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César Benjamim: 'O setor público não é tão veloz quanto o Aedes'

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O Esporte no guarda-chuva da Educação expõe a menor importância da pasta?

Só o futuro dirá isso. Em princípio, não. O grande ativo da antiga Secretaria de Esporte e Lazer são as 22 vilas olímpicas. Esta fusão, além da redução de custos, poderá permitir uma grande aproximação das vilas olímpicas com a rede municipal de educação. Hoje, as escolas usam as vilas olímpicas, mas isto ainda não é um processo planejado, feito em grandes escalas. Imagino que será assim e que a gente possa ter nas vilas uma base para reintroduzir o programa de saúde nas escolas, que cuide da saúde dos bebês nas creches, depois, com pesquisa, lidar com certas disfunções que afetam as crianças, como miopia, surdez e, depois, com os adolescentes. Acho que é cedo para dizer, mas não houve uma subestimação.

Mas das 22 vilas, 13 estão sem contrato. Era este o legado esperado no pós-Jogos?

Claro que não. Eu assumi com elas nesta situação e me tira o sono. No início desta gestão, todas as pessoas foram demitidas e nós estamos em processo de readmissão destas mesmas pessoas. Isto criou um hiato que nos fez incapazes de acelerar os processos. Eu já autorizei contratações emergenciais para capinar e tratar das piscinas. Os contratos normalmente têm dois anos, e o processo de licitação leva meses, e eu não posso mantê-las paradas. Então, eu quero pegar estas licitações da gestão anterior, mas diminuir o tempo de dois anos para oito meses. Isto tudo está em curso, mas o setor público não é tão veloz quanto o mosquito Aedes, infelizmente. Mas eu acho que nos próximos 15 dias estará pronto.

Como transformá-las em um adequado centro de formação?

Nós temos os ginásios olímpicos, onde os professores, ao identificarem no aluno um potencial esportivo avançado, o remete para estes ginásios. Gostaria que construíssemos subconjuntos de ginásios de ciências, matemática e música para que o mesmo processo seletivo ocorra entre os que se destacam pelo talento natural. Vai nos permitir olhar para estas 650 mil crianças não como uma massa indiferenciada, mas como pessoas.

Mas tem que treinar o professor…

Nós temos 650 mil crianças. Quantos potenciais Pixinguinhas temos ai? Quantos matemáticos, poetas? Alguém disse para o Pixinguinha: ?Toca este saxofone?. Temos que aprender a estimular. E isto passa por uma mudança de metodologia, mudança de cultura na rede.

Como está a licitação do Parque Olímpico?

Isto ainda não chegou a mim.

E sobre o campo de golfe?

Também não há nada sobre campo de golfe na minha periferia.

Arena do Futuro, Estádio Aquático… onde estão estas questões?

O que eu sei são de informações do GLOBO, de que estariam sendo devolvidos ao governo federal. Estou aqui só há duas semanas. Para você ter ideia, são 1.575 escolas. Assumi no dia 2 de janeiro. No dia 2 de fevereiro, se apresentarão 650 mil crianças. A partir deste dia, teremos que servir 1 milhão de refeições por dia, fora os uniformes, material escolar, vaga, professor… Até agora, eu fui um despachante, vivendo no mundo da urgência. Contratamos 825 professores para 23 mil crianças que estariam sem (professores) no dia 2. Além de 900 agentes de educação social. Até março o déficit de professores zera.

Quem será o subsecretário de Esporte?

A Patrícia Amorim, que está montando a estrutura abaixo dela. Ela definirá a política de esporte, de uso das vilas. Pôr as vilas em uso é a primeira missão dela, que vai montar um grupo de gestores e esportistas para ajudá-la.

A Educação Física será crucial ou não?

Sim. Parte destes professores contratados agora são da matéria. Nós teremos uma conversa setorial sobre isso, de música também.

Você estudou a vida inteira em instituições públicas e credita sua formação intelectual a elas. O que pensa da escola sem partido?

Isto é falso debate. Tem dois falsos debates aí, que criam muito calor e pouca luz: Escola sem partido e questões de gênero. Converso com alunos, professores, pais, e estas questões não aparecem. São questões artificiais, de grupos ideológicos que não são da rede e estão em luta ideológica, tendo a educação como pretexto. Eu tenho que pôr um milhão de refeições todos os dias nas escolas, você acha que estou preocupado com escola sem partido? Tenho que acabar com analfabetismo funcional na rede…

Falamos de quantos analfabetos funcionais?

Existem várias estatísticas, nenhuma aceitável. Uma delas fala em 12%. Mas não importam os números. Um jovem que ainda não dominou a escrita, leitura e operações básicas da matemática já foi excluído.

Você sempre foi de esquerda e agora não teme ?jogar do outro lado?.

Eu estou do lado que eu sempre estive, que é do lado do Brasil. Não estou preocupado com xingamento de patrulha ideológica. Eu tenho uma vida, as pessoas que quiserem me xingar, que mostrem as vidas delas. Estou do lado que Darcy Ribeiro esteve, da educação. O prefeito Crivella não me colocou limite, imposição. Eu poderia ter dito não, estava bem na minha editora. Eu teria dito a mim mesmo ?teu passado é passado e tua disposição para mudar o país não existe mais?. Mas ainda estou disposto a abraçar as causas brasileiras.

É o passado que bate à porta.

Aos 62 anos, virei bandido? Quando a esquerda começou a se corromper, eu disse que não queria. Poderia ter enriquecido. Estaria em Curitiba hoje, talvez. Eu me tornei um crítico da esquerda, que precisa ser muito criticada. Eu jogo no mesmo time, quem não joga mais são os que se corromperam.

Já se encontrou com o Coronel Amêndola (secretário de Ordem Pública, membro da Polícia Militar desde 1974)?

Já. O que saiu na imprensa tem muitos elementos fantasiosos, que não são verdade.

E o que é a realidade?

Fui preso. Não conheci o Lamarca, não estava levando nada para o Lamarca, não tinha uma mala de dinheiro. Não luto caratê…

E onde o coronel entra nesta história?

Eu não vi quem me prendeu, porque fui encapuzado. Acredito na palavra dele, de que ele estava lá. Eu não parei no tempo. Quando nos encontramos, ele me deu um abraço apertado, carinhoso e disse: ?Eu estava cumprindo a minha missão, assim como você cumpria a sua?. As memórias do regime militar são válidas, têm que ser estudadas, e as verdades conhecidas, mas não pertencem à luta politica hoje. Temos que aprender a nos libertar. Mas o regime militar fica como um fantasma, que não vai embora e fica arrastando as correntes atrás de nós. Temos que fazer como o Mandela: verdade e reconciliação.

O desprendimento com o passado lembra a filosofia budista. É sua preferência?

Sim, um pouco. Sou autodidata e, quando estava preso em Bangu, naveguei sobre o tema.

Imagino que você converse isto com o Crivella, que é uma pessoa religiosa.

Eu disse a ele que não sou ateu, não tenho religião, mas reconheço a existência do mistério. Isto foi uma experiencia forte para mim na solitária, onde fiquei dois anos e meio. Me emociono até. Foi uma experiencia continuada. Foi a percepção do mistério da existência e, separadamente, a percepção do amor como motivo desta existência. Tive profundas meditações, e eu vi claramente que o mistério e o amor são a mesma coisa (lágrimas nos olhos) e acho que é isto que as pessoas chamam de Deus. Eu falei isto na frente dele e da sua esposa, Sylvia. Que é um mistério. Quem ainda não percebeu isto, não percebeu nada.