CASCAVEL

Importação de tilápia vai colocar em risco sanidade e economia da cadeia produtiva

Saiba por que a tilápia é uma ótima escolha para uma alimentação saudável. Descubra os benefícios desse peixe e a produção no Paraná - Foto: Jonathan Campos / AEN
Saiba por que a tilápia é uma ótima escolha para uma alimentação saudável. Descubra os benefícios desse peixe e a produção no Paraná - Foto: Jonathan Campos / AEN

Cascavel - Comer carne de peixe é um dos hábitos alimentares mais saudáveis que se pode adicionar à rotina. E o Paraná é o maior produtor de tilápias do Brasil, responsável por 40% da produção nacional do peixe. E muito desta produção se deve à região Oeste. De acordo com números referentes a outubro do ano passado, o Oeste responde por 85% da produção paranaense, ou seja, são 180 mil toneladas todos os anos, conforme dados fornecidos pela Associação Brasileira de Piscicultura e do Sebrae/PR.

Em 2024, o Brasil exportou 53,8 mil toneladas de pescados, gerando uma arrecadação de US$ 272,9 milhões. Somente de tilápia, foram 10,9 mil toneladas, 7,6 mil toneladas somente do Paraná. Por isso mesmo, produtores paranaenses de tilápia estão defendendo medidas protecionistas para resguardar a produção e sua qualidade.

Diante da relevância dessa cadeia produtiva para o Brasil, a FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), juntamente com outras entidades representativas, formularam um documento reivindicando ao governador do Paraná, Ratinho Junior, uma intervenção para barrar a eventual importação da tilápia. O objetivo principal é o de proteger os produtores do Paraná de uma provável concorrência desleal.

As principais autoridades do setor produtivo do Paraná assinam o documento, entre os quais o presidente interino da FAEP, Ágide Eduardo Meneguette; o secretário estadual da Agricultura e Abastecimento, Natalino Avance de Souza; o diretor-presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná, Otamir Cesar Martins; presidente da Ocepar, José Roberto Ricken e presidente da FIEP, Edson Vasconcelos.

A aquicultura é uma atividade de avanço contínuo e desempenha um papel primordial para a geração de renda e empregos, principalmente nas pequenas propriedades rurais. O documento apresentado ao governador enfatiza que a cadeia necessita de apoio comercial e proteção sanitária para que seu potencial seja desenvolvido em sua plenitude.

Na ótica do presidente interino da FAEP, Ágide Eduardo Meneguette, essa entrada de filés de tilápia no Brasil seria prejudicial para o setor no Paraná, que atravessa um momento favorável à expansão. Os riscos sanitários atribuídos à importação também são uma preocupação iminente.

Risco à sanidade

O grande receio é com a Tilápia Lake Virus. Ela pode provocar elevada mortandade aos peixes de cultivo, gerando prejuízos significativos aos produtores. A falta de um plano de contingência específico para a TILV no Brasil, bem como outras doenças, tende a resultar em sérios impactos sociais, econômicos e sanitários, na avaliação de Ágide Eduardo Meneguette.

Em entrevista concedida ontem à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o presidente do Sindicato Rural de Palotina e longevo produtor de tilápias, Edmilson Zabot, disse que a importação de tilápias do Vietnã e de outros países coloca em risco a sanidade e a economia da cadeia produtiva do peixe no Estado. “Um quilo de filé de peixe proveniente do Vietnã, por exemplo, pode chegar ao Brasil entre US$ 0,03 a US$ 0,04. Em contrapartida, um quilo de filé de peixe produzido no Brasil, com elevada qualidade, não sai pelo menos de R$ 32. Ou seja, vai gerar uma concorrência desleal e provocar um desestímulo geral no setor”, descreve Zabot. Ele aponta outro agravante: a tilápia proveniente de fora vai se misturar com a brasileira nas gôndolas do supermercado e essa falta de qualidade pode comprometer e gerar reflexos no peixe produzido no Brasil.

Toda essa mobilização em torno do assunto ganhou corpo a partir de uma iniciativa do próprio Edmilson Zabot, membro do Comitê de Aquicultura da FAEP. “Estivem em Curitiba no fim do ano passada e participei de audiências na FAEP, Adapar e com o ex-secretário de Agricultura, Norberto Ortigara, pedindo apoio para uma intervenção urgente nessa medida de importação”. Zabot se reuniu também com o superintendente do Ministério da Pesca no Paraná, João Geraldo Barros.

“Hoje, o Paraná conta com as duas maiores plantas frigoríficas para o abate de tilápias, responsáveis por dominar o mercado norte-americano, extremamente exigente. Conseguimos entregar peixe fresco, dentro dos preceitos de biossegurança”, comenta Zabot. Segundo ele, o produtor não tem capital próprio para investir e depende de financiamentos para garantir o mínimo de estrutura necessária para dar vazão à atividade. “O produtor não está estruturado financeiramente para fazer frente a uma tilápia que vem de fora a um preço muito abaixo do praticado no mercado doméstico”.

Números da piscicultra

A piscicultura garante a geração de ao menos 10 mil empregos no Estado. Somente em Palotina, são 600 hectares de lâmina d´água e o mesmo montante na área de abrangência da Copacol, segundo o presidente do Sindicato Rural de Palotina. O faturamento em 2024 foi de R$ 2 bilhões do produto in natura, somado a R$ 1,5 bilhão em ração.

Em dezembro de 2023, o Brasil importou 25 mil quilos de tilápia do Vietnã, provocando reações imediatas do setor produtivo, repudiando a aquisição dos produtos importados.