DESEMPREGO

‘Fantasma do tarifaço’ já afeta o Paraná e Ratinho Jr cobra Lula

‘Fantasma do tarifaço’ já afeta o Paraná e Ratinho Jr cobra Lula

O fantasma do tarifaço prometido pelo presidente Donald Trump a partir de 1º de agosto, continua assombrando os setores produtivos do Paraná, em especial o madeireiro.

A empresa Sudati, especializada na produção de compensados de madeira, anunciou que irá desligar cerca de 100 funcionários das unidades instaladas em Ventania e Telêmaco Borba, nos Campos Gerais do Paraná. O motivo apontado é o impacto da nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, que será adotada pelos Estados Unidos a partir de 1º de agosto.

A decisão foi tomada poucos dias após o anúncio oficial feito pelo presidente Donald Trump, no último dia 9 de julho, e reflete a apreensão do setor diante da perda de competitividade em um dos seus principais mercados. Os painéis compensados, fabricados pelas unidades paranaenses da Sudati, são compostos por lâminas finas de madeira sobrepostas e coladas, amplamente utilizados na construção civil e na indústria moveleira norte-americana.

De acordo com a empresa, o processo de demissão será gradual, com duração prevista de 60 dias. Os colaboradores impactados estão sendo informados de forma individual, conforme a assessoria de imprensa da Sudati. A medida busca minimizar o impacto social da reestruturação, ainda que represente um golpe significativo para a economia regional.

Com grande parte da sua produção voltada para o mercado externo, a empresa agora enfrenta o desafio de adaptar sua estratégia diante das novas barreiras comerciais. O episódio reacende o debate sobre os riscos de dependência de mercados externos e os efeitos de decisões unilaterais nas cadeias produtivas locais. Para o setor madeireiro paranaense, a expectativa é de que medidas diplomáticas ou negociações comerciais possam reverter ou atenuar os impactos dessa tarifa antes que seus efeitos se aprofundem.

Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente, a maioria dos contratos estão sendo cancelados pelos importadores norte-americanos e muitos embarques foram suspensos. Para piorar a situação, atualmente, o setor possui, aproximadamente, 1.400 contêineres com produtos já embarcados e em trânsito marítimo para os Estados Unidos. Além disso, em torno de 1.100 contêineres estão posicionados em terminais portuários aguardando embarque.

Protagonismo paranaense

O Paraná ocupa o status de protagonista do setor florestal brasileiro, com forte atuação no comércio internacional. Segundo dados da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal, o Estado tem se destacado especialmente nas exportações de produtos madeireiros para os Estados Unidos, ampliando sua presença em um dos mercados mais exigentes do mundo.

Com uma cadeia produtiva diversificada e tecnificada, o setor florestal paranaense movimenta significativamente a economia estadual. Estima-se que aproximadamente 400 mil postos de trabalho — diretos e indiretos — sejam mantidos em todo o território estadual, abrangendo desde atividades no campo, como o manejo das florestas plantadas, até a transformação industrial da madeira.

Ao longo de 2024, o Paraná exportou mais de 627 milhões de dólares em produtos derivados da floresta, conforme levantamento da Apre. Entre os itens de maior relevância estão molduras de madeira, como as produzidas pela empresa BrasPine, compensados, madeira serrada e distintos tipos de celulose. Esses produtos são amplamente utilizados pelas indústrias da construção civil, móveis, embalagens e papel nos mercados compradores.

O desempenho robusto nas exportações reflete a competitividade do setor no Estado, que alia produtividade, sustentabilidade e tecnologia no manejo das florestas plantadas, majoritariamente de pinus e eucalipto. Além disso, o compromisso com práticas ambientais responsáveis tem sido um diferencial do Paraná frente à crescente demanda internacional por produtos sustentáveis.

A força da indústria florestal paranaense não apenas gera divisas para o Brasil, como também contribui para o desenvolvimento regional, especialmente em municípios do interior do estado onde a base econômica está diretamente ligada ao cultivo de florestas e à atividade industrial madeireira. O setor se mantém como um dos pilares da economia verde, com capacidade de expansão contínua nos próximos anos.

Ratinho Jr cobra Lula

O governador Ratinho Junior (PSD) fez duras críticas à inércia do governo federal diante das tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump, que devem entrar em vigor na próxima semana e afetar diretamente setores estratégicos da economia brasileira, como o agronegócio e a indústria. Durante almoço com empresários na Associação Comercial do Rio de Janeiro, sexta-feira (25), o governador defendeu uma atuação mais firme e urgente do Itamaraty.

“Já se passaram 15 dias e a gente não viu nenhum brasileiro pisar nos Estados Unidos para tentar sentar na mesa e fazer essa construção comercial. Eu torço para que o governo federal mande um chanceler para os Estados Unidos o quanto antes”, afirmou o governador, diante de um público que incluía o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD). “O momento agora é de tirar a política e colocar a diplomacia na mesa. E o histórico da diplomacia brasileira é um histórico vencedor”, acrescentou.

Segundo ele, não é com vídeos na internet ou declarações públicas que se resolve uma crise comercial dessa magnitude. “Não é fazendo brincadeira que vai solucionar esse problema, que é sério. O Brasil sempre foi respeitado internacionalmente pela sua capacidade diplomática. Está na hora de resgatar esse papel”, criticou.

Estados como Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás, com forte dependência das exportações agrícolas e industriais, estão entre os mais atingidos.

Plano de proteção

Além da cobrança por ação diplomática, Ratinho Jr anunciou que o Governo do Paraná trabalha em um plano de contingência para proteger a economia estadual dos impactos causados pelas tarifas. Segundo ele, técnicos do governo estadual passaram a semana reunidos com representantes dos setores afetados para receber demandas e propor soluções.

“A ideia é que possamos apresentar nos próximos dias um conjunto de medidas que ajude a compensar as perdas e a manter a competitividade das nossas cadeias produtivas”, afirmou, completando que “não podemos esperar por uma solução que venha apenas de Brasília. Temos que agir aqui também, no que estiver ao nosso alcance, para proteger os empregos e a renda dos paranaenses”.

Destaque nacional

A atuação proativa de Ratinho Jr em questões nacionais alimenta especulações sobre sua eventual candidatura à Presidência da República em 2026. Com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro e o avanço das investigações no Supremo Tribunal Federal contra o ex-presidente, lideranças de centro-direita buscam nomes viáveis para disputar o Planalto. Nesse contexto, o governador paranaense tem sido citado como uma alternativa moderada, com discurso liberal na economia e foco em gestão.

Durante o evento no Rio de Janeiro, Ratinho Jr também apresentou os avanços do Paraná em áreas estratégicas como infraestrutura, desenvolvimento urbano e ambiente de negócios. Ele participou do painel “A experiência do Paraná em inovação e melhoria do ambiente de negócios”, voltado a lideranças empresariais e gestores públicos.