Esportes

Flávio Canto: "Campanha do Brasil no judô foi boa. Poderia ser muito boa"

2016 929156342-2010 366030521-2010122107637.jpg_20101221.jpg_20160809.jpgRIO ? Com um ouro, de Rafaela Silva, e três bronzes, de Mayra Aguiar e Rafael Silva, o Brasil fechou na sexta-feira a participação no Rio-2016. Embora o resultado consolide um número de 22 medalhas do esporte na História olímpica ? a modalidade que mais rendeu ao Time Brasil ? o retrospecto não satisfez a meta estipulada pela Confederação Brasil de Judô para os Jogos do Rio. Na avaliação de Flávio Canto, bronze em Atenas-2004, não se pode subestimar as conquistas, mas o resultado ficou aquém do potencial da equipe.

Diante de uma competição ?equilibrada?, como ele observa, a distribuição de medalhas se pulverizou entre os países. Ainda assim, o ex-judoca considera que outros atletas brasileiros poderiam ter ?beliscado? o pódio ? um resultado que pode servir à reflexão da equipe, considerada carro-chefe para o país chegar ao top 10 no quadro de medalhas. O pior resultado dos homens em 32 anos não surpreendeu Canto, que reconhece em Rafael Silva um dos esportistas ?mais esforçados? que conheceu. Sobre o oponente que derrubou ?Baby?, Teddy Riner, o agora apresentador rasga elogios ao francês, mas ressalva que a plateia da Olimpíada do Rio não viu o melhor do multicampeão.

Abaixo, quatro pontos da análise de Canto.

NO FEMININO

A gente teve o feminino com duas medalhas, mas é importante mencionar que tivemos outros três atletas entre os sete primeiros da Olimpíada. A Mariana Silva, por exemplo, fez uma competição belíssima. De sete atletas do feminino, cinco chegaram entre os sete primeiros. O Brasil ficou em terceiro na contagem geral do feminino, com a França em primeiro, Japão em segundo e o Brasil em terceiro. O feminino foi bem, apesar de eu acreditar que poderia ter ido um pouco melhor. A Sarah e a Érica poderiam ter beliscado uma medalha.

NO MASCULINO

No masculino, a participação já foi pior. No último ciclo olímpico, depois de Londres, a gente tem conquistado uma medalha por mundial. Então, não é tão surpreendente, mas ainda assim, além do Baby, o Brasil tinha outras possibilidades de medalha. O fato é que a competição é muito equilibrada. A distribuição de medalhas foi muito pulverizada. Equipes como Rússia, Brasil e Coreia do Sul, que são monstros do judô mundial, com três medalhas. O Japão se destacou muito em quantidade de medalhas. O Brasil, portanto, está entre os melhores. Mas, é claro, vale a pena refletir sobre muita coisa. Embora resultado tenha sido bom, ele poderia ser melhor. O resultado não foi muito bom, mas foi bom. Não tenho dúvida disso.

RINER: O FENÔMENO

Sobre o Teddy Riner, é um absurdo o que ele consegue e conseguiu nos últimos anos. Oito títulos mundiais, dois ouros, um bronze em Olimpíadas. Mas o que mais surpreende é ele não perder. Ele perdeu apenas em 2008, em Pequim, para o adversário que o Rafael Silva venceu ontem. A gente fala de seis anos! Ele escolhe as competições com muito critério, escolhe só as principais. E ganha de todo mundo, com relativa tranquilidade. Ele está em um patamar acima. Acho que ontem ele teve bastante dificuldade nas duas últimas lutas, o que não é muito comum. Ele lutou com uma tática protegida. Ele é tão visado, que se expôs pouco. Ele é tão reverenciado que até os árbitros, quando vão puni-lo, pensam duas vezes. Isso acaba ajudando ele, mas acho que ontem, por conta disso, ele não precisou se expor, e a gente nem pode ver o melhor do Teddy Riner, do ponto de vista técnico, nas últimas duas lutas. Ele foi tático.

BABY: O GUERREIRO

A medalha de bronze do Baby é a recompensa mais do que merecida para um dos atletas mais determinados e esforçados que eu já conheci na minha vida. O peso-pesado normalmente é um cara mais preguiçoso, até pelo tamanho deles, o peso deles. Mas o Baby sempre é o primeiro a chegar ao treino e o último a sair. Ele sempre foi assim. Quando começamos a viajar juntos para o Japão, a gente voltava, e ele ficava. Ele é assim. A marca dele é o treinamento. Ele começou tarde, com 15 anos, mas desde cedo ele persegue um sonho, não importa a sacrifício que ele tenha que fazer. Ele veio de uma seletiva muito dura. Teve uma ruptura do tendão do peitoral há um ano e teve que enfrentar, no Brasil, um atleta espetacular que é o David Moura, que estava crescendo muito. A conquista da vaga já foi uma proeza, por causa da lesão e do adversário interno. E nesta reta final ele seguiu treinando mais do que todo mundo. E não à toa, se recuperou para ganhar esta medalha tão merecida. Ele já era o primeiro peso-pesado do Brasil a conquistar uma medalha olímpica, e agora entra no rol daqueles que conquistaram duas medalhas olímpicas, se juntando aos poucos atletas que chegaram neste padrão.