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Para prefeito, tragédia com a Chapecoense fez Medellín exibir exemplo de compaixão

TRAGÉDIA CHAPECOENSE DIA V

MEDELLÍN – A queda do avião da Chapecoense comoveu os colombianos e o povo de Medellín, cuja mobilização para assistir os familiares das vítimas atraiu a atenção das lentes do mundo. Diante da ausência do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que prestou condolências, mas não visitou a cidade, um dos personagens que emergiu ao participar da coordenação dos esforços para identificação e liberação dos 71 corpos foi o prefeito Federico Gutiérrez.

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Em entrevista ao GLOBO, Gutiérrez disse que a tragédia serviu para que a cidade mostrasse um exemplo de compaixão. Ele fez um apelo para que a Colômbia e Medellín sejam lembradas pelo apreço à solidariedade e o respeito à vida, em detrimento de um passado marcado por um histórico de violência personificado pela figura do traficante Pablo Escobar, morto em 1993.

A declaração do prefeito foi feita na última sexta-feira, quando a morte de Escobar completou 23 anos. Ainda hoje a fama do bandido é tamanha que ele é cultuado num bairro próximo ao centro da capital da Antioquia. Construído pelo traficante, o local é popularmente conhecido como bairro “Pablo Escobar”. Ao cartel de Medellín, comandado nas décadas de 80 e 90 por Escobar, são atribuídos cerca de 4 mil assassinatos.

Para o prefeito, a tragédia é uma espécie de oportunidade para tirar o passado a limpo:

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– Agora estamos mostrando ao mundo realmente o que somos. Medellín e a Colômbia devem ser lembrados pelo exemplo de solidariedade. É essa a imagem e o filme que tem que se mostrar ao mundo. Os valores que nos temos e não os filmes de narcotráfico e máfia – disse o prefeito, numa referência a série de TV de sucesso intitulada Narcos, da “Netflix”, cuja história é inspirada na vida de Escobar, vivido pelo ator Wagner Moura.

– Ele (Escobar) foi uma pessoa muito má. Causou muito dano a Medellín e a Colômbia.

Se por um lado o prefeito tem se destacado por ser um dos líderes do movimento de solidariedade a Chapecoense, por outro há quem o critique por supostamente aproveitar a mobilização para turbinar seu capital político. O prefeito rechaça qualquer politização de seus discursos e atos recentes.

Contudo, Gutierrez aproveitou o exemplo das homenagens feitas a Chapecoense no Estádio Atanásio Girardot, na quarta-feira, quando torcidas rivais de Independiente de Medellín e Atlético Nacional se uniram, para lembrar a importância do acordo de paz firmado entre o governo colombiano e as Farc.

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Ele disse que o atual momento demonstra que a busca da paz é muito importante para aquele país. Na quinta-feira, o Congresso referendou o tratado de paz firmado junto ao governo colombiano, o que deve ensejar o processo de desarmamento da guerrilha e o término de um conflito que já se estende por 52 anos. Em outubro a população havia rejeitado o acordo por meio de um referendo.

– Tudo isso que aconteceu em Medellín nos últimos dias nos ensina muito sobre a importância da paz. O bom é a implementação do acordo e é importante lograr a paz. Esperamos que a implementação sirva e que a paz chegue ao país – disse o prefeito, evitando polemizar.

As homenagens à Chapecoense pelo mundo

Perguntado sobre a que atribui o espetáculo de solidariedade feito pelos colombianos aos brasileiros mortos, Gutiérrez afirma que o histórico violento de Medellín tornou o seu povo mais solidário:

– Também sabemos de perto o que é a dor. Passamos por momentos difíceis de violência. E nos sentimos vulneráveis. Isso nos fez mais fortes como sociedade. E nos unimos mais. Hoje somos uma sociedade resiliente. E acredito que quando as famílias das vítimas veem tantas expressões de carinho se sentem mais confortadas, ainda que essa dor não vá passar. Nós sentimos essa tragedia como sendo a nossa também. E peço que essa é que seja a imagem que você leve para o seu país – concluiu.