Reportagem: Cláudia Neis
Curitiba – Depois da maior epidemia de dengue da história, as autoridades de saúde do Paraná já preveem a possibilidade de o cenário se repetir. “Se você observar os ciclos da dengue no Paraná e no Brasil, pode ver que, quando registramos uma epidemia, há grande chance de termos outras por dois ou três anos, elas são cíclicas. Então, é de se esperar que os números continuem altos, talvez não com a mesma intensidade do último ciclo epidemiológico, mas uma nova epidemia pode, sim, ocorrer”, afirma a coordenadora da Vigilância Ambiental da Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), Ivana Lucia Belmonte.
“Temos dois fatores que preocupam: por conta da pandemia da covid-19, a orientação do Ministério da Saúde é que os agentes de endemias não entrem nas casas e só façam a orientação dos moradores para a eliminação dos criadouros nas áreas externas. Nossa preocupação é com a redução significativa dessas visitas para a remoção dos criadouros. Aliado a isso, ainda temos a previsão do aumento de períodos chuvosos no Estado. É importante que as chuvas retornem por causa da estiagem, mas é o momento de redobrar os cuidados com água parada que pode se tornar criadouros do mosquito”, ressalta Ivana, que apela: “Diante desse cenário, é de fundamental importância que as pessoas cuidem de suas casas e seus quintais para evitar que o mosquito se prolifere. Que as pessoas aproveitem esse período em que estão mais em casa para cuidar dos espaços e mantê-los limpos”.
Sorotipos
A circulação do sorotipo DENV2, que cresceu no Estado a partir do início de 2020, também corrobora para o risco de epidemias sucessivas. Foram processadas 11.594 amostras para vigilância epidemiológica da circulação viral dos quatro sorotipos e em 79,7% das amostras positivas para dengue foi encontrado DENV2, caracterizando sua predominância no Estado. “Sempre que há alteração do sorotipo viral uma parte maior da população fica suscetível a esse novo sorotipo, pois quem tem a doença fica imune ao sorotipo específico”, reforça Ivana.
O ciclo epidemiológico 2019/2020 de monitoramento da dengue terminou em julho com 227.724 casos e 177 mortes confirmadas no Paraná, com 22 mil exames em investigação.
Inseticida não chegou às cidades
Diante do cenário apavorante da dengue na maior parte das cidades paranaenses, já que 244 das 399 entraram em epidemia e 31 em alerta, muitos prefeitos requisitaram a aplicação do fumacê. A maior parte deles não foi atendida.
A troca do fabricante do inseticida causou atraso na distribuição da substância pelo Ministério da Saúde aos estados. Com isso, segundo a Sesa, quando o inseticida finalmente chegou, alguns municípios já tinham conseguido controlar a epidemia e cancelaram as solicitações.
De janeiro a junho de 2020, a Sesa recebeu 156 solicitações de liberação de uso de UBV pesado. Apenas na Macrorregional Oeste, que engloba as Regionais de Saúde de Cascavel, Toledo, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão e Pato Branco, foram feitas 45 solicitações. Devido à demora, apenas 26 fizeram uso da UBV pesada.
Contudo, a coordenadora da Vigilância Ambiental da Sesa, Ivana Lucia Belmonte, ressalta que o fumacê/inseticida não é a solução para o problema: “O inseticida não é a solução para o controle da dengue, pois ele elimina a população [de mosquitos] que está voando no momento da aplicação. Ou seja, reduz momentaneamente o número de mosquitos, mas, se os criadouros não forem eliminados, o problema continua”.
A Sesa recebeu neste ano 40 mil litros do inseticida Cielo, utilizado no fumacê. Ivana garante que existe produto em estoque e não acredita em novos atrasos e faltas.