Opinião

O fundo do poço não é o fim

Opinião de Julio de Campos

Ei, levanta essa cabeça, por acaso você está no fundo do poço? Você perdeu tudo? Todos se afastaram de você? O seu telefone toca minuto a minuto com empresas de cobranças? Nem entra mais na sua conta bancária para ver o saldo? Gerentes te ligam, ameaçam o tempo todo, diminuíram seus limites do cheque especial e cartões de crédito foram cortados? Pessoas fazem de conta que não te conhecem, não lembram mais de você?

Infelizmente, conheço bem essa história. Mas trago uma boa notícia: é possível virar esse jogo.

Eu tenho 43 anos. Minha terceira falência fez com que eu voltasse para a humilde e velha casa da família em Itaquera, onde mora minha mãe, talvez a casa mais feinha da rua sem pintura há uns 30 anos sem reparo. E foram três vezes passando por essa experiência. Isso mesmo, três falências.

O ano era 1990 quando decidi abandonar o desejo de ser um jogador de futebol por ouvir toda minha vida que jogar bola era coisa de vagabundo. Todas as vezes que eu fugia para fazer as peneiras ficava com a consciência pesada porque mentia para a minha família dizendo que iria procurar emprego.

Desisti do esporte e consegui meu primeiro emprego em 1º de abril, na Protran Engenharia. Confesso que até hoje sinto falta daquele lugar, porque, para mim, foi a melhor experiência que eu tive desde o dia em que saí da minha casa disposto a lutar pelos meus sonhos. Foram três anos de muita amizade, aprendizado.

Dei meus primeiros passos como empreendedor logo após a minha saída da Ambev. Fiz um investimento em uma famosa banda que me consumiu R$ 150 mil e deixou pelo menos mais R$ 150 mil em dívidas.

Alguns meses depois fui convidado para ser sócio de uma pequena casa de shows em Itaquera. Mas meses depois veio a falir consolidando mais um fracasso para a minha coleção.

Na sequência fiquei quatro meses distribuindo panfletos. Era considerado um profissional gabaritado, experiente, admirado por todos. “Ex-químico da Brahma” era o meu pseudônimo na época.

Em abril de 2004 nasce a AT&D Technologies. Os negócios foram crescendo na medida e passei a ser um empresário de sucesso.

Em 2012 resolvi dar um salto maior, mas o negócio deu errado e eu perdi todo o meu dinheiro e as linhas de crédito das empresas, algo em torno de R$ 2 milhões. Cansado e sem perspectiva, tentei o suicídio várias vezes até que “uma voz” me disse que eu tinha um filho que muito me admirava e eu estava construindo mais um suicida que não saberia lidar com a derrota, conheceu o pai próspero e na falência o pai se suicidou.

O suicídio não resolveria meu problema.

A primeira ideia que eu tive foi pedir ajuda. Fiz a famosa “lista dos 10”, dez potenciais pessoas que poderiam me ajudar financeiramente para que eu não perdesse tudo de vez.

Ao primeiro da lista eu pedi segredo e ele contou para todo o mundo que, além de falido, havia ido à empresa dele pedir dinheiro emprestado. Em pouco tempo todos, inclusive parte da mídia, sabiam da minha falência.

O tempo todo eu me perguntava o motivo de falir três vezes. Eu ganhei dinheiro três vezes e perdi tudo, as três vezes.

Sempre muito bem articulado e bem visto no show business, consegui fazer uma venda que calou a boca e exterminou da minha vida alguns “demônios”.

Passados alguns anos, eu estava com as contas mais equilibradas. Fazendo pequenos negócios, fui eliminando as dívidas, a dor da falência e aos poucos ia recuperando a autoconfiança e a autoestima, dizimadas pelo fracasso. Também começaram a dar sinal de vida os “amigos”. “Eu sabia que você iria sair dessa”.

Eu sabia ganhar dinheiro, mas não sabia o que fazer com ele, então a saída era começar a me educar financeiramente. Passei por um longo processo, fiz cursos, me entreguei para a leitura, mergulhei nesse universo financeiro e conheci muita gente. Conheci o Roberto Cardassi, que se tornou um mentor. Ele me mostrou o caminho das pedras, me ensinou tudo. Com ele eu tive acesso ao mercado financeiro, e passei a intermediar aportes empréstimos milionários.

Fui convidado para um bom cargo no novo negócio do Cardassi, mas eu precisava reerguer meu império, era uma questão de honra. Fiz diferente. Eu lhe propus outro negócio e montei um relatório minucioso e detalhado do que eu precisava para a minha retomada triunfal no mundo corporativo. E deu certo.

O Cardassi aceitou minha proposta, me reergueu e com isso eu ganhei uma nova chance de me consolidar no mercado como um empresário de sucesso, muito mais forte e com conteúdo para palestrar, motivar e ajudar vidas a saírem dessa situação de falência e conquistar seus sonhos mais extraordinários.

Nesse dia eu dei “adeus” à minha terceira falência.

Algumas atitudes que contribuíram para que eu desse a volta por cima e que me ajudaram a sair do fundo do poço.

1 – Fé, Ação e Atitude! Eu me agarrei ao poder da oração. Eu falava com Deus o tempo todo. Pedia forças para sair do vício e recomeçar, ainda que muitos faziam questão de falar que eu estava quebrado, falido era muito duro ouvir isso todos os dias. Ouça músicas que vão te fortalecer, siga nas redes sociais os vencedores, desfaça amizades que em nada agregam no seu dia a dia. Com isso, você vai exterminar as crenças que te limitam e fazem de tudo para te jogar para baixo.

2 – Foco! Eu só tinha uma alternativa, que era focar em algo que me trouxesse valor agregadamente alto para que eu pudesse recomeçar minha vida renascendo das cinzas. Escreva uma nova história para você, acredite nela e mãos à obra.

3 – Use críticas, injúrias, fofocas e humilhações a seu favor. Quanto mais me criticavam e humilhavam, mais eu me dedicava. Muitas vezes, sentia as lágrimas escorrendo no meu rosto. Porém, passei a enxergar as palavras de maldição deles como bênçãos e passei a fazer um comparativo com a história de vários empresários que passaram pelas mesmas coisas e deram a volta por cima.

4 – Seja rigorosamente disciplinado, haja com diligência, prometa e cumpra, não procrastine.

5 – Leia, estude muito! O hábito da leitura foi uma das ferramentas mais poderosas que adquiri nesses anos de deserto, eu nunca gostei de ler até o dia que li essas 2 maravilha que ganhei Cury: Seja líder de si mesmo e nunca desista dos seus sonhos (Augusto Cury). Hoje eu leio pelo menos três livros mensalmente.

6– Cerque-se de pessoas excelentes. Depois da frustrada experiência da lista dos dez, percebi que por anos estava caminhando com pessoas tóxicas, personalidades que não me agregavam nada, muito pelo contrário, eu tenho uma frase que diz:

7 – Tenha um mentor, inspire-se em alguém que passou pelo que você está passando e deu a volta por cima.

8 – Missão & Propósito. Ainda que tudo pareça estar indo na direção contrária ao seu objetivo, não recue. Continue fiel ao seu propósito, ambos têm de estar muito bem definidos. Tenha missão e propósito de vida definidos, mentalize suas metas, imagine-se comemorando suas conquistas.

10 – O fundo do poço é o começo de uma nova história.

 

Julio de Campos é empresário, copywriter, master coach e business coach