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Sete lugares do mundo para ver ruas e murais de grafite

Da Jamaica a França, do Brasil a Medellín, arte urbana é um dos atrativos turísticos das cidades mundiais

Sete lugares do mundo para ver ruas e murais de grafite

Paris tem a Torre Eiffel, a catedral de Notre Dame e o museu do Louvre, mas diante de tantas opções excessivamente turísticas, há quem possa querer conhecer uma outra cidade: aquela que não aparece normalmente nos guias turísticos ou nos blogs de viagem aos montes pela web. A seguir, tentamos ajudar esse turista que busca o lado B da capital francesa.

O melhor jeito de fazer um safari urbano por Paris a partir dos grafites é cruzar o Canal St. Martin, no 10º arrondissement, onde se localiza uma das áreas mais movimentadas da cidade hoje em dia. Ali estão ótimos restaurantes, lojas artísticas e, claro, muitos murais feitos por grafiteiros do mundo todo — em qualquer dia ou estação do ano há sempre um compressor de ar, sprays e um mural novo sendo produzido. Em Localers, alguns guias turísticos chegam a indicar que o espaço pode ser frequentado por famílias inteiras. De forma ainda mais alternativa, é possível fazer um roteiro próprio pelo canal.

Perto dali, para quem quiser estender o roteiro, um grande e estreito conjunto de árvores e flores crescem onde antes era uma linha ferroviária elevada. O passeio, também conhecido pelos parisienses como La Coulée Verte, se estende da Bastille pela área ao redor da Gare de Lyon e de Bercy até uma das entradas de Bois de Vincennes. Quando o turista termina de observar o jardim, ele desce ao nível da rua e pode caminhar pelo Viaduc des Arts, onde ateliês, workshops de arte, cafés e galerias fizeram residência nos arcos abaixo do jardim. A principal parte dos dois pode ser acessada pela Avenue Daumesnil, próximo a Bastille.

Comuna 13, Medellín — Colômbia

Medellín, capital da província de Antioquia, foi a cidade que recebeu mais turistas estrangeiros do país em 2016, superando Bogotá — a principal metrópole colombiana — e as caribenhas Cartagena de Índias e Santa Marta.

No entanto, apesar dos esforços em estimular o setor por causa dos eventos, das paisagens naturais e da experiência das comunas, Medellín atrai muitos visitantes do exterior por causa de uma figura controversa: o narcotraficante Pablo Escobar, morto em 1993 em um bairro da periferia da cidade.

As buscas dos turistas por atrações turísticas que remetem ao polêmico traficante se intensificaram em 2015, após o lançamento da série estadunidense Narcos, cujo papel de Escobar era feito pelo ator brasileiro Wagner Moura. Recentemente, a mesma plataforma de Narcos, a Netflix, ajudou a produzir outro roteiro em Medellín relacionado a ele: o jornalista neozelandês David Farrier incluiu o tour Escobar, guiado por um dos seus capangas mais próximos, na série Dark Tourism.

As autoridades de Medellín, no entanto, tentam aquecer o turismo por outras vias: segundo a subsecretária de Turismo, Juliana Quirós, o Estado estimula visitas a zonas como a Comuna 13, conhecida por ser uma das mais violentas da cidade, onde os turistas podem realizar um “graffitour” e conhecer o santuário de Madre Laura Montoya, canonizada pelo Papa Francisco. “O ‘graffitour’ é uma iniciativa dos jovens: eles queriam contar a história do passado violento da comuna por meio do grafite. É uma maneira das pessoas conhecerem o lugar por meio da arte”, diz Quirós.

Cova da Moura, Lisboa, Portugal

Se as favelas são geralmente associadas com o fenômeno brasileiro de bairros pobres nos subúrbios das grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, ou aos imensos bolsões de miséria da África do Sul, em Portugal há uma favela semelhante e famosa: a Cova da Moura, em Lisboa que, nos últimos anos — da mesma forma que a Rocinha, no Rio –, se tornou uma atração turística.

Cerca de mil turistas por ano, incluindo acadêmicos, arquitetos e sociólogos, pagam cerca de €5 (R$ 21) para percorrer as estreitas ruas do bairro na cidade vizinha de Amadora, localizada a 15 km do centro da capital portuguesa. Ali encontram muros com grafites do pastor estadunidense Martin Luther King, do revolucionário argentino Che Guevara, do rapper Tupac, além de denúncias de violência racial e racismo.

