Ana Marcela Cunha, aos poucos, está voltando a sua vida normal. Nesta quarta-feira, a nadadora chega nos Emirados Árabes para a segunda etapa do Circuito Mundial de Maratonas Aquáticas, que acontece neste sábado. Ela está passando por uma longa jornada de recuperação que começou em outubro passado, quando a nadadora precisou retirar o baço.
A cirurgia foi longa, durou cinco horas, mas os 45 dias de repouso pós-operatório diagnosticado pelos médicos pareceram ainda mais longos para a nadadora que já foi campeã mundial nos 25km e se acostumou a gastar energias em distâncias grandiosas.
? Minha televisão quase pifou nesse período. Vi muito filme, série… Nunca tinha ficado tanto tempo longe da água, mas o susto que levei foi grande. Então, resolvi respeitar os médicos. Na verdade, o receio era tão grande que fiquei 46 dias de repouso só para garantir ? disse Ana Marcela Cunha, completando. ? Engordei 10kg nesse período. Mas já perdi 8kg. Diria que estou nos meus 80%.
Ana soube que teria que retirar o baço logo após os Jogos do Rio. A doença, entretanto, já havia sido diagnosticada desde o início do ano passado, quando ela terminou uma prova em Salvador passando mal e os exames revelaram que o número de plaquetas em seu sangue estava na metade do que seria considerado normal.
As suspeitas eram muitas ? algumas, aterrorizantes: aids, sífilis, leucemia. Até que Ana descobriu que estava com trombocitopênica idiopática, uma doença rara autoimune que ataca as plaquetas. Com ajuda de especialista e a liberação da Wada para tomar medicamentos à base de corticoides, ela competiu no Rio-2016.
Nas águas de Copacabana, ela terminou em 10º lugar. A família pensou que se tratava de uma nova estratégia quando viu Ana completar a primeira metade do circuito longe do pelotão da frente. Mas depois descobriram que Ana errou uma passagem para pegar sua nutrição e, sem forças, não conseguiu brigar na frente.
? Errei a passagem. A doença não me prejudicou no Rio-2016 nem segurei a cirurgia. Tanto é que levei um susto grande quando soube que teria que tirar o baço após os Jogos.
Em evento da Nissan, um de seus patrocinadores, em meados de fevereiro, Ana voltou ao Posto 6 de Copacabana pela primeira vez após a prova olímpica. Não ficou abalada pelo que viveu ali nos Jogos, quando chegou cotada para o pódio ? afinal, seu ciclo havia sido excelente com medalhas nos dois mundiais.
? Não sou de remoer o que passou. Estou com 24 anos, terei novas oportunidades de pódio olímpico. E não vou deixar escapar ? diz Ana, que tem suas referências. ? Gosto muito das histórias da Rafaela Silva e Diego Hypólito. A Rafaela sofreu racismo, foi muito criticada e, depois, ganhou o ouro na frente de todo mundo. O Diego caiu de bunda, de cara… E foi prata aqui no Rio.
Ana voltou a competir no início de fevereiro. Terminou em quinto lugar na etapa argentina da Copa do Mundo. Na ocasião, a medalhista de bronze no Rio-2016 Poliana Okimoto, que também compete em Abu Dhabi, foi prata. A outra brasileira na disputa é Betina.