Cascavel – Um cenário desesperador e dramático. É assim que o diretor-geral do Hospital de Retaguarda de Cascavel, Lísias Tomé, avalia a situação deste momento. O hospital exclusivo para o atendimento da covid-19 em Cascavel está superlotado. “Nossa capacidade de internamento extrapolou. Na enfermaria, temos capacidade para 28 leitos e todos estão ocupados. Muitos pacientes estão em observação e provavelmente terão de ser internados também. A UTI (Unidade de Terapia Intensiva), com capacidade para 14 leitos, estava com 17 pacientes. Eles estão sendo intubados nos corredores, nos quartos… Foi necessário reabrir uma ala que havia sido desativada. Usamos os últimos três respiradores que tínhamos de reserva. Se alguém fizer uma parada respiratória, terá de ser intubado no quarto, no corredor e pedir vaga em outros hospitais”, relata o diretor.
Segundo ele, foi aumentado o número de leitos, mas o número de casos passou da conta. “Estamos com capacidade máxima”.
O médico reafirma: este é o pior momento da pandemia na cidade. “Sem dúvida nenhuma, é o pior momento da pandemia, infelizmente. A situação é dramática, não temos vagas em UTI nem enfermaria, e aumenta o número de pacientes com necessidade de intubação, de utilização de respiradores. Passamos do nosso limite”, alerta Lísias.
O secretário de Saúde do Município, Thiago Stefanello, informou que devem ser abertos seis leitos de UTI no Retaguarda, dos quais três já foram abertos e imediatamente ocupados. “Os três pacientes que foram intubados na enfermaria – usamos o centro cirúrgico que estava desativado – já estão nesta conta. Colocamos três leitos, estamos esperando mais três respiradores do governo do Estado para colocar mais três. Vamos tentando, vamos lutando. Precisamos dos ventiladores do Estado senão não adianta abrir UTI.”
Em entrevista do Portal 24h, o médico e diretor do HR não esconde o esgotamento emocional: “Estamos exauridos, temos que estar em três lugares ao mesmo tempo, socorrendo, intubando, correndo, lidando com a falta de bombas de infusão. Graças a Deus, não falta remédio, mas a demanda está muito alta. Nosso problema hoje é ventilador, leito e número de profissionais. Vamos ter que aumentar a nossa capacidade de atendimento. Precisamos dar um jeito para tudo”.
Emocionado, faz um apelo à população: “As pessoas não entendem! Os bares estão cheios, os jovens conversando cara a cara com outro. Vocês estão matando as pessoas. Vocês estão levando a doença para os pais de vocês. A ânsia do lucro de empresários e donos de bares está fazendo a conta para a sociedade ficar muito alta. Não sou contra quem tem bar, mas estão, sim, matando as pessoas. O jovem não colabora. Vocês não estão vendo que os hospitais estão lotados? O que mais vocês querem para entender isso? Infelizmente, o lucro de alguns está sendo um prejuízo muito grande para a sociedade. Esta é a nossa revolta. Parece que estamos falando pro nada. À noite, os bares estão lotados, alguma coisa precisa ser feita. Já que falta consciência, então que se use a força da lei e fechem. Esgotamos os recursos. Nós, profissionais da saúde, não temos mais o que fazer”, desabafa o diretor-geral do Hospital de Retaguarda.
Veja abaixo a entrevista completa:
Entrevista: Izadóra Lemos – Portal 24h