A falta de educação brasileira (em todos os sentidos) é patente e suas desastrosas consequências se refletem na política, nos dados educacionais, sociais e econômicos. Em 2015, o famoso economista James Heckman (Nobel de Economia de 2000) esteve no Brasil, quando falou do preço que os países pagam por negligenciar investimentos em educação na primeira infância: altos índices de criminalidade, gravidez na adolescência, evasão no ensino médio e menor produtividade no mercado de trabalho. Passou-se quase meia década e parece que ainda não aprendemos a lição: dentre as 20 metas do PNE (Plano Nacional de Educação), 16 estão estagnadas e apenas quatro tiveram cumprimento parcial, de acordo com relatório divulgado em maio pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
O Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), uma avaliação mundial feita a cada três anos para medir o desempenho em leitura, matemática e ciência, neste ano contou com a participação de 79 países. No resultado, o Brasil aparece entre os 20 piores colocados: mais de dois terços dos alunos brasileiros de 15 anos não atingiram o nível básico de matemática; em ciências o País caiu da 63ª para a 67ª posição em comparação com a edição de 2015 (com 70 países); e, em leitura, o Brasil permaneceu praticamente estagnado nos últimos dez anos.
Existe uma discussão entre psicólogos e neurocientistas de que inteligência vai além das habilidades cognitivas (relacionadas à leitura, memória e lógica) normalmente medidas por meio do quociente de inteligência (Q.I.). Autores como Heckman argumentam que outro grupo de habilidades conhecidas como competências socioemocionais (como motivação, esforço, responsabilidade, autoestima etc.) são tão importantes quanto ou até mais que as habilidades cognitivas. Mas o que o Brasil tem feito em termos de desenvolvimento dessas competências?
Os resultados do Pisa mostram que, para os dados do Brasil, um ponto a mais em disciplina está relacionado a 12 pontos a mais em leitura. Estudantes que reportaram que seus professores levam mais tempo para manter a ordem em sala apresentaram 19 pontos a menos em média em leitura. Ainda, para a amostra em geral, alunos com menor desempenho escolar tendem a relatar uma menor satisfação com a vida. Sem falar dos dados sobre bullying, despreparo e absenteísmo dos professores.
Claramente, nossa política educacional atual não tem trazido resultados positivos em termos da avaliação do Pisa e, talvez, a solução socioemocional seja algo que, a despeito das evidências científicas, não tem figurado entre as preocupações mais importantes na educação brasileira. Antes de mais nada, precisamos entender que, por trás do baixo desempenho brasileiro, do ponto de vista educacional, temos um problema crônico de desigualdade de renda, diretamente relacionado a como as pessoas se sentem motivadas a investir seu tempo em educação.
Como um aluno que precisa trabalhar para garantir comida sobre a mesa, ou que precisa dividir seu professor com uma centena de alunos, vai ter como preocupação ter motivação e disciplina no aprendizado da matemática, ou desenvolver o gosto pela leitura? Como um professor que ganha um salário na posição 30 entre 33 países, de acordo com dados da OCDE, que precisa se dividir entre vários empregos, vai se atualizar e cumprir sistematicamente seu programa de aulas? Como um salário desses pode atrair os melhores profissionais para ensinar e motivar nossas crianças?
O próprio Pisa mostra que o Brasil ainda se mantém muito aquém com relação à falta de equidade e segregação social em comparação com os países da OCDE. Enquanto não pararmos de separar políticas educacionais de políticas sociais e entendermos políticas de redução da desigualdade como puramente assistencialistas, não conseguiremos superar a nós mesmos nessas estatísticas. Quem dirá chegarmos perto dos melhores do mundo. Desde sempre, nosso maior problema é a desigualdade.
Walcir Soares Junior (Dabliu), doutor em Desenvolvimento Econômico, é professor de Economia na Universidade Positivo