SÃO PAULO. A Associação Brasileira da Proteína Animal (ABPA) e a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec) criticaram nesta segunda-feira a forma como a Polícia Federal levou a público a ?Operação Carne é Fraca?, deflagrada na última sexta-feira. Os presidentes da Abpa, Francisco Sérgio Turra, e da Abiec, Antônio Jorge Camardelli, atacaram a precipitação da divulgação da ação pela PF, que propiciou a “avaliação e julgamento de situações que ainda não foram investigadas”. Os dirigentes garantiram que, se há algum problema na cadeia da carne brasileira, ele é “pontual”, e defenderam que os “possíveis criminosos sejam punidos”.
? Há uma situação sendo generalizada. Agora é a hora de separar o joio do trigo. O que não queremos é que todos sofram com essa imagem negativa que foi criada ? reforçou Camardelli.
Sobre medidas já adotadas pelos países importadores de carne do Brasil, os executivos citaram a decisão da China de suspender as operações de recebimento de containeres de carne brasileira até que o governo explique formalmente o que ocorreu, o pedido de explicações da União Europeia, e o aumento dos volumes testados pela Coreia do Norte, de 1% para 15% dos produtos antes de entrar no país.
Em contrapartida, para evitar desdobramentos maiores, eles confirmaram que o Ministério da Agricultura suspendeu a atividade de quatro plantas exportadoras à União Europeia, entre as quais uma é produtora de carne bovina, duas de aves e uma de equinos.
No total, segundo a Abiec e a Abpa, há seis plantas com as atividades suspensas no país ? as quatro citadas e outras duas de carne suína (as do frigorífico Pecim, citado no documento da Justiça como a unidade que adicionava carne de cabeça de porco na linguiça).
Perguntados sobre fatos específicos que constam nos documentos da Justiça, que autorizou o início da operação, como por exemplo a adição de carne de cabeça de porco à linguiça, que é citada em diálogo interceptado entre diretores do frigorífico paranaense Pecim, eles rechaçaram a atitude, ponderando que ela deve ser investigada. E se disserem impedidos de maiores comentários uma vez que o Pecim não é associado à Abpa nem a Abiec.
Os dirigentes da indústria da carne também criticaram duramente outras acusações da PF, como a de que o ácido ascórbico é um produto cancerígeno.
? Ácido ascórbico é vitamina C. Quem toma suco de laranja consome bastante essa substância ? disse Turra, da Abpa.
Duras críticas também foram feitas às alusões de que a JBS incluíra papelão na carne. A própria empresa foi a público dizer que o funcionário se referia ao papelão da embalagem e não à adição do item na produção do produto.
? Isso é um absurdo. Quem disse isso não tem noção nem do custo do papelão, que é mais alto que o de farinha.
O esforço de reconstrução da credibilidade da indústria nacional inclui, segundo eles, o convite a jornalistas internacionais para conhecerem as plantas brasileiras de produção de carne. Apesar da preocupação dos executivos, os representantes das entidades admitem que é difícil que o Brasil tenha mercados externos roubados, primeiro pela alta capacidade produtiva nacional e também pela pouca competitividade de outros países.
? Na Europa o maior produtor de carne bovina são os irlandeses. Eles podem conseguir um pedaço do mercado europeu. Em frango, nossos principais competidores são os EUA e o Canadá, mas ainda assim não têm potencial para produzir tanto quanto nós ? disse Rui Vargas, diretor técnico da Abpa.