RIO ? Confundido pela polícia britânica com um terrorista, o eletricista mineiro Jean Charles de Menezes, 27 anos, morreu ao ser atingido por sete tiros pela polícia dentro de um vagão do metrô de Londres em 22 de julho de 2005. A capital britânica ainda se recuperava dos atentados ao sistema de transporte público de 7 de julho de 2005, que deixaram 56 mortos, incluindo quatro terroristas, e mais de 700 feridos. No dia 21, uma nova tentativa de ataque foi abortada. Um dia depois, policiais confundiram o brasileiro com Hussein Osman, um dos quatro terroristas islâmicos que planejaram o ataque frustrado.
Jean Charles nasceu em Gonzaga, Minas Gerais, e vivia havia três anos no Sul da capital britânica. Ele trabalhava como eletricista e atendia a um chamado naquela manhã. Ele foi seguido por policiais da Scotland Yard de casa até o ponto de ônibus e depois ao metrô, onde os policiais abriram fogo.
A morte de um inocente ganhou repercussão internacional. A polícia alegava estar sob forte pressão, em busca dos quatro suspeitos de terrorismo, e que os agentes que mataram o brasileiro temiam que ele fosse um homem-bomba, pronto a detonar explosivos no metrô.
? Por esta razão decidiram que deveriam matá-lo da maneira mais rápida possível ? justificou a representante das autoridades britânicas, Clare Montgomery.
Jean Charles usava boné, jeans e jaqueta, que, para a polícia, poderia esconder explosivos. Nenhuma arma foi encontrada junto ao corpo. jean charles de menezes
Os policiais não foram processados individualmente, mas em 2007, a Scotland Yard foi considerada culpada por falhas no caso e condenada a pagar uma multa de US$ 270 mil. Em 2008, uma investigação judicial terminou com um ?veredicto em aberto?, sem que o júri conseguisse determinar se os policiais agiram em legítima defesa. Apesar dos repetidos apelos por parte da família para que os oficiais envolvidos sejam condenados, promotores afirmaram não haver evidências suficientes para processar os envolvidos.
No Brasil, o drama chegou às telas em 2009, com Selton Mello interpretando o papel-título. O caso havia sido considerado encerrado pelo governo britânico, mas em 2015 foi apresentado à Câmara Alta da Corte Europeia de Direitos Humanos. À época, os britânicos reconheceram o erro da operação, abriram investigações internas e independentes e indenizaram a família de Jean Charles em 175 mil libras. A família recorreu, mas o tribunal vetou o apelo judicial.