Com sete mil moradores, 50% são africanos. Recentemente, o governo português divulgou que 10% dos habitantes do bairro são analfabetos. Inspirado nos circuitos lançados recentemente no Brasil, os visitantes chegam a Cova da Moura com dois objetivos: “Limpar a imagem local de perigo e criminalidade e dar uma ajuda econômica aos moradores locais”, explicou Miguel Lourenço, diretor do projeto turístico Sabura, ao jornal português Público. Segundo ele, a Cova da Moura impressiona os visitantes estrangeiros pelo senso comunitário: “É um bairro com sete mil pessoas, mas todo mundo conhece todo mundo”.

Hosier Lane, Melbourne, Austrália

Na década passada, as vielas de Melbourne foram transformadas em pequenas passagens no centro da cidade repletas de obras ao ar livre de alguns dos mais importantes nomes das pinturas de rua do mundo.

Você provavelmente não vai encontrar os trabalhos de Banksy ali (alguns meios de comunicação locais disseram que foram feitas pinturas sobre os originais ou que eles foram destruídos, mas uma das obras permanece), mas uma série de incríveis murais coloridos de renomados artistas — como Be Free e Ha-Ha –, assim como de outros milhares de visitantes que deixam sua contribuição.

As vielas começam na Hosier Lane (do outro lado da Federation Square) e seguem um labirinto em direção ao norte da cidade. Parte da experiência das vielas está se perdendo, mas a arte de rua em Melbourne é uma característica tão viva que outros lugares com murais e grafites estão aparecendo no lugar.

Região portuária, Rio de Janeiro, Brasil

Visitar o porto renovado do Rio, um dos poucos legados das Olimpíadas de 2016, é uma das dicas que o The Guardian deu no mês passado aos turistas europeus. “Apesar de não ter sobrado muita coisa do evento, a cidade conseguiu fazer uma coisa certa: revitalizar a decadente área do porto e substituir velhas docas em uma praça espaçosa e exclusiva para pedestres, a Praça Mauá”, diz o texto. Além das apresentações de música, dos foodtrucks e dos murais grafitados, o local ainda tem o Museu do Amanhã, com exposições científicas interativas sediadas em um edifício “visualmente incrível”.

Além do porto, de tempos em tempos grafiteiros do mundo todo se reúnem para deixar um dos principais acessos à comunidade do Vidigal mais colorida e bonita. Além disso, o lugar com uma das mais belas vistas do Rio recebe anualmente o Projeto Vidigal de Braços Abertos. Ele incentiva o esporte, a fotografia, o grafite e a promoção de empregos aos moradores da comunidade.

Parade Gardens, Kingston, Jamaica

No passado, a região de Parade Gardens, no centro de Kingston, era conhecida pelas duas comunidades que viviam em guerra: a Southside e a Tel Aviv. No entanto, em 2014, a artista Marianna Farag chegou ao local com um grupo de jovens jamaicanos e vizinhos para iniciar o projeto Paint Jamaica. Usando a fachada de um velho armazém na Fleet Street como uma tela, eles cobriram as paredes de murais, que hoje dominam toda a rua.

Ao redor do prédio principal se acessa um incrível jardim urbano, o Life Yard. A entrada quase escondida entre duas casas leva a uma fazenda que alimenta uma comunidade e fornece os ingredientes para o restaurante vegano atrás das paredes da construção. Ali se come pratos Rastafaris, que usam métodos naturais de cozimento que evita o processamento da comida, assim como aditivos, oléo, sal e açúcar.

O jornal britânico Telegraph publicou uma reportagem sobre o local afirmando que o Life Yard é um “bom exemplo de como a ação comunitária pode revitalizar partes do interior de uma cidade”. Hoje, ele é administrado por uma mulher: Shane Morgan, que cresceu na vizinhança e trabalha também como guia turística.

Muro de Berlim, Berlim, Alemanha

A Alemanha é um país fascinante em diversos aspectos históricos e culturais, ainda mais quando se trata de arte urbana. A capital Berlim, por exemplo, é uma referência em democratização e diversidade de ideias, visivelmente expostas pela arte de rua gravada em seus muros.

O muro que, literalmente, separava as ideias caiu em 1989, dando espaço a diversas paredes coloridas, vivas, críticas, provocadoras, criativas, impactantes e cheias de vida. A relação da cidade com seus grafites é mais um fator que faz de Berlim um excelente ponto turístico, sendo uma das cidades mais tolerantes, social e artisticamente, presenteando visitantes com sua aura moderna, multicultural e vibrante.

A arte de rua em Berlim não se destaca apenas por seu conteúdo crítico, mas impressiona pelas dimensões e qualidade artística. São grafites, colagens, instalações e esculturas que gritam pela cidade, quebrando a monotonia cinzenta típica das grandes metrópoles.