no Centro de Treinamento Paralímpico, na capital. Como o local seria a casa da natação brasileira, porém, poderia gerar muito contato com a imprensa. A natação da Rússia foi atingida em cheio pelo escândalo do doping, o que explica seu pedido por discrição.

Na segunda-feira, a Federação Internacional de Natação decidiu vetar a participação de dois atletas do país: Vladmir Morozov e Nikita Lobintsev, que haviam chegado ao Brasil naquele fim de semana. Sem poder participar, eles voltariam para a Rússia ainda esta semana, segundo funcionários da prefeitura que estão participando do contato com os estrangeiros.

? Estamos com alguns desfalques por questões já conhecidas, entretanto, os treinos estão ótimos e estamos confiantes nos resultados ? afirmou o treinador-chefe da Rússia, Sergey Kolmogorov, em uma cerimônia de boas-vindas organizada ontem pelo município.

QUARENTA E SETE ATLETAS EM SANTOS

Mesmo quem é novato em Olimpíada busca o isolamento como estratégia para surpreender nos Jogos. A seleção feminina de rúgbi do Japão encontrou refúgio no Spa Sport Resort, em Itu, no interior, onde treinou o time de futebol nipônico durante a Copa de 2014. Segundo a gerência do hotel, as meninas pediram que a imprensa não acompanhe os treinos.

Santos, no litoral paulista, também entrou no radar de delegações que querem fugir do assédio e buscam condições climáticas parecidas com o Rio. Só na Universidade Santa Cecília (Unisanta) estão 47 atletas de Itália, Rússia e Eslovênia, que disputarão as competições de natação, triatlo e maratona aquática.

? Nosso intuito é deixá-los à vontade, sentido-se em segurança e com a tranquilidade necessária para esse período. É importantíssimo respeitar os horários e espaços que eles ocupam nas instalações, além de organizar o assédio ? disse Marcelo Teixeira, pró-reitor da Unisanta.