“Sou do Congo e me tornei PhD nos EUA em 1979. Meu primeiro emprego foi na
Jamaica, onde conheci o reggae, o rastafari e as línguas crioulas. Sou professor
da Universidade de Chicago e estudo o Gullah, dialeto crioulo. Sou atento à
evolução da linguagem, globalização e colonização.”
Conte algo que não sei.
A maioria das línguas crioulas surgiram nas Ilhas do Caribe, Índia e na
região norte da América do Sul. Elas são o resultado do contato das línguas
européias com as africanas, em situações onde os escravos se tornaram a maioria
da população da colônia e havia segregação. Essas línguas poderiam ser
consideradas novos dialetos de línguas europeias, mas as pessoas preferem
identificá-las como crioulas.
Por que de línguas europeias e não africanas?
No Caribe há muita influência linguística africana, sim. No entanto, essa
influência ocorre mais em termos de selecionar quais aspectos da língua europeia
foram mantidos ao invés da introdução simplesmente de estruturas linguísticas
africanas. O que está no vocabulário deles com origens na África é limitado. Na
gramática, acho que as línguas crioulas conservam mais o francês e o inglês dos
séculos 17 e 18 do que preservam estruturas africanas.
No Brasil tivemos grande população de escravos, mas não foram
desenvolvidos novos dialetos. Por quê?
A estrutura populacional na época do Brasil colônia não
era como a do Caribe. Lá, os escravos se tornaram imensa maioria, cerca de 80%
da população. No Brasil, os africanos eram bem menos. Além disso, os escravos e
os serviçais brancos viviam juntos. Já na Índia e no Caribe, eles não tinham
contato. É por isso que no Brasil os descendentes dos africanos e os outros
brasileiros falam o mesmo tipo de português.
Você estuda ?linguística ecológica?. Como é a relação entre
biologia e linguística?
Na linguística ecológica é utilizado o método biológico
da evolução para explicar o desenvolvimento da língua, usando o senso de que a
evolução é baseada na variação e transmissão de diferenças. Como ser humano,
você herdou os genes dos seus pais, mas os genes que se tornam dominantes em
você são uma peculiaridade sua. Em linguagem, você também está exposto a uma
série de variações que vêm de falantes diferentes. O método ecológico faz ser
possível que você examine as configurações de contato.
A tendência é que mais variações de línguas existam com o tempo,
não o contrário?
Sim. No mundo conectado, existem algumas línguas que se espalham. Ao mesmo
tempo, elas se tornam diferentes. Quando você vai à Tóquio, as pessoas falam
contigo em inglês, mas com pronúncia diferente. Se você acha alguma comida
brasileira, ela foi adaptada para a cultura local, assim como o sushi não é
igual ao que você come no Brasil. A globalização está nos deixando cada vez mais
interconectados, mas não está mudando as diferenças entre nós.
Colonização e perda de cultura não são problemas?
Onde quer que você esteja, há uma celebração católica.
Mas os rituais em Roma, no México, no Brasil e nas Filipinas são muito
diferentes. Em cada lugar, as cerimônias católicas foram adaptadas com o uso de
algum elemento local. É assim que você testa a globalização. Existem poucas
coisas que captam a globalização como a fé católica, ela se tornou quase
universal. No entanto, ela também é muito diferente de um lugar para o outro. A
globalização não mantém nada intacto, não faz o mundo uniforme. Na superfície,
as coisas se parecem, mas quando você olha com mais precisão, não é bem
assim.