O número de mortos no incêndio em um edifício de apartamentos em Londres chegou a 30, informou nesta sexta-feira (16) a polícia britânica, que espera um novo aumento do balanço.
"Ao menos 30 pessoas morreram no incêndio", afirmou o comandante da polícia Stuart Cundy. Ele, no entanto, acredita que "infelizmente, o número voltará a aumentar".
Uma vítima faleceu no hospital e o restante no edifício. Até o momento apenas 12 foram levadas para o necrotério e as demais permanecem na Torre Grenfell. A polícia também anunciou o balanço de 24 feridos, 12 em estado grave.
De acordo com estimativas anteriores ao balanço atualizado, mais de 70 pessoas estavam desaparecidas na tragédia da Torre Grenfell, um edifício de 24 andares que tinha quase 800 moradores, a maioria imigrantes pobres.
"Não há até o momento indícios que sugiram que o fogo começou de modo deliberado", disse Cundy, antes de informar que as chamas foram completamente apagadas.
Ao mesmo tempo cresce a indignação com as autoridades por uma série de aparentes negligências.
O prédio, quase um conjunto habitacional, foi construído em 1974 em uma área de operários do rico distrito de Kensington e Chelsea, próximo do bairro boêmio de Notting Hill.
O trabalho dos bombeiros avança de modo lento e a inspeção deve demorar várias semanas no que agora prédio destruído, onde todos consideram praticamente certo que não há mais ninguém com vida.
Pela intensidade do fogo, "existe o risco de que não consigamos identificar todas as vítimas", advertiu o comandante da polícia.
Das vítimas fatais confirmadas, a identidade de apenas uma foi revelada, o refugiado sírio Mohamed Alhajali, de 23 anos, um estudante de Engenharia Civil da Universidade de West London. Seu irmão mais velho, que estava ao seu lado no momento da tragédia, sobreviveu e está internado em um hospital.
As ruas nas proximidades do edifício estão lotadas de fotos dos desaparecidos, levadas por amigos e parentes.
Raiva contra as autoridades
O prefeito de Londres, o trabalhista Sadiq Khan, foi o primeiro político a experimentar o mal-estar dos moradores da região ao visitar a área na quinta-feira. Perto da Torre Grenfell há três edifícios similares e os moradores não sentem que estão seguros.
Um homem jogou uma garrafa de plástico na direção de Khan, que foi constantemente interrompido pelos moradores quando tentava falar com a imprensa.
A primeira-ministra Theresa May não se expôs à revolta do público ao evitar os parentes e moradores, optando por visitar apenas as equipes de resgate, o que, no entanto, rendeu críticas de falta sensibilidade.
Apenas o líder trabalhista Jeremy Corbyn, que consolou uma mãe, foi bem recebido.
Nesta sexta-feira, May visitou os feridos no hospital, assim como fizeram, de modo separado, a rainha Elizabeth II e seu neto, o príncipe William.
"Neste país, neste século, é horrível que algo assim aconteça. Não podemos permitir que volte a acontecer", disse à rádio BBC o ministro das Comunidades, Sakhid Javid.
May ordenou uma investigação pública sobre a tragédia e a polícia abriu a própria investigação criminal, algo que só acontece em casos com indícios de crime.
Muitas suspeitas
As autoridades não determinaram a origem do incêndio, mas muitos moradores citados pela imprensa afirmam que teve início em uma geladeira em um apartamento, cujo morador acordou os vizinhos mais próximos para permitir a fuga.
O centro das suspeitas, em função da velocidade de propagação do fogo, é um revestimento instalado em toda a fachada e que pode ter atuado como uma chaminé.
O interior do revestimento é de plástico, altamente inflamável, e a empresa de instalação não recomendava o uso em arranha-céus ou hospitais, mas era mais barato que o modelo com centro não inflamável.
Os vizinhos afirmam que foi colocado apenas para dissimular a feiura do prédio aos olhos dos vizinhos ricos do bairro.
"Os moradores da Grenfell Tower reclamaram que a reforma estética não serviu de nada. Tratava-se de fazer com que parecesse mais bonito", disse a deputada do distrito de Kensington e Chelsea, a trabalhista Emma Dent.
Além disso, o processo de desregulamentação estimulado pelo governo de Margaret Thatcher nos anos 1980 resultou em uma lei que obrigava as fachadas externas a resistir a uma hora de fogo. A morte de seis pessoas em um incêndio em prédio de Londres em 2009 não se traduziu em nada, apesar das promessas.
A Torre Grenfell tinha apenas uma escada, o edifício não contava com portas corta-fogo e não tinha os sprinklers (sensor de teto que dispara água ao atingir certa temperatura), atualmente recomendados.