?Tenho 33 anos e me formei em Ciências Econômicas em São Petersburgo, onde
nasci e vivi a vida toda. Sou especialista em Economia Internacional, e hoje
estou na maior produtora de TV da Rússia. Produzimos 12 canais pagos e precisamos comprar todo o conteúdo, para abastecê-los. É intenso.?
Conte algo que não sei.
Muitos não sabem que existe um trabalho como o meu. Pensam que a programação
é apenas gravada em estúdio e que cada canal produz os seus programas. Eu também
não sabia, antes de entrar nisso. Em geral, há diferentes produtoras que
elaboram programas para diversos canais.
E o que é tendência na TV russa de hoje?
Os formatos internacionalmente difundidos são os que fazem mais sucesso, como
?The Voice?, de música, e ?Quem quer ser um milionário?, de perguntas. Às vezes,
as emissoras russas até copiam modelos, mudam um detalhe e dizem que a ideia foi
delas, sem pagar pelo crédito. As séries locais também são tendência. Pegam uma
ideia fora e a reproduzem nas ruas da Rússia. Temos, hoje, uns 20 canais
públicos, cada um com o seu nicho e a sua audiência, e mais de cem pagos.
O que atrai na produção brasileira?
Novelas costumavam fazer muito sucesso na Rússia dos anos 1980 e 1990. A
coisa já não é a mesma, mas ainda existe um bom público.
Você, que cresceu na era das novelas, lembra-se de
alguma?
Sim. Lembro-me de ?A escrava Isaura?. Foi a primeira, um grande hit
na Rússia, no fim dos anos 1980. Eu tinha uns 10 anos, e todos se reuniam em
torno da TV para assistir. O sucesso seguinte foi ?Muñeca Brava?, da Argentina,
estrelada por Natália Oreiro. Ela ainda é amada pelos russos. Há uns três anos,
um canal comprou os direitos para retransmitir, e levou Natália até lá, para um
tour pelo país. Foi bastante engraçado.
Vemos cada vez mais a narrativa social nas novelas brasileiras,
como a inclusão de núcleos familiares gays. Há espaço para isso na TV
russa?
Na Rússia, essas novelas não seriam populares. Somos um
país muito conservador. Por enquanto, é inimaginável que um canal russo exiba
uma família gay, um núcleo de minorias sexuais. As emissoras não assumiriam esse
risco, porque bateriam de frente com a maioria da população, que é contra.
Restou influência soviética na TV? Alguma resistência a produções
americanas?
Acho que a União Soviética ficou longe, embora muita gente ainda viva como se
estivesse nela. Mas em São Petersburgo, em Moscou, nas cidades grandes, de um
modo geral, é diferente. Não há resistência a produções americanas, desde que
não tratem de temas delicados, como casais gays. Não há problemas quanto a
blockbuster, comédias e imagens de ação.
A TV continua em alta em seu país? A internet mudou
isso?
Na Rússia, as pessoas assistem muita à TV, seja pública ou paga. Por isso,
temos tantos canais, há demanda. É o mais tradicional hobby do russo. Você chega
em casa e logo liga a televisão. Temos internet, sim, mas ainda preferimos
assistir à TV o dia todo.
Em que ponto a TV influencia o modo de viver russo?
Praticamente quase toda a população acompanha os grandes
canais do país, que são o Canal 1 e o Canal Rússia. O que é dito ali fica na
cabeça das pessoas. Em termos de política, elas não buscam informações em outras
fontes, sejam jornais ou sites na internet. Preferem ficar com aquela
opinião.