RIO ? Uma equipe de pesquisadores liderada pela Universidade Duke, nos EUA, publicou nesta quarta-feira dois estudos que abrem caminho para a criação de uma vacina contra o HIV. Um deles descreve o modo como se desenvolvem os anticorpos naturais presentes em algumas pessoas Aids capazes de proteger o corpo contra o vírus ? algo extremamente raro. E a segunda pesquisa apresenta uma imitação sintética de membrana externa de HIV que tem o potencial, segundo os cientistas, de induzir esses anticorpos. Ambos os estudos foram publicados na revista “Science Translational Medicine”.
? Um dos objetivos de uma vacina de HIV é induzir anticorpos amplamente neutralizantes ? diz o autor sênior Barton F. Haynes, diretor do Instituto de Vacinas Humanas de Duke. ? Uma estratégia para a indução desses anticorpos é encontrar uma maneira de desenvolver uma pequena porção da estrutura da membrana que eles reconhecem, algo que agora mostramos ser possível.
Haynes e seus colegas traçaram uma série de eventos que, ao longo de cinco anos, levaram ao desenvolvimento desses anticorpos neutralizantes em uma pessoa infectada pelo vírus HIV. Eles descobriram que o sistema imunológico dessa pessoa respondeu ao vírus com esforços incomuns e cooperativos entre diferentes linhagens de células para induzir anticorpos neutralizantes.
No segundo estudo, a equipe de Duke juntamente com um grupo de pesquisadores do Centro Memorial de Câncer Sloan Kettering fizeram uso do “rastro” deixado pelo desenvolvimento desses anticorpos para, a partir dessas informações, construir uma molécula sintética que imitasse a parte do HIV que é considerada “alvo” pelo corpo durante a infecção. Eles também testaram se a molécula poderia induzir anticorpos semelhantes na vacinação de um primata não humano.
A molécula sintética imita uma região precisa do vírus à qual certos anticorpos amplamente neutralizantes se ligam para gerar um ataque imunológico.
MELHOR DO QUE REAÇÃO NATURAL
Os pesquisadores relataram que o imitador sintético induziu anticorpos direcionados para o local muito mais rapidamente do que o observado na pessoa original infectada pelo HIV.
? Sabemos que há um “calcanhar de Aquiles” na membrana do vírus, que é atacada pelo tipo certo de anticorpos ? afirma Haynes. ? Não há apenas um ponto na membrana, mas vários, e uma vacina eficaz precisaria apontar para mais de um desses pontos para garantir que o sistema imunológico esteja equipado com as armas necessárias para combater o vírus e todas as suas mutações.
Segundo Haynes, os dois estudos se apoiam no conceito de projetar candidatas a vacinas contra o HIV que imitam áreas críticas do vírus, fazendo o corpo “pensar” que se trata realmente de HIV e tentar produzir anticorpos para neutralizá-lo. O pesquisador destaca que o objetivo é combinar todos os múltiplos componentes do HIV que induzem os anticorpos protetores em uma vacina que poderia ser testada em seres humanos.