Medianeira – Para quem imaginava que a campanha de vacinação contra a febre aftosa a ser realizada neste mês de novembro pudesse ser a última antes de o Estado ser declarado área livre da doença e ficar então dispensado da imunização, a informação não é muito animadora e tem mais: vai ser preciso ter muita paciência.
Apesar de estar a um passo dessa condição, esse passo é quase da distância entre a terra e a lua e precisa ser bem delicado, meticuloso e de alerta para não se perder no espaço sideral.
Se tudo ocorrer dentro do esperado, mesmo assim o Paraná deverá enfrentar pelo menos outras duas campanhas de vacinação, em 2018, para, quem sabe, chegar ao tão esperado status em 2019.
“Esse passo envolve uma decisão a ser tomada. Temos uma auditoria do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento marcada para ocorrer de 15 a 19 de janeiro; temos algumas atividades a desenvolver para que possamos ficar tecnicamente estruturados e estarmos prontos para dar esse passo. Aí teremos que decidir se as partes interessadas, o setor produtivo, a indústria, o comércio, a exportação, as autoridades, os líderes públicos e privados acreditam que essa decisão deva ser tomada agora, pois é uma decisão que precisa ser compartilhada, não se pode dar um passo unilateral. A nossa meta é estarmos prontos para isso e não vacinar mais em 2019”, declarou o presidente da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), Inácio Afonso Kroetz em entrevista exclusiva ao jornal O Paraná.
Controle sanitário
O Estado do Paraná voltou a vacinar seus rebanhos de bovinos e bubalinos em 2005 após um caso da doença registrado no Estado e que desde então mantém a imunização em duas campanhas anuais (maio e novembro), é declarado área livre da doença, mas com a necessidade de imunização, lembrando que essa condição interfere no mercado internacional da carne e do leite e com reflexo ainda sobre os plantéis de suínos.
Diante de todos os fatos relatados por Kroetz, significa dizer que tudo ainda pode travar se, durante a auditoria do Ministério da Agricultura, for detectado que o Estado não está pronto. Isso porque há o entendimento de que a declaração precisa ser um caminho sem volta. O Estado deve estar ciente e preparado, com condições sanitárias que o mantenha nessas condições por décadas, sem o registro de novos incidentes. “É por isso que se precisa saber se é a hora, se é o momento oportuno, se o que está havendo no mundo relacionado à doença não traz riscos para nós. Com uma decisão assim, não podemos recuar depois e é por isso que devemos aumentar a biossegurança e o nosso controle de sanidade”, seguiu o presidente, ao defender mais diálogo entre os setores.
Falta de conselhos
Dentre os entraves à declaração de área livre de aftosa sem vacinação está a implantação dos Conselhos de Sanidade Animal.
Preocupado com esse assunto, o tema foi amplamente debatido na última quarta-feira durante uma reunião realizada pelo Programa Oeste em Desenvolvimento na cidade de Medianeira.
Apesar de todos os municípios paranaenses terem sua efetiva implantação, a baixa operacionalização ainda preocupa. “Bem ou mal, todos os municípios do Paraná têm hoje seus Conselhos de Sanidade implantados, mas nem todos estão ativos e eles precisam ser mais participantes, atuantes, fortalecendo assim o setor. É um processo educativo de sensibilização e de mobilização. Cada um precisa fazer a sua parte na defesa agropecuária. Que eles tenham responsabilidades que não são do governo, nem do Estado, mas de todos os setores. Precisamos compartilhar as atividades e as ações para uma gestão eficiente”, pondera.
Prejuízos que devem acabar
Para o secretário de Estado da Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara, sanidade é um ativo altamente valoroso. “Estamos por força de um defeito alijados de 65% do mercado da carne suína do mundo porque praticamos uma vacina não mais necessária. O esforço que fazemos, e temos esse entendimento no oeste do Paraná, é de que precisamos encurtar caminhos com um passo firme, pés no chão e cabeça no lugar. Chegar ao status de área livre da doença sem vacinação em um tempo mais curto. Por isso propusemos uma espécie de atropelo ao calendário que a União nos estipulou e queremos antecipar esse movimento, fortalecendo os negócios do Brasil, do Paraná e do oeste, que tem no campo e no agronegócio sua força, mas isso precisa ser feito do jeito certo e da forma mais eficiente possível”, reconhece.
Para Ortigara, a hora para intensificar esse processo é mais do que certa, mas precisa de muitas ações e diálogo para acabar com a vacinação, ampliando mercados de forma consciente e sem atropelos.