Carole, de 30 anos, pode ser a primeira suiça a ser beneficiada com um salário sem precisar trabalhar. Uma medida que pode se generalizar se o Parlamento suíço aprovar, no domingo, a instauração de uma renda básica mensal de 2.500 francos suíços, o equivalente a R$ 9 mil reais. A medida é uma iniciativa popular impulsionada por um grupo sem ligação com partidos políticos, com o objetivo de instaurar uma renda de base incondicional (RBI), ou seja, receber independentemente do fato de trabalhar ou não, por um ano.
Os partidários da RBI lançaram uma arrecadação de fundos na internet para pagar 2.500 francos suíços ao mês durante um ano a uma pessoa escolhida por sorteio, do qual Carole foi a primeira ganhadora. A iniciativa propõe que cada suíço e cada estrangeiro residente há ao menos cinco anos deve receber do Estado um subsídio mensal, sem levar em conta se a pessoa trabalha.
É um sonho que existe há tempos, mas que se tornou indispensável devido ao desemprego provocado pela crescente automatização, explicou um dos líderes da iniciativa, Ralph Kundig.
A quantidade de receita e seu financiamento devem ser definidos pelo Parlamento. A iniciativa sugere uma mensalidade de 2.500 francos suíços para os adultos e de 625 francos (cerca de R$ 2,3 mil) para as crianças.
No total, trata-se de desembolsar 208 bilhões de francos suíços para todo o país, segundo as autoridades, que precisarão encontrar uma fonte de financiamento suplementar para cerca de 25 bilhões de francos, “o que representará a aplicação de cortes drásticos ou de um aumento dos impostos”, segundo o governo.
Os defensores da iniciativa sugerem eliminar as ajudas e os seguros médicos ou criar um imposto sobre as transações eletrônicas. O ministro suíço do Interior, Alain Berset, doutor em Economia, acredita que é “algo utópico”. A seu lado, o governo, o Parlamento e os partidos políticos, exceto os Verdes e a extrema esquerda, se opõem à ideia de uma RBI.
É um sonho antigo, um pouco marxista. São muitos sentimentos bons irrefutáveis, mas sem nenhuma reflexão econômica, observou o diretor do Centro Internacional de Estudos Monetários e Bancários de Genebra, Chrles Wyplosz, que comentou que, se a relação entre a remuneração e o trabalho acabar, as pessoas farão menos.
Para as crianças também
Pascale Eberle, de 55 anos e enfermeira a domicílio, explicou que a RBI pode “oferecer a possibilidade aos nossos netos de terem outra vida”. Para os Verdes, a RBI garante um “mínimo vital”, uma vantagem para os empregados, que poderão resistir melhor à pressão do mercado de trabalho e rejeitar condições trabalhistas deploráveis.
O diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT, uma agência da ONU), Guy Ryder, não chegou a se posicionar, mas reconheceu que a transformação no longo prazo do mundo trabalhista levará as sociedades a encontrar meios de distribuição de receitas nacionais que não estejam diretamente relacionados ao trabalho ou ao salário.
No entanto, acredita-se que a proposta não sairá do papel no país, já que 71% da população suíça mostrou-se contrária à proposta na última pesquisa realizada pelo Instituto GfS Berne.