RODOVIAS DO PARANÁ

“O que a gente temia, aconteceu”, diz setor produtivo após leilão

Rodovias do Paraná
Conheça os desafios enfrentados pela região do Oeste do Paraná com a concessão do Lote 6 das Rodovias Integradas do Paraná e o retorno do pedágio

Paraná - No Oeste do Paraná, o eco do progresso ganhou um tom amargo. O que poderia ser um alívio para a logística, poderá ser empecilho. A iminente volta do pedágio, com pesadas tarifas, reacende temores antigos da população. Historicamente impactada por tarifas elevadas e falta de investimentos no antigo Anel de Integração, a região enfrenta mais um desafio com o resultado do leilão do Lote 6 das Rodovias Integradas do Paraná. O leilão da concessão realizado ontem (19), na B3, Bolsa de Valores de São Paulo, foi vencida pela concessionária EPR, que apresentou um deságio de apenas 0,08% — um desconto praticamente nulo.

O resultado disparou um alerta na região, especialmente no setor produtivo. O vice-presidente do POD (Programa Oeste em Desenvolvimento), Alci Rotta Junior expressa a preocupação com os impactos econômicos e logísticos que a nova concessão pode trazer. “É o que a gente mais temia, aconteceu! Um leilão sem concorrência e preços inteiros, praticamente sem desconto. O Lote 6 é muito importante para a região, nossa principal fonte de escoamento de produção”, destacou Rotta.

Sem concorrência

O Lote 6 cobre 662,1 km de rodovias no Oeste e Sudoeste do Paraná, incluindo trechos estratégicos como a BR-163 e a BR-277. No entanto, a falta de concorrência no leilão resultou em uma proposta com deságio irrisório, semelhante ao apresentado pela EPR no Lote 2, que também teve apenas 0,08% de desconto.

Essa diferença de competitividade ficou evidente no recente leilão do Lote 3, vencido pela CCR, que ofereceu um deságio de 26,60%. Enquanto no Lote 3 os usuários pagarão cerca de R$ 10,00 por 100 km, no Lote 6, a estimativa é de R$ 17,00 pela mesma distância. “O Lote 3, a cada 100 quilômetros, o usuário vai pagar R$10,00. Aqui no nosso Lote 6 a cada 100 quilômetros, a mesma distância, vamos pagar R$17,00”, explica o dirigente.

Rotta Junior reforça que o impacto será sentido diretamente pelos usuários e também pelos empresários. “A nossa preocupação sempre foi e sempre será a competitividade das nossas empresas. O que ficou muito claro é que alguns lotes são muito mais atrativos e o lote 6, por exemplo, não gerou interesse de outras empresas e desse modo não tivemos desconto”, avalia.

O contrato do Lote 6 prevê R$ 12,67 bilhões em obras estruturantes e R$ 7,44 bilhões em manutenção durante os 30 anos de concessão. Entre as melhorias, estão a duplicação de 462,5 km de rodovias, construção de contornos e passarelas, além de pontos de parada para motoristas. Ainda assim, para Rotta, o peso no bolso do usuário é excessivo.

No entanto, segundo ele, as obras previstas no projeto deverão sair do papel, diferente das antigas concessões. “Eu não tenho dúvidas que a empresa vai concluir as obras, até porque ela vai ser remunerada para isso, as tarifas são integrais ao custo do bolso do usuário, inclusive garantindo o TIR (Taca Interna de Retorno), que é uma segurança jurídica e que consta em contrato.”

Competitividade ameaçada

De acordo com Rotta, a maior preocupação é por conta dos altos valores logísticos, ou seja, cada quilômetro pago no Oeste carrega também o peso de uma competitividade ameaçada.

“Nossa preocupação é a manutenção das empresas geração de emprego e também a atração de novos investidores. O que a gente teme também é que outras regiões em função de condições de custos de logística para serem melhores, acabar se beneficiando da instalação de novas empresas.”

Foz- Curitiba

De acordo com um levantamento realizado pela reportagem, quem viajar de Foz do Iguaçu até Curitiba em um automóvel de passeio, enfrentará custos de aproximadamente R$ 120,00. No percurso de aproximadamente 630 quilômetros, o motorista pagará pedágio em nove praças distribuídas entre os Lotes 6 e 1.

O custo total da viagem será de R$ 120,85, conforme os valores atuais: Lote 6: São Miguel do Iguaçu (R$ 15,73), Céu Azul (R$ 13,69), Cascavel (R$ 13,60), Laranjeiras do Sul (R$ 13,73), Candói (R$ 14,51) e Prudentópolis (R$ 15,07). Total: R$ 86,33. Lote 1: São Luiz do Purunã (R$ 8,70), Porto Amazonas (R$ 10,90) e Irati (R$ 10,92). Total: R$ 34,52.

“30% de desconto”, diz governo

O governador Ratinho Junior argumentou que o Lote 6 contempla o maior pacote de investimentos de todos os lotes da nova concessão. “Este é o trecho com o maior volume de obras de todos os seis lotes do pacote de concessões rodoviárias do Paraná. Isso significa que vamos promover um dos maiores investimentos em infraestrutura da América Latina no Oeste e o Sudoeste paranaense, levando mais segurança viária e produtividade para o Estado”, afirmou o governador Ratinho Junior.

De acordo com o governo, além das obras, a concessão garante uma redução nas tarifas de pedágio em relação ao contrato anterior. A tarifa arrematada pela vencedora do leilão é cerca de 30% mais baixo do que as antigas tarifas praticadas nos trechos, se ainda estivessem vigentes, que eram de cerca de R$ 0,26 por quilômetro rodado.

Na praça de pedágio de São Miguel do Iguaçu, o desconto comparado com a antiga tarifa reajustada a valores atuais chega a 38,3%. Nas praças de Laranjeiras do Sul e de Cascavel, os descontos nas mesmas comparações são de mais de 34%, o que garante um valor mais justo aos motoristas que usam as rodovias da região.