São Miguel do Iguaçu – Após a identificação de um surto de covid-19 na Aldeia Ocoy, em São Miguel do Iguaçu, onde 63 indígenas se infectaram com o novo coronavírus, professores e estudantes do curso de Medicina da Unila foram ao local para fazer o acompanhamento dos doentes, e o Obial (Observatório da Temática Indígena na América Latina), coordenado pelo professor Clovis Brighenti, faz o monitoramento da situação na aldeia.
No Ocoy, vivem em torno de 200 famílias – cerca de 900 pessoas -, segundo Brighenti.
O primeiro caso da doença foi registrado no dia 17 de junho. Dois dias depois, o Ministério Público convocou uma reunião com diversas entidades e órgãos púbicos, incluindo a Unila, para debater as possíveis ações de enfrentamento da pandemia na aldeia e criar uma força-tarefa para o atendimento aos indígenas. “Nós sabíamos que os indígenas estavam tomando todos os cuidados com a covid-19. O primeiro caso chegou através de pessoas que são obrigadas [é o sustento delas] a sair para trabalhar diariamente, mas não foi por descuido da comunidade nem desleixo”, ressalva Brighenti. “Se não houvesse esses casos de trabalhadores que saem das aldeias, seria possível retardar a doença um pouco mais, ou quem sabe ela nem chegasse. Eles são bem isolados territorialmente”, explica.
Atendimento
Os infectados estão sendo mantidos isolados na escola da aldeia, que está com o acesso bloqueado. Somente é liberada a entrada de profissionais de saúde, de alimentos e de suprimentos de emergência.
Os médicos e professores Wilma Arze, Luiz Fernando Zarpelon e Roberto de Almeida estiveram na aldeia, com estudantes da Unila, para avaliar os indígenas no fim de semana do dia 21 de junho e para traçar estratégias de atendimento. A professora Wilma e alguns alunos vão todos os dias à aldeia e passaram o último fim de semana (de sexta a domingo) fazendo testes nos moradores do local. “Estamos numa força-tarefa na aldeia, porque eles estão sem médico”, explica.
Além da equipe da Unila, uma enfermeira da Secretaria Especial de Saúde Indígena está fazendo o atendimento aos doentes.
O trabalho dos professores de Medicina, ressalta Brighenti, que inicialmente seria o de orientar a comunidade, foi ampliado porque o médico que atende a comunidade do Ocoy está afastado – ele tem mais de 60 anos e é do grupo de risco para a covid-19. Um novo profissional está sendo contratado pela secretaria.
Ações paliativas
O Observatório está distribuindo máscaras, alimentos e outros insumos para os indígenas. No final de maio, um lote de 50 litros de álcool glicerinado foi doado pela UNILA à Sesai. “Estamos ajudando a monitorar a situação e fornecendo uma ajuda mais emergencial, para atender este momento. Estamos somando esforços”, afirma Clovis Brighenti, lembrando que os órgãos responsáveis pelo atendimento às aldeias são a Funai (Fundação Nacional do Índio) e a Sesai.
Foram distribuídas 200 máscaras, mas a ideia é chegar a mil, uma para cada pessoa da aldeia. O professor explica que outros grupos também estão providenciando máscaras, e a intenção é que cada morador possa ter duas ou três.
Indígenas que são alunos da Unila receberam treinamento das equipes de saúde e estão ajudando a orientar os demais moradores da aldeia sobre o modo correto de utilizar as máscaras e de como higienizá-las.
Brighenti conta que, em junho, o Obial já havia se manifestado pedindo a liberação dos indígenas que trabalhavam no frigorífico da Cooperativa Lar, em Medianeira. “A gente sabia do perigo do trabalho em frigoríficos. E os indígenas são considerados grupo de risco, não por questões de saúde, mas, especialmente, em relação à questão da vivência comunitária”, comentou, explicando que a vida comunitária dos guaranis é intensa e que o conceito de casa, para eles, estaria relacionado à ideia de aldeia, de vida em comunidade.
Além de Unila, Funai e Sesai, integram a força-tarefa, coordenada pelo Ministério Público, a Prefeitura de São Miguel do Iguaçu, a Defesa Civil, a Itaipu Binacional e a Superintendência-Geral de Diálogo e Interação Social.