Entenda o ato de escrever como o de um náufrago que envia uma garrafa-mensagem de fraternidade e paz. A voz e o coração vibram e fervem na mão de quem escreve, como na canção de João Bosco.
É muito difícil e raro, nesses tempos velozes, encontrar alguém que seja capaz de nos ouvir e que também prenda nossa atenção. Alguém que nos leia?… Da mesma forma! Por isso, quero agradecer a você, leitor, que leu minhas crônicas neste período difícil, onde o Brasil parece que está se descobrindo, se mostrando para si mesmo e para o mundo. Mas esses tempos velozes também são tempos de desatenção. Algo vai mudar?
Escritores, grandes ou pequenos, do mundo todo e de nossa pequena aldeia, não têm fórmulas prontas para encantar ou surpreender o público leitor, mas se sabe que escreve bem quem lê bem. Com as chamadas “redes sociais” bombando, todos escrevem (e leem) sobre tudo. Há que se filtrar muita coisa, aproveitar o tempo. Os estudiosos concluíram que os escritores desejam duas coisas: serem reconhecidos como tais (escritores) e permanecerem, durarem no tempo, além de suas vidas (algo como a imortalidade – uma coisa chata -, daí os integrantes das academias de letras serem chamados de “imortais”).
Para o historiador Leandro Karnal, nossa “eternidade” acaba quando termina a juventude. Já a mitologia nos conta que Sibila de Cumus, que tinha o dom da profecia, e fazia suas previsões em versos, era uma protegida do deus Apolo, e a ele pediu a eternidade. Assim, ela lhe foi concedida, mas Sibila esqueceu de pedir para continuar jovem. Chegando próxima de ter mil anos, estava muito, mas muito envelhecida. Por isso, sentindo falta de graça para viver e depressiva, pediu para morrer.
Mas vamos festejar! Vamos listar as propostas e objetivos individuais e torcer para que os coletivos também se realizem no próximo ano, e que ele seja mais “leve”. Entenda o ato de escrever como de alguém que envia uma mensagem, uma mensagem de fraternidade e paz, para que tenhamos uma boa jornada: partimos da geleira da solidão, procuramos o mar, como garrafas-mensagens que abandonam o cais, recolhendo, talvez, outros náufragos… A voz e o coração vibram e fervem na mão de quem escreve, como na canção de João Bosco. Entenda o ato de escrever, também, como o de um jardineiro que cuida de rosas…
Dr. Márcio Couto – Cardiologista e Diretor da AMC.
CRM – PR 14933