Esportes

Contraiu a febre olímpica? Não deixe de avaliar os custos antes de escolher a atividade física

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Os Jogos Rio-2016 parecem ter despertado uma corrida de aspirantes a atleta das mais diferentes idades rumo ao pódio olímpico, sonhando com seguir os passos de estrelas como os ginastas Daniele Hypolito e Arthur Zanetti, o jogador de basquete Marcelinho Huertas ou o cavaleiro Doda Miranda. Mas chegar até lá ? ou apenas se divertir muito tentando ? tem um preço.

FEBRE OLÍMPICA – 2307

Comecemos pelo mais caro. No hipismo, por exemplo, a brincadeira começa com aporte superior a R$ 1.000, fora a mensalidade de R$ 660, valor cobrado na Sociedade Hípica, na Lagoa. Quando o cavalo passa a integrar o pacote, há um salto ? olímpico ? de mais de R$ 22 mil no investimento. Lá na frente, um animal pronto para competições internacionais está avaliado por baixo em R$ 3 milhões, segundo levantamento do economista Samy Dana, professor da FGV:

QUANTO CUSTA?: Veja os gastos de cada esporte

? Criei um levantamento mais lúdico, para precificar o investimento necessário para a prática de modalidades olímpicas. Em termos de finanças, a questão maior não é a escolha, mas a renúncia que essa escolha pedirá, principalmente em tempos de crise. Na hora de escolher o esporte, é preciso casar desejo pessoal com o que cabe no bolso. Ou seja, considerar o prazer, o custo e a dedicação àquela modalidade.

Tudo é uma questão de escolha, pondera Dana. Para chegar ao pódio, a primeira prova a ser vencida é a da calculadora. As cifras não devem ser entrave para quem quer suar a camisa e se divertir, havendo opções para todos os bolsos. Os cariocas ainda contam com a vantagem de dispor de uma academia gratuita e 24 horas: a praia.

? Quem quer praticar esportes pode fazer isso em qualquer idade. Basta ter vontade. No Rio tem praia. É fácil. As quadras são mais restritas, mas também funcionam, mesmo sem estrutura completa ? defende o ex-jogador de vôlei Nalbert, medalhista de ouro na Olimpíada de Atenas, em 2004.

Para compor o levantamento de preços de uma lista de equipamentos necessários à prática de esportes de destaque na grade olímpica, Dana ouviu especialistas e focou nos iniciantes.

? A decisão não pode ser baseada apenas na demanda física. Os esportes coletivos e praticados em espaços públicos ou comuns são mais em conta. Já os individuais e os que demandam equipamentos e estruturas de treino mais específicas custam mais ? pondera ele.

O médico do exercício Claudio Gil Araújo destaca que, em geral, o investimento pode se traduzir em economia:

? O principal problema de saúde não é o excesso de exercício, mas a falta dele. Praticar atividade física é investir em saúde. O principal legado dos Jogos é ajudar a reduzir o sedentarismo. Isso tem um impacto direto na redução dos gastos com saúde por décadas.

Ele recomenda um avanço gradativo nos treinos. Aqueles que evoluem para competição, profissionalização ou exercícios de alta intensidade devem procurar um especialista, minimizando chances de lesões e melhorando o resultado. Mais um custo para o cálculo do aprendiz de campeão.

Dependendo da escolha do atleta amador ? pessoal ou para os filhos ? ele precisará investir na compra de roupas e equipamentos, arcar com o custo de mensalidades e taxas extras. Sem esquecer dos gastos com deslocamento e a disponibilidade de tempo necessária para aulas e treinos. E essas despesas parecem crescer. Nas últimas quatro semanas, a Decathlon, rede de lojas de artigos esportivos, registrou alta de 21% nas vendas de artigos para basquete, 19% nos de futebol e 7% nos de vôlei.

Esportes como vôlei, natação, ginástica artística e judô pedem aportes bem mais confortáveis para orçamentos que exigem muito suor para cruzar a linha de chegada no azul no fim do mês. São gastos iniciais de R$ 90 e R$ 460, mais mensalidades que variam entre R$ 165 e R$ 279, sem contar a matrícula.

No geral, o atleta amador parece estar conseguindo driblar a crise em sua maratona rumo ao sonho olímpico. No Flamengo, as matrículas nas escolinhas cresceram 20% de janeiro a março deste ano na comparação com o primeiro trimestre de 2015, conta João Paulo Pantano, supervisor das Escolas Olímpicas do clube rubro-negro.

? Hoje temos aproximadamente 2.900 alunos. No infantil, as crianças que se destacam podem ser escolhidas para uma turma de transição e, depois, passar para equipes de base. No adulto, também há exigências técnicas, dentro dos objetivos e condições de cada aluno. O avanço é progressivo ? explica ele.

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O Flamengo lançou em maio um pacote, restrito a crianças de 5 a 7 anos, que abraça cinco modalidades: basquete, vôlei, futsal, tênis e natação. A chamada Escola Básica de Esportes coordena um revezamento pelas cinco atividades a cada aula. O clube está atento à importância de experimentar diferentes modalidades antes de o aluno se decidir por uma.

Experimentar é a regra número 1 para unir finanças e esporte no mesmo time. Não é prudente gastar uma robusta soma de dinheiro em equipamentos, sem ter a certeza de que haverá dedicação à modalidade. Na esgrima, por exemplo, o kit inicial ? com roupa, espada, máscara, fio de corpo e meião ? custa perto de R$ 1.200. É preciso se aventurar com a espada à mão por algumas aulas até dar um golpe certeiro no bolso.

? O iniciante só comprará o material completo após um período de oito meses de aula. E esse kit dura pelo menos quatro anos, então o custo se dilui. E as mensalidades são acessíveis, variando entre R$ 90 e R$ 270 no Rio ? diz o major Arno Perillier, presidente da Federação de Esgrima do Rio de Janeiro.

Na busca por esportes que se esticam em categorias de gastos ouro, prata e bronze, há boas surpresas. Caso do golfe, por exemplo, ainda um esporte de elite:

? O golfe é um esporte indicado para todas as idades. Mas aqui no Rio ainda é difícil pela falta de campos públicos. Temos o de Japeri e, depois dos Jogos, o Olímpico será aberto ao público. Isso deve melhorar o acesso ? diz Vicky Whyte, que é a presidente da Associação Golfe Público de Japeri, na Baixada Fluminense.

A menos de uma hora do Rio, o campo da entidade sem fins lucrativos ? que mantém uma escolinha com 120 alunos da rede pública de ensino da região ? é opção interessante para quem planeja as primeiras tacadas. A taxa por pessoa para uso do campo é de R$ 20 nos dias úteis de R$ 50 aos sábados, domingos e feriados ? mesmo preço da aula inicial.

? Iniciantes podem alugar uma bolsa com tacos e itens necessários de segunda mão, por uns R$ 200. A de um profissional não sai por menos de US$ 2 mil.