Economia

Mercado de trabalho: sua profissão em 2030 nem foi inventada ainda

 Consultor fala sobre as tendências profissionais para a próxima década

Foto: Divulgação
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O mercado de trabalho passa por mudanças radicais cada vez mais aceleradas. A corrida é a busca por maior produtividade com menos custos. E nem sempre o trabalhador consegue acompanhar esse processo. Para complicar, a maioria das empresas não consegue estimular a cultura de engajamento, com reflexos diretos na produtividade e um dos motivos de 60% das empresas fecharem antes de completar cinco anos.

Formado em Administração Internacional de Negócios pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e pós-graduado em Marketing, o consultor Fábio Kalil juntou a experiência de 15 anos em multinacionais e nacionais de todos os portes e de mais de mil horas em consultorias e treinamentos para fundar uma empresa que visa ajudar a melhorar os índices de produtividade das empresas e desenvolver pessoas e negócios.

Um dos focos da Growing Now é o treinamento e o desenvolvimento de jovens nascidos depois de 1998 que estão ingressando no mercado de trabalho. O objetivo é promover o engajamento do trabalhador de modo que seja feliz no seu trabalho e corresponda com mais produtividade à empresa.

Por que as empresas têm tanta dificuldade para encontrar profissionais capacitados e comprometidos?

Fábio Kalil – O ambiente de trabalho tem mudado radicalmente nos últimos anos e continuará a ser assim, é algo muito dinâmico. Nesse caso específico, os millennials (geração Y) e a recém-chegada ao mercado de trabalho geração Z não querem empresas engessadas: aquelas com horários fixos para entrar e sair, hierarquias rígidas, pressão, jogo político, falta de reconhecimento, líderes pouco capacitados e salários baixo. Isso atinge em cheio a motivação desses profissionais. Estudos mostram que 90% dos brasileiros estão infelizes nos seus trabalhos. É claro que não podemos jogar toda a culpa nas empresas, mas elas estão lidando com profissionais mais impacientes e inconformados. Ficar no escritório até altas horas da noite não é mais visto como algo legal. Iniciativas que algumas empresas adotam ajudam a aumentar o comprometimento, como: horários flexíveis, day-off no dia do aniversário, sexta-flex (duas sextas por mês o colaborador pode sair meio-dia e ter um fim de semana prolongado), home office, e outras. O equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional está e estará cada vez mais em evidência. O mais interessante disso é que pequenos ganhos de engajamento podem melhorar os resultados das empresas em até 5%, de acordo com estudos da revista Harvard Business Review.

A falta de profissionais comprometidos interfere na viabilidade do empreendimento?

Sem dúvida! De acordo com o IBGE, apenas 8% dos brasileiros têm ensino superior. Ninguém disse que é obrigatório ser formado para ser um bom profissional, mas ajuda a abrir portas. Os profissionais menos qualificados estão mais sujeitos a mudanças constantes de emprego, o que gera custos altíssimos de turnover para os empresários e isso, por consequência, impacta a viabilidade de empreendimentos. Mais de 60% das empresas brasileiras morrem antes de completarem cinco anos. Sem contar as dificuldades financeiras e a falta de planejamento estratégico, a rotatividade de pessoal impacta significativamente na viabilidade do empreendimento.

O que o empreendedor pode fazer para engajar sua equipe?

A melhor maneira de motivar e engajar um trabalhador é pelo reconhecimento. E não precisa ser em dinheiro. Existem “n” outras maneiras de reconhecer as pessoas e, acredite, elas adoram isso! Além disso, é fundamental que o empreendedor seja acessível e compartilhe com frequência os resultados e os objetivos da empresa, isso traz aos colaboradores um senso de pertencimento e eles se sentem valorizados por essa atitude. E, por fim, três dicas para o empreendedor motivar a equipe: 1) Estabeleça um objetivo claro com os colaboradores; 2) Dê feedback e coaching com regularidade; 3) Reconheça e recompense as pessoas que estão atingindo os objetivos propostos. Com essas ações, garanto que engajamento e motivação irão aumentar.

O que é um profissional qualificado hoje?

Um profissional qualificado precisa dominar tecnicamente sua área de atuação, mas mais do que isso. Aprendi que a Inteligência Emocional é mais importante do que o raciocínio das pessoas em si e suas competências técnicas. Saber lidar com frustrações, raiva, estresse, conflitos, enfim, tem um papel gigantesco para complementar um profissional qualificado. A capacidade de controlar impulsos é a base da força de vontade e do caráter. Vale ressaltar que existem diferentes estágios de carreira e que cada um exige qualificações específicas e diferentes. Não podemos esperar que um analista júnior tenha o mesmo know-how de um gerente ou de um diretor. A cada passo que damos na carreira, mais estratégico o trabalho vai ficando e as competências precisam acompanhar isso.

Como um jovem trabalhador pode se qualificar?

No caso dos jovens que estão entrando ou acabaram de entrar no mercado de trabalho, o que conta mais do que o currículo são as experiências de vida que já teve e suas habilidades predominantes, os famosos pontos fortes. Eu tive uma experiência muito positiva há três anos. Na última empresa que trabalhei antes de fundar a Growing Now, entrevistei um rapaz de 19 para uma posição de estagiário de marketing. Ele nunca havia trabalhado, mas tinha muita coerência na sua fala e demonstrava um desejo enorme por aquela vaga. Nesse mesmo processo, entrevistei outra pessoa com três anos de experiência em empresas multinacionais, mas senti que lhe faltava conteúdo. Decidi apostar e três anos depois sou muito feliz por ter tomado essa decisão. O garoto é um talento nato e continua crescendo na sua carreira. Para aquele que está procurando algo, mas ainda não tem experiência, mostre o que sabe sobre a vida! Surpreenda o entrevistador. Esse é um bom caminho para dar o primeiro passo em direção aos objetivos profissionais. Eu mesmo, em 2003, consegui meu primeiro estágio na Nissan do Brasil Automóveis sem nunca ter trabalhado em empresas antes… e foi aí que tudo começou.

A experiência do profissional basta?

A experiência ainda conta muito, principalmente para cargos mais altos, como coordenadores, gerentes e C-level (diretores). Mas só isso não basta mais. A experiência é uma boa fatia da pizza, mas o restante é preenchido por inúmeras outras habilidades, como proatividade, pontualidade, comprometimento, aparência pessoal, habilidade de se comunicar (essa é a principal delas), construir redes de relacionamento, ser uma pessoa inspiradora para os demais e por aí vai. Resumindo, a experiência conta, mas sozinha ela não basta mais.

Qual é o de modelo de profissional que as empresas querem hoje?

É um profissional que vem com um pacote de habilidades junto. Tem de saber solucionar problemas, negociar, controlar suas emoções, liderar pessoas, saber se comunicar com assertividade, criatividade, inovação, resiliência, organização, saber falar em público, ter alta adaptabilidade e facilidade de lidar com mudanças, afinal, as táticas e as estratégias das empresas são seres vivos, mudam com frequência. A equação experiência + pacote de habilidades é o que as empresas querem e precisam.

Como será o mercado de trabalho do futuro e como se preparar para ele?

Estudos apontam que 85% das profissões de 2030 ainda nem foram inventadas. Parece que 2030 está longe, mas faltam praticamente dez anos. E isso passa muito rápido. Mas não há motivo para pânico. Continuarão se destacando e sendo demandados os profissionais que unirem as habilidades técnicas com as comportamentais. O profissional do futuro precisará estar muito antenado aos movimentos de mercado e continuar apresentando as habilidades que já mencionei. E nunca, nunca pare de estudar e de ser curioso. Não se envolva apenas com temas da sua área, busque outros tipos de conhecimento que irão te tornar uma pessoa e um profissional mais completo e interessante. Para as empresas, cabe continuar investindo em treinamento e se adaptarem às novas tecnologias que continuam pipocando de todos os lados.

Estudos mostram que 90% dos brasileiros estão infelizes nos seus trabalhos

Estudos apontam que 85% das profissões de 2030 ainda nem foram inventadas

A melhor maneira de motivar e engajar um trabalhador é pelo reconhecimento. E não precisa ser em dinheiro