RIO ? A Alemanha não ficou imune às dificuldades para conseguir que clubes liberassem jogadores para os Jogos Olímpicos. Tanto que, horas antes da convocação, adiou a divulgação da lista. Como explicar, então, que, num torneio cheio de times formados à última hora, os alemães tenham exibido no Rio-2016 uma equipe que, perda de qualidade à parte, conserva o jogo coletivo e o estilo de troca de passes e controles das partidas característicos da seleção principal? A explicação está numa filosofia de jogo inegociável, que virou pilar do futebol no país. Podem mudar os nomes, não o estilo.
A falta de tempo para treinar, comum a todas as seleções, poderia vitimar a proposta alemã. Não é o melhor time que o país poderia formar, mesmo com a limitação de idade olímpica, clubes não liberaram jogadores. No entanto, a filosofia de jogo unificada desde a base garante uma linha mestra.
? Sabemos de que forma somos fortes e não vamos mudar. Não tivemos muito tempo, mas a filosofia de jogo alemã está enraizada. E conheço quase todos estes jogadores desde os 15, 16 anos ? afirmou o técnico Horst Hrubesch, ex-atacante da seleção. ? Há uma filosofia implantada e que tem sido mantida. Precisávamos de um pouco de tempo, claro. Neste ponto, sabíamos que era importante passar pela primeira fase, para que o time ganhasse mais conjunto e forma física.
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Hrubesch chegou à federação alemã para trabalhar nas categorias menores há 16 anos. Nos últimos três, iniciou o trabalho com a equipe sub-21, tendo como alvos o campeonato europeu da categoria e os Jogos Olímpicos, torneio para o qual a Alemanha não se classificava desde Seul-1988.
Não é só ele. Os jogadores também têm raízes nas divisões de base. Todos os onze titulares passaram por, pelo menos, três categorias diferentes da equipe nacional, o que ajuda a automatizar o modelo de futebol adotado.
? Eu fui lá conhecer a metodologia. Mais do que conhecer o time atual, conheço o modelo de jogo, que é o mesmo desde a base. Os treinadores seguem os passos um do outro, para que se tenha uma continuidade. Os jogadores chegam maturados na seleção principal, conhecem o processo ? alertou o técnico do Brasil, Rogério Micale.
Mesmo assim, houve uma perda técnica em relação ao que a Alemanha planejava trazer ao Brasil. Jogadores sub-23 como Sané, recém-contratado pelo Manchester City, além de Kimmich, do Bayern de Munique, de Weigl, do Borussia Dortmund, e de Emre Can, do Liverpool, não foram liberados pelos clubes. Hrubesch precisou mesclar remanescentes do time que se classificou para a Olimpíada por ter sido semifinalista da Euro Sub-21 de 2015, campanha encerrada com uma goleada imposta por Portugal por 5 a 0, com integrantes do atual time sub-21. Além de jogadores que não estavam nos planos iniciais.
? Nosso sonho, desde o primeiro dia que assumi, era estar aqui. Eram 28 anos sem uma Olimpíada. O que pode ser melhor do que estar aqui, na final, no Maracanã? ? diz Hrubesch.
Impossível comparar qualidade e experiência, mas é possível encontrar traços da seleção da Copa do Mundo de 2014. O jogo se apoia no passe como forma de tentar quebrar defesas rivais, na falta de jogadores de desequilíbrio individual. Busca-se mais competência técnica e inteligência do que fantasia. O jogo é voltado para o ataque, tanto que a Alemanha, além de ter o ataque mais positivo, com 21 gols, é também o time que mais finalizou na Olimpíada: foram 96 chutes, cotra 94 do Brasil. Deles, os alemães acertaram 48 vezes o gol rival, contra 39 do Brasil. Vão decidir a medalha de ouro as duas equipes mais ofensivas.
TÉCNICO DESAFIADOR
Jogando num 4-2-3-1, a construção do jogo começa com os volantes, os irmãos Lars e Sven Bender, jogadores do Bayer Leverkusen e do Borussia Dortmund, respectivamente, ambos de 27 anos. Na linha de três meias e atacantes, destaca-se Julian Brandt, autor de seis passes para gol na Olimpíada. Todas as medalhas do Brasil na Rio-2016
São da Alemanha, ainda, os dois principais artilheiros da competição: Gnabry, jogador do Arsenal, e Nils Petersen, do Freiburg, este último de 27 anos, o terceiro dos jogadores convocados acima da idade olímpica e uma surpresa na lista. Todos os números, é claro, são um tanto turbinados por ter tido Fiji como um dos rivais na primeira fase: vitória fácil por 10 a 0.
Perguntado sobre como parar Neymar, Hrubesch não mede palavras.
? Não vou jogar contra Neymar, mas contra o Brasil. Devo me preocupar com o time todo. Mas, se você me faz esta pergunta, devo perguntar de volta: como vão parar os nossos atacantes? Eles fizeram 21 gols, vocês deveriam pensar sobre isso ? afirmou.