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Bolt não perde bom humor à beira da aposentadoria: 'A imortalidade é tudo'

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MÔNACO – Três semanas depois de perder uma de suas nove medalhas olímpicas devido ao doping de um companheiro, o lendário velocista jamaicano Usain Bolt recebeu, em Mônaco, o Prêmio Laureus de melhor atleta masculino de 2016.

Bolt falou, em Mônaco, sobre a perda do “triplo-triplo” olímpico – em referência às três medalhas conquistadas em cada uma de suas três participações em Olimpíadas – e mostrou leveza ao tratar da aposentadoria, que virá no segundo semestre deste ano.

O que ainda está na sua lista de desejos após a aposentadoria?

Profissionalmente, a única coisa que eu gostaria de tentar é jogar futebol. Mas há muitas coisas na minha lista. Gostaria de ver a Fórmula 1 aqui (em Mônaco), ir para a Irlanda beber Guinness. Quando me aposentar, vou fazer essas coisas.

Prêmio Laureus

Sabe-se que o triplo-triplo significou muito para você. Como recebeu a notícia do doping de Nesta Carter?

Foi difícil. Primeiro fiquei triste, mas acredito que tudo acontece por uma razão. Não sei qual foi nesse caso, mas tenho que lidar com isso. Não tenho controle neste ponto. Então, é simplesmente algo com que eu tenho que lidar.

O estádio olímpico foi recentemente pintado de preto e branco pelo Botafogo. Só não pintaram a pista azul em que você correu devido à sua história.

É sempre incrível quando você deixa uma marca nos lugares. Mostra o amor e o respeito pelo trabalho que você fez ao longo dos anos. Eu realmente gosto isso. Amo cada minuto disso. Coisas assim mostram que o que fiz ao longo dos anos e o esforço para ser um dos melhores valeu a pena. Isso significa muito.

Você competiu no Laureus contra Cristiano Ronaldo. É um bom adversário?

Fala sério (risos). Para mim, ele é esmagador. Fazer parte desta lista é brilhante. Stephen Curry, LeBron James, Cristiano Ronaldo? É incrível. Sou um enorme fã de Cristiano Ronaldo porque sou torcedor do Manchester United, e foi lá que ele começou. Já estive com ele algumas vezes, jantamos juntos. Eu o considero o melhor jogador do mundo.

Velocistas jamaicanas costumam se recusar a falar sobre você. Elas se sentem desvalorizadas?

Eu e Shelly-Ann (Fraser-Pryce) somos muito próximos, e eu sempre disse a ela que nem sempre o que vale é a performance. Falo que ela é muito quieta, não gosta de ficar cercada de pessoas. Se você quer que amem sua personalidade, tem que mudar. Sempre mostrei para as pessoas minha personalidade. Estou sempre feliz, sempre me divertindo. É disso que as pessoas gostam. Não acho que seja só pela minha velocidade. E não é porque eu sou homem. Muito atletas homens antes de mim fizeram grandes coisas, mas as pessoas não torceram para eles, torceram para mim.

Trabalhei muito para ser o maior, para quebrar as barreiras e ver até onde conseguia ir. Ser imortal é tudo. Quando as pessoas me colocam ao mesmo nível de Muhammad Ali, é tudo.

Quem você vê como o próximo Usain Bolt?

Já vi muito talento na Jamaica, mas aumentamos a exigência, e eles são bem pagos. Quando comecei, não recebia nada, mas agora os jovens talentos começam logo a ganhar dinheiro, e alguns se perdem. Por isso, se (Andre) De Grasse focar, e não quero apenas falar o nome dele, a competição vai ser fantástica.

Como é a imortalidade?

A imortalidade é uma das melhores coisas. Foi para isso que lutei. Um dia desses estava vendo a BBC e, quando cruzei a linha de chegada, o narrador disse: ?Agora ele é imortal?. Foi uma das melhores coisas que já ouvi. Eu queria isso. Trabalhei muito para ser o maior, para quebrar as barreiras e ver até onde conseguia ir. Ser imortal é tudo. Quando as pessoas me colocam ao mesmo nível de Muhammad Ali, é tudo.

Foram três recordes mundiais nos 100m em cerca de 10 anos. Vão demorar quanto tempo a ser batidos?

Talvez em uns 10, 15 anos?

Você vai sentir saudades?

Acho que vai ser a única coisa de que vou sentir falta será de estar em um estádio e sentir aquela energia em sua primeira entrada, quando as pessoas vão à loucura. Você pega a energia, a vibração e o nervosismo vai embora.

Você diz que quanto mais consegue, mais tem que se sacrificar. Você se sente um pouco numa prisão?

(risos) Eu nunca deixei o atletismo me aprisionar, mas, sim, me limita. Quanto mais velho você fica, menos tempo tem para fazer as coisas. Se antes eu me machucava e precisava de um mês para voltar, agora são dois, três meses. Essa é uma das razões por que pensei ?quer saber?, preciso ir embora agora?. Eu faço o que eu quero. Então, vou parar por aqui.