A briga entre a Maracanã S.A. (Odebrecht e AEG) e o Comitê Rio-2016 sobre as condições do estádio ganhou novo capítulo. Nos documentos entregues pela defesa da concessionária à Justiça, foram destacados trechos dos laudos apresentados pelo Rio-2016, nos quais, segundo a Odebrecht, foram constatados itens soltos na cobertura. De acordo com o documento, esses objetos têm risco de queda e poderiam ter colocado em xeque a segurança dos torcedores que estiveram no Maracanã no ano passado. O Rio-2016, por sua vez, baseando-se nos mesmos laudos, acusa a Odebrecht de já ter entregue o estádio com essas falhas. Caberá à Justiça decidir responsabilidades.
O Rio-2016 contratou duas empresas renomadas (a alemã SPB e a brasileira Promon) para avaliar eventuais danos que os equipamentos extras colocados na cobertura do Maracanã para as cerimônias poderiam causar. A Odebrecht se baseia em falhas apontadas nesses laudos para tentar não reassumir o Maracanã enquanto o Rio-2016 não realizar os reparos.
Nesses laudos, consta que ?o sistema de fixação do equipamento de som próximo ao eixo 3, um problema típico para os demais pontos onde há o mesmo equipamento, apresenta problemas que devem ser reparados devido a risco de queda dos aparelhos.? E também que ?as caixas de som não estão fixadas por solda, nem aparafusadas na estrutura da passarela, havendo risco de queda?.
O laudo chama atenção, em vários pontos, para o ?alto risco de queda e sérios acidentes.? Segundo o Rio-2016, contratante dos laudos, esses itens já constavam no primeiro documento feito pela SPB, em março de 2016 ? quando assumiu o estádio ? , e que as peças estão soltas há mais tempo.
O documento diz ainda que ?numa inspeção minuciosa nas grades de piso das passarelas tangenciais e radiais, foram verificados que vários pinos e parafusos de fixação não estão devidamente colocados e torqueados, posto que várias delas estão soltas. Parte da grade de piso está danificada, abrindo um espaço considerável, o que representa riscos para usuários.?
Além disso, ainda segundo os documentos que constam da defesa da Odebrecht, ?requerem imediata atenção problemas que continuam no estádio até a presente data e que representam riscos aos usuários, dentre os quais: remoção dos equipamentos e objetos soltos sobre os painéis de membrana, para evitarem-se riscos de danos e rupturas de tecido; recolocação das fixações adicionais dos alto-falantes, antenas e outros equipamentos.?
Liminar negada
O Comitê Rio-2016 admitiu que há uma lista de coisas há serem feitas no Maracanã e que, de fato, extrapolou o prazo de 60 dias, que contava da data de 4 de novembro. No entanto, negou que essas falhas sejam de sua responsabilidade. Os itens já estavam nesse estado antes de março. Porém, serão fixados pelos técnicos contratados do Comitê.
O Rio-2016 alega que ?esses equipamentos soltos não apresentam risco iminente? e que ? os torcedores não correm e nem correram nenhum tipo de risco.?
Sem julgar o mérito sobre quem é responsável pelos reparos no Maracanã, ontem a Justiça do Rio negou o pedido da Maracanã S.A. para que não reassumisse o estádio do Governo do Estado até que fossem resolvidas pendências deixadas pelo Comitê.
O desembargador Henrique Carlos Figueira, da 5ª Câmara Cível do TJ-RJ, determinou que o consórcio permaneça à frente da gestão e assuma os custos do Maracanã. O descumprimento gera multa diária de R$ 200 mil.
Em sua decisão, o desembargador cita a obrigação assumida pelo Consórcio Maracanã, no contrato de concessão feito junto ao governo do estado do Rio, de “gerir, operar e manter o complexo esportivo Maracanã (…), sujeito aos princípios de eficiência e continuidade”. A Justiça ainda vai julgar os méritos da ação.
Anteontem, a luz do estádio foi cortada por falta de pagamento. O consórcio garantiu que já acertou o débito, no valor de R$ 1 milhão, referente às contas de novembro e dezembro. Já o Rio-2016 afirmou ter quitado, ontem, todas as contas de luz das arenas olimpíacas que estavam pendentes. O total passou de R$ 5 milhões.