Alguns dos mais clássicos desejos de criança foram realizados por Junior Sornoza logo aos cinco anos: ganhar uma bola de presente e ter um estádio inteirinho à disposição para fantasiar ser um jogador famoso. O amor pelo futebol, cultivado enquanto o pai cuidava da grama do principal campo de Portoviejo, cidade de 280 mil habitantes no litoral do Equador, deu origem a uma carreira precoce, a uma experiência interrompida no México e agora, no Fluminense, uma nova chance de expandir fronteiras.
Quem trabalhou recentemente com Sornoza garante que, desta vez, o meia de 22 anos está pronto para triunfar. O grande teste da carreira começa hoje, às 20h, em Juiz de Fora, na estreia tricolor na Primeira Liga, contra o Criciúma.
? Ele é muito técnico, tem ótima capacidade física. É jovem e está progredindo. É o momento de se consolidar internacionalmente. Sornoza nos deu gols, assistências, cobranças de falta… ? elogia, em entrevista ao GLOBO, Alexis Mendoza, técnico do Independiente del Valle, clube que Sornoza defendeu no Equador e ajudou a levar ao vice-campeonato da Libertadores em 2016.
Mendoza define o reforço tricolor como o típico ?enganche?. No linguajar sul-americano, o tradicional camisa 10, que faz a ligação entre meio-campo e ataque.
? Gosta de chegar à área para finalizar, mas também de dar o último passe. Tem muito talento e é muito ofensivo ? descreve o treinador. ? Pelo jogo técnico que se pratica no Brasil, tem tudo para triunfar.
Criado em um bairro humilde de Portoviejo, onde relata ter visto cenas violentas e até uma pessoa morrer na frente de sua casa, Sornoza poderia ter virado cantor. Ao menos, era esta a vontade da mãe, Carmen, orgulhosa do menino que era responsável por cantar o hino nacional no colégio, antes das aulas. Aos poucos, no entanto, prevaleceu a paixão do pai, Nazareno. E não apenas na escolha do futebol como razão de sua vida, mas também na escolha do clube de coração, o Barcelona de Guayaquil. Ainda que o destino o levasse para vestir outra camisa.
Nazareno trabalhava como ?canchero? no estádio Reales Tamarindos, casa da LDU Portoviejo, hoje na segunda divisão equatoriana. Ou seja, era responsável por cuidar do gramado. Enquanto trabalhava, via o filho, Junior Sornoza, chutar bolas no gol e se imaginar um jogador de verdade.
Logo passou a jogar na escolinha do Cristo Rey, clube da cidade que disputava competições locais. No início, era goleiro. Em seguida, virou zagueiro e, aos 13 anos, foi descoberta a sua vocação para ser o ?camisa 10?. Daí em diante, a ascensão foi meteórica.
SURPRESA EQUATORIANA
Um empresário o levou para a base do Independiente del Valle, enquanto recebia as primeiras convocações para a seleção sub-15 do Equador. Aos 19 anos, após brigar pela artilharia do campeonato nacional, chegou à seleção principal.
? A vida de Sornoza foi construída em cima de um campo de futebol. Sempre foi visto como promessa. Além de ser um camisa 10 clássico, pode jogar também como um 8, um pouco mais atrás. Tem bom chute e liderou o Del Valle na última Libertadores ? afirma David Paredes, jornalista do ?El Comercio?, do Equador.
De fato, a disputa da Libertadores de 2016 marca o grande momento da carreira de Sornoza. Mas, antes, uma passagem malsucedida pelo Pachuca, do México, onde só foi titular dez vezes em seis meses, em 2015, criara desconfiança.
Mas veio a Libertadores. Com seis gols de Sornoza, o modesto Del Valle foi deixando camisas mais pesadas pelo caminho: o Colo Colo na primeira fase, o River Plate nas oitavas e o Boca Juniors, com direito a jogo de volta na Bombonera, na semifinal. Até a queda diante do Atletico Nacional na decisão. Contra o River, algo além da façanha movia Sornoza: sua cidade fora gravemente afetada por um terremoto de 7.8 graus. A família se salvou, mas amigos perderam tudo.
No Brasil, Sornoza terá a chance de provar qual imagem é a mais real. Nos primeiros dias no Fluminense, conquistou o técnico Abel Braga.
? Ele joga futebol brincando ? elogiou Abel, que hoje não terá o lateral Lucas, cuja inscrição não foi publicada pela CBF, e Gustavo Scarpa, que amanhã jogará pela seleção brasileira.
FLUMINENSE X CRICIÚMA
Fluminense: Diego Cavalieri, Renato, Renato Chaves, Henrique e Léo; Orejuela, Douglas e Sornoza; Marcos Júnior, Henrique Dourado e Wellington.
Criciúma: Luiz, Maicon Silva, Raphael Silva, Giaretta e Marlon; Barreto, Douglas e Alex Maranhão; Pimentinha, Jheimy e Pitbull.
Juiz: Bruno Boschilia (PR).
Local: Estádio Mário Helenio, Juiz de Fora (MG).
Horário: 20h.
Transmissão: Sportv e Rádio Globo/CBN.