RIO – A rotina no Rio mais parece uma corrida de obstáculos para Aklah Kokou, togolês de 58 anos, e Sekou Dabo, de 26, da Guiné. Como refugiados, eles vivem os percalços de vencerem, sozinhos, a barreira do idioma, a falta de emprego e a adaptação a uma nova vida. Mas, no dia 5 de agosto, eles deverão estar no Maracanã para ajudar milhares de forasteiros como eles a se comunicar: os dois serão tradutores voluntários nos Jogos Olímpicos.
Ao todo, 38 refugiados estão entre os 50 mil voluntários da Olimpíada do Rio, por conta de uma parceria entre a Cáritas-RJ, instituição que ajuda e acolhe esses estrangeiros na cidade, e o Comitê Rio 2016. Gerente-geral de Voluntários do Comitê, Flávia Fontes admite que permitir a participação deles nos quadros era uma forma de ter tradutores de línguas bem específicas, como o árabe e dialetos africanos.
Mas, quando conversamos, achamos a inciativa bacana, não só pela nossa necessidade, mas por poder incluí-los no nosso país.
Sekou, que atualmente trabalha como cabeleireiro e mora em Duque de Caxias, fala português, inglês e francês. Estudante de relações internacionais na Guiné, deixou seu país por perseguição religiosa. Durante os Jogos, espera fazer conexões profissionais. Quem sabe, até realizar o sonho de cursar outra faculdade, de engenharia:
As pessoas podem precisar do que tenho a oferecer.
Já Aklah, que era cineasta no Togo, está sem emprego e pretende fazer uma sequência de um dos filmes que rodou no país de origem. Seus longas tinham críticas políticas e sociais. Aklah foi censurado e teve que deixar o país, há dois anos. Seu sonho é conseguir emprego após o evento e voltar a filmar:
Quando cheguei, minha ideia de Rio era Copacabana. Não sabia que as pessoas podiam viver em casas assim disse ele, apontando para uma favela e aplicando, na nova terra, a crítica social que lhe custou a liberdade.