Dois meses depois de se tornar o primeiro brasileiro
campeão olímpico de boxe, Robson Conceição se prepara para os seus novos
desafios dentro e fora do ringue. Enquanto o ouro conquistado no Rio-2016, pode
ter sido a semente que ajudará a transformar o boxe da Bahia em um celeiro de
novos campeões, o pugilista de 27 anos entra na reta final de preparação para a
sua estreia no boxe profissional.
Desde que assinou contrato com a Top Rank, mesma
empresa que cuida da carreira de Esquiva Falcão, prata em Londres-2012, Robson
está treinando forte em Salvador, na Bahia, para a luta contra o seu primeiro
adversário na nova fase da carreira, no dia 5 de novembro, em Las Vegas. O rival
do baiano será o americano James Clayton Burns, mais conhecido como Clay Burns. A
previsão é que a luta tenha seis rounds.
Assim como Robson, Burns é um
novato no boxe profissional. Ele estreou na categoria em abril de 2015 e tem um
currículo modesto. Fez oito lutas com quatro vitórias, todas por nocaute, dois
empates e duas derrotas. Antes do boxe, Burns lutava MMA, categoria em que fez seis lutas,
com cinco vitórias e uma derrota.
? Ele é um atleta experiente, que vem para frente, sabe mover bem o tronco e
assimila bastante os golpes. Tem muito poder nas mãos, é resistente e busca a
luta. Estamos com um sparring com
as mesmas características dele para trabalhar os pontos vulneráveis do americano
? disse o técnico de Robson, Luiz Dórea, sem revelar os pontos fracos do
americano.
? Agora estamos trabalhando muito os treinos específicos de velocidade e em
cima dos fundamentos do adversário. Estas três semanas serão de preparação
tática para a luta ? completou.
VIAGEM PARA LAS VEGAS
Robson treinará na Bahia até o dia 29, quando viaja para Las Vegas para a
semana final de preparação antes da luta que será uma das preliminares do
retorno de Manny Pacquio aos ringues. O filipino de 37 anos voltará
da aposentadoria para enfrentar o americano Jessie Vargas, dez anos mais novo e atual campeão
dos meio-médios.
? Lutar em Las Vegas é como um novo sonho que vou viver ? disse o campeão
olímpico, que tem Pacquiao como
um ídolo e projeta conquistar o título mundial em até dois anos. ? Vou fazer de
tudo para alcançar o cinturão.
No chamado boxe amador, o baiano foi prata no Mundial de Almaty, no Cazaquistão, em 2013, e bronze no
Mundial de Doha, no
Qatar, em 2015. Seu contrato no boxe profissional é
de cinco anos. A expectativa é que ele faça seis lutas por ano. Dórea acredita
que o baiano pode ser campeão mundial em dois anos. O treinador descartou o
retorno do lutador ao boxe olímpico para defender o título em Tóquio-2020.
? Ele cumpriu a sua missão no boxe. Deixou um legado no boxe olímpico. É a
hora de buscar um título mundial no profissional.
Para o técnico, o pugilista não terá muita dificuldade na transição da
carreira, pois o estilo do campeão olímpico já era bem agressivo, uma
característica das categorias profissionais.
? Robson tem uma experiência grande, enfrentou os melhores do mundo. Ele já
tinha um boxe mais voltado para o profissional. Eu que fazia adaptações para o
boxe olímpico (nos treinos). Ele cresce durante os rounds. Acho que no máximo em
dois anos pode ser campeão mundial ? afirmou.
Robson Conceição ganha o ouro olímpico
PROJETO DE CT NA BAHIA
O técnico conta ainda que a metodologia de treino mudou um pouco em relação
ao que Robson costumava fazer.
? O boxe olímpico é muito difícil, pois você tem que preparar o atleta para
qualquer adversário. No profissional você prepara para o evento. Então, você
pode planificar o treino com mais facilidade, com sparrings separados e cumprindo etapas de
treinamento de acordo com a característica do seu adversário. Se ele é alto,
baixo, canhoto, destro… ? explicou. ? No olímpico é escola de combate todos os
dias (tipo de treino condicionado e trabalhado por partes com o sparring). No profissional é mais livre. Uma luta
mais livre.
Fora dos ringues, Robson se prepara para realizar outro sonho: trabalhar na
ajuda da formação de jovens atletas. Uma das consequências do ouro olímpico, foi
o apoio que o pugilista passou a receber do governo da Bahia para um projeto
social. Esse era um sonho que ele alimentava há algum tempo. Tanto que chegou a
comentar sobre ele logo após a vitória sobre o francês Sofiane Oumiha pelos
pesos ligeiro (até 60kg), ainda no Rio.
? Estou tendo apoio do governo do estado, que me proporcionou alguns projetos
sociais para dar a oportunidade a novos talentos em Salvador ? disse Robson, que
contou ter sido procurado pelo governo. ? Quando eu cheguei em Salvador tivemos
uma reunião e eles me convidaram para ser embaixador desse projeto.
Segundo Robson, a ideia é que crianças carentes tenham acesso a treinos
gratuitos de boxe, além de acompanhamento de médicos, nutricionistas e
fisioterapeutas. De acordo com o governo da Bahia, o projeto ainda está em fase
de estudo e promete ser ainda maior. O governo está em conversas com a Federação
Baiana de Boxe e atletas e treinadores do estado para a criação de um centro de
treinamento em Salvador, que também poderia receber competições.
? Estamos buscando o melhor projeto para que seja um CT que atenda as
características da cidade e as demandas do boxe baiano ? disse o coordenador de
esportes da Secretaria do Trabalho e Esporte da Bahia, Wilton Brandão.
A CUBA DO BRASIL
A Bahia é a Cuba do boxe brasileiro. Temos um material humano maravilhoso
Brandão explicou que o projeto do CT é antigo e já tinha sido apresentado ao
Ministério do Esporte. Mas a partir do ouro de Robson e após a mudança do
governo (o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff), o governador Rui Costa
decidiu que ele sairia do papel independentemente do apoio do governo federal.
Se ele não vier, o governo bancará o projeto sozinho. O CT pode ficar entre R$ 5
milhões e R$ 8 milhões e deve começar a ser construído em janeiro.
? Tudo vai depender do modelo. Se for para uma capacidade reduzida de público
e exibição, tende a ficar em torno de R$ 5 milhões. Se ele for ampliado, e
também comportar competições com um público maior, pode oscilar entre R$ 7
milhões e R$ 8 milhões. Por isso, estamos ouvindo as pessoas, discutindo a
viabilidade técnica, o custo da manutenção do equipamento esportivo, que é muito
caro ? disse Brandão. ? Mas o projeto vai sair. O governo baiano decidiu que vai
construir um CT. É um fato concreto.
Dórea vibrou com o projeto.
? A Bahia é a Cuba do boxe brasileiro. Temos um material humano maravilhoso.
Vamos formar muito mais Robsons e ter
mais campeões.