RIO ? Uma troca de uma diagonal, a decisão de aumentar em três décimos o grau de dificuldade no ponto de partida, uma composição de movimentos executada pela primeira vez na final olímpica e a medalha de bronze no peito. Arthur Nory Mariano sabia que, para garantir o inesperado pódio, teria de dificultar a série, e a decisão foi tomada já na reta final da disputa no Rio, após a classificação para a final no dia 6. Ginástica em 14 de agosto
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A ideia foi encampada por seu treinador, Cristiano Albino. Tanto o atleta quanto o técnico creditam a essa ousadia a medalha que Nory deixou a Arena Olímpica do Rio carregando no peito.
O atleta de 22 anos só se classificou para a final de solo porque, entre os oito primeiros na eliminatória, havia três japoneses, e apenas dois por país seguem para a fase decisiva. Nory era o nono.
Na final, ele e Diogo Hypolito desbancaram o japonês Kenzo Shirai, atual campeão mundial e tido como o favorito para a prova. Shirai errou e ficou fora do pódio. Nory pontuou 15.433. Diego, 15.533. O ouro ficou com o britânico Max Whitlock, dono de um 15.633.
? Eu treinei muito barra, para ser medalhista olímpico. E veio solo. Aí à noite eu peguei para ver todos os meus resultados de solo desde 2013. E sempre por dois décimos eu ficava fora da final. Eu pensei: Se é para estar na final de solo, então vamos. Vamos dificultar a série. Meu técnico confiou em mim, e eu nele ? disse Nory aos jornalistas após obter o feito de ser medalhista olímpico.
O ginasta contou que ainda não havia executado em competições a série completa que apresentou e que valeu o bronze:
? Já havia treinado bastante isso. A segunda passada, que é o elemento que eu coloquei novo, de valor F, um dos mais altos do código, chama bastante atenção. É bem difícil. Toda a vez que faço esse elemento tiro uma boa nota. Olimpíada é cabeça que conta. Treinado você já está.
A novidade estava na segunda passada da apresentação, com um duplo mortal com duas piruetas na posição carpada. Para Nory, a novidade foi decisiva.
? A novidade foi o que causou ali e chamou a atenção. E também o restante da série ? disse o atleta.
Albino afirmou que decidiu-se por trocar uma diagonal e aumentar o grau de dificuldade em três décimos no ponto de partida. Um treino decisivo ocorreu na sexta-feira, e ali se consolidou o que Nory apresentaria neste domingo.
? Tínhamos os elementos para fazer. Estudamos e fizemos o que melhor se encaixava na série? disse o treinador do ginasta.
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Nory não conseguiu acompanhar os desempenhos dos ginastas que se sucederam a ele. O atleta ficou agachado e com a cabeça escondida entre os braços. Ele explicou o que fazia naquele momento:
? Um filme passa na cabeça depois que você faz a série. Evitei olhar quem vinha depois de mim. Eu sabia que pela classificação mais três podiam me passar, e realmente três ginastas muito bons. Estava agradecendo muito e chorando, chorando, chorando, por tudo. Passou toda a história que eu tenho na ginástica. Depois que acabou eu só agradeci, a Deus, ao universo, ao meu técnico, por ter dado o meu máximo. Saí satisfeito, com um sorriso no rosto.
POLÊMICA COM COMPANHEIRO DE TIME
O pódio de Nory ocorre pouco mais de um ano depois de um episódio de racismo protagonizado pelo atleta. Num vídeo postado numa rede social em nome de Nory, ele e outros ginastas fazem piadas racistas com o colega de ginástica artística Ângelo Assumpção, que é negro.
“Seu celular quebrou: a tela quando funciona é branca. Quando ele estraga é de que cor? O saquinho do supermercado é branco e o do lixo? É preto!”, dizem os atletas no vídeo postado no Snapchat de Nory.
Ao ser questionado sobre o assunto, sobre como as críticas e a repercussão negativa do episódio influenciaram na preparação para a Olimpíada, Nory respondeu: ? Não quero falar sobre esse assunto agora.
Depois, o medalhista olímpico respondeu a uma pergunta sobre o comportamento racista no vídeo postado na rede social:
? Tem momentos na vida em que todo mundo comete um erro. Eu cometi realmente um erro. Mas realmente estou arrependido. Sofri muito e sofro até hoje. Nada de patrocínio. Foi realmente uma fatalidade. O perdão do meu amigo eu já tive, somos uma família. A gente amadurece com os erros. É aprender aquilo e nunca mais repetir, crescer como pessoa e dar o melhor como pessoa.
Albino também falou sobre o episódio:
? Se ele cometeu algum deslize, quem nunca cometeu na vida? Ele trabalhou, se esforçou demais, passou pelas dificuldades e está aí o resultado.