Pecuaristas já pensam em abandonar a área na maior bacia leiteira do Estado
Vera Cruz do Oeste – Os produtores da maior bacia de leite do Estado, o Oeste do Paraná, estão vivendo momentos críticos por duas situações. A primeira delas é a falta de chuva. Há dois meses não há precipitação em volumes consideráveis e a pastagem não está dando rebrota. Isso significa que os animais se alimentam uma única vez e o pasto, que deveria brotar outras três vezes, não volta devido à secura.
Com isso, o custo de produção para pelo menos 20% dos produtores da região, em torno de quatro mil famílias, têm aumentado em até 20%. “São propriedades que não têm como se preparar com silagem ou outras formas de alimentação, como ração, por exemplo”, lembra o produtor Ibrahim Farath.
Em sua propriedade considerada modelo no País, localizada em Vera Cruz do Oeste, há cerca de mil vacas e metade delas em lactação. São de 15 mil a 20 mil litros por dia que abastecem o mercado nacional. “Cultivamos 100 alqueires de milho para preparar a silagem e não sofrer no inverno, mas sabemos que esta não é a uma realidade para todos os produtores. Nem todos conseguem ou podem se preparar assim. Os pequenos nem tem estrutura para isso”, afirma.
Com isso, o custo de produção está muito mais elevado para quem não conseguiu se preparar para o período de frio e menos chuvoso do ano e, com isso, para muitos, a prática está se tornando inviável. “O mercado está pagando hoje em torno de R$ 1,50 por litro, mas a gente paga quase isso para produzir. Se colocar tudo na ponta do lápis, pode até passar do que ganhamos e estamos pagando para trabalhar”, lembra o produtor de Santa Helena, Alcides Santos. Alcides pensa em abandonar o segmento.
Mercado continua abastecido e preço não sobe
Mas mesmo com a produção afetada, não falta produto no mercado e, por isso, não houve neste ano a disparada nos preços observada no início do inverno passado. Nos supermercados o litro longa vida pode ser encontrado, em promoção, por até R$ 2. Fora das ofertas, o preço médio tem girado em torno de R$ 2,50. Mas por que isso ocorre?
Porque desde o ano passado o governo brasileiro liberou, naquilo que os produtores avaliam como uma visão equivocada e de desestimulo à produção interna, a importação de leite dos países do Mercosul, principalmente da Argentina e do Uruguai. “Entendemos que esta é uma visão completamente estrábica e que afeta em cheio a produção nacional. Não falta leite no Brasil, então por que importar?”, completa Ibrahim Farath.
Entre os produtos que estão sendo trazidos, sobretudo pelos grandes laticínios brasileiros, está o leite em pó. Vale lembrar que ele só pode ser usado para a produção de derivados a partir da reidratado. Isso porque, o leite em liquido que antes era usado para a produção dos derivados, vem sendo substituído pelo em pó fazendo assim sobrar no mercado o leite brasileiro. E obedecendo uma tendência natural, quando há mais oferta do que procura, o preço cai ou pelo menos se mantém.
Na propriedade de Alcides dos Santos, permanecer na área é um questionamento quase que diário. A família não chegou ao ponto de dispensar leite, jogá-lo fora, mas sabe que se continuar da forma como está, isso pode ocorrer em breve. “O preço do litro pago para a gente está muito baixo, quase não compensa e se ficar muitos dias sem chuva ainda a tendência é piorar”, reforçou.
Para estes produtores, a notícia não é nada boa. Não há nenhuma previsão de chuva até o inicio da próxima semana e a expectativa é que elas não cheguem com força total nas próximas semanas.
Trigo em alerta
Outro setor que está sofrendo bastante é a triticultura. Segundo o técnico do Deral (Departamento de Economia Rural) José Pértille, não bastasse as três geadas consecutivas registradas na semana passada e que podem ter dizimado 50% dos quase 100 mil hectares destinados à cultura no Núcleo Regional da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) em Cascavel, o clima extremamente seco e a falta de umidade no solo estão fazendo com que as lavouras não se desenvolvam. “Os grãos não conseguem se desenvolver