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Com Gabriel Jesus em alta, seleção lida com mudança súbita de nível

MANAUS – Desde que Romário e Ronaldo encerraram suas trajetórias pela seleção brasileira, deixou de ser tão simples encontrar o camisa 9 com característica similar: o homem que gosta da área, artilheiro, mas também com mobilidade e técnica suficientes para jogar distante do gol. Embora com características diferentes, o ocaso precoce de Adriano deixou um hiato; Luís Fabiano e Fred, entre bons e maus momentos, ocuparam o posto nas duas últimas Copas do Mundo, mas faltava o nome que encantasse. É cedo, até cruel envolver Gabriel Jesus, com seus 19 anos, em tais comparações. Mas a ascensão meteórica do jovem que hoje, às 21h45m (de Brasília, com transmissão da TV Globo e Sportv), vestirá a 9 contra a Colômbia, em Manaus, cerca seu início de carreira de uma expectativa que, havia tempo, um centroavante da seleção não criava. Eliminatórias 05-09-2016

Gabriel tem apenas três anos de profissional de futebol. Neste tempo, passou por seleções de base e ganhou o posto de titular do Palmeiras. Apenas nos últimos 35 dias, foi campeão olímpico, vendido ao Manchester City por cerca de R$ 120 milhões, estreou como titular da seleção brasileira e marcou dois gols.

? Tenho uma base familiar muito forte. Encaro tudo isso com tranquilidade. Sou isso que aparento, mesmo. Eu procuro assistir meus jogos, para ver erros e acertos. Mas não vejo reportagens, essas coisas. Pra não perder o foco e manter a cabeça tranquila ? disse Jesus.

RIVAL DIFERENTE

Curiosamente, o jovem atacante parece viver momento à imagem e semelhança da seleção. Ambos tentam administrar um novo patamar, uma nova realidade construída subitamente. Na esquizofrenia de um país que vai da depressão à euforia, chegou a hora da segunda. Após a vitória no Equador, agora o jogo é em casa, com um estádio clamando por uma atuação e um resultado como o de Quito.

? Não consigo conceber um momento em que o teu valor é quase zero e, de repente, é o outro extremo. O que há é um processo. Nem éramos tão ruins antes, nem eu fui mágico para que eles rendessem assim ? disse Tite. ? Nosso desafio é manter o padrão do Equador ou melhorar. Tentar evoluir.

Nem éramos tão ruins antes, nem eu fui mágico para que eles rendessem assimA Colômbia não é o Equador, seja pela qualidade, seja pela forma de jogar. Esta é uma convicção da comissão técnica. Por exemplo, há a certeza de que os generosos espaços que, em dado momento, os equatorianos permitiram ao ataque do Brasil, não se repetirão. O que gerou um pedido de Tite à torcida.

? Nosso jeito de jogar não usa tanto a ligação direta. A troca de passes, em dado momento, fará a bola voltar atrás. Que o torcedor tenha paciência porque vamos buscar a melhor forma de entrar (na defesa colombiana) ? alertou Tite.

A matemática também induz aos extremos. O que antes era uma situação nebulosa nas eliminatórias para o Brasil pode se tornar bem confortável se a seleção ganhar. Na pior das hipóteses, terminaria a rodada em quarto lugar. Numa improvável combinação, seria líder, com tropeços de Argentina, Uruguai e Equador. E, em outubro, na retomada das eliminatórias, teria jogos palatáveis com Bolívia e Venezuela. Mas uma derrota pode reabrir preocupações.

A seleção não terá mudanças na escalação para o jogo de hoje. A novidade estará no braço de Daniel Alves: seguindo o projeto de rodízio de capitães de Tite, ele usará a braçadeira, que foi de Miranda no jogo com o Equador.

? Não acho que tenha várias responsabilidades agora. Temos vários líderes e não vejo maior importância na faixa de capitão. Mas é uma honra representar esta galera ? disse Daniel, prestes a completar dez anos de seleção.