WASHINGTON ? Se Hillary Clinton aceitou ter o programa de governo mais à esquerda da história da legenda, ela optou por um candidato a vice que é considerado moderado: o senador Tim Kaine. Político hábil, ele vem de um estado fundamental para a chegada à Casa Branca – Virgínia -, tem boa referência para o debate sobre segurança e relações externas e ainda fala espanhol, reforçando os democratas entre os 13 milhões de eleitores latinos.
A primeira mulher com chances de chegar à Casa Branca fez uma escolha tradicional para sua chapa. Kaine faz sucesso com os eleitores independentes do centro político e pode ajudar a garantir votos de republicanos temerosos de Donald Trump. Assim, Hillary abriu mão de um vice mais á esquerda, confiando que este eleitorado, que ficou nas primárias com Bernie Sanders, vote nela pelo plano de governo ou pela rejeição a Trump.
A escolha foi anunciada em uma mensagem no twitter na noite de ontem, quando Hillary se disse ?muito feliz? em anunciar o companheiro de chapa, ?alguém que sempre lutou por causas progressistas?. Ambos participação de um comício hoje em Miami.
Kaine, de 58 anos, é católico, tem três filhos e já foi missionário em Honduras. Formado em direito por Harvard, já foi presidente do partido e deve garantir os 13 votos da Virgínia no colégio eleitoral. O estado, que a cada eleição vota em um partido, é considerado um dos campos de batalha para que o vencedor obtenha o mínimo de 270 votos para ir à Casa Branca.
O senador republicano Lindsey Graham (Carolina do Sul) resumiu o que a escolha representa. No twitter, escreveu: ?Vejo os dois candidatos a vice-presidentes ? Governador Mike Pence (vice de Trump) e o senador Tim Kaine mais palatáveis que os candidatos a presidente?, disse. Trump e Hillary tem as duas maiores rejeições da história dos candidatos à Casa Branca e, assim, a importância dos vices cresceu neste ano. Até o fechamento desta edição, Trump não havia comentado o nome de Kaine. A campanha de Trump acusou forte o vice de Hillary. Disse que ele tem problemas “éticos”, acusado de receber “brindes” de US$ 160 mil quando era político e que enriquece “às suas custas”. “Eles aumentam seus be ns pelo sistema atual, enquanto o resto do país fica para trás”.
DISCURSO DE TRUMP REPERCUTE
Se Barack Obama chegou à Casa Branca há oito anos com o discurso da esperança, Trump pretende repetir o fato baseado no pessimismo com a situação do país. Obama tinha como lema o ?sim, nós podemos? e Trump baseia sua retórica em uma palavra: ?eu?. Seu discurso na noite de quinta-feira, quando aceitou oficialmente a candidatura, gerou fortes reações em todo o país. De acordo com pesquisa da ?CNN?, 57% dos que assistiram ao discurso tiveram uma ?reação muito positiva?.
Trump tentou se vender como candidato ?da lei e da ordem?, pintou um cenário de degradação dos EUA e disse que ?é a voz? dos americanos desassistidos. Ganhou aplausos inesperados ao defender os gays na convenção republicana ? o partido ainda não aprova o casamento homossexual ? e vaias ao afirmar que quer reformar a Otan.
De acordo com a revista ?Variety?, 30,5 milhões de americanos assistiram o discurso de Trump, pouco menos que os 32,2 milhões em 2008, quando o candidato era John McCain em 2008. Um dos que disse que não viu o discurso foi Barack Obama, pois ?tinha um monte de coisas para fazer?. Mas o presidente criticou Trump, ?pelo que leu?:
?Essa ideia de que os EUA estão à beira do colapso, essa visão de violência e caos em toda parte, realmente não é a experiência da maioria das pessoas ? disse Obama em entrevista, respondendo à crítica de Trump de que o país está mais inseguro. ? Embora seja verdade que nós vimos um pequeno aumento no número de assassinatos e crimes violentos em algumas cidades, neste ano, o fato é que a taxa de homicídios, hoje, é muito menor do que quando Ronald Reagan foi presidente.
Para o jornal ?New York Times?. ?Trump deixou claro que tem a intenção de aterrorizar os eleitores para conseguir apoio, que irá protegê-los da violência, uma palavra que aparece repetidamente em suas observações?, analisou o diário em editorial, para acrescentar: ?Trump não ofereceu soluções para além de si mesmo, em seu papel messiânico.?
Uma análise da ?Fox News?, contudo, disse que o discurso foi um sucesso e atingiu seu objetivo: ?Ele aumentou as chances na eleição e definiu suas agendas: a lei e a ordem, o crime nas ruas, o terror?, informou a artigo, assinado por Oriana Schwindt.
Hillary reagiu ao discurso com sarcasmo no Twitter. Ela hironizou o novo slogan de Trump, ?Eu estou com vocês (o povo)?. Ela twittou: ??Eu estou com vocês*? – Donald Trump. *Não incluídos: mulheres, afroamericanos, gays, muçulmanos, latinos, imigrantes?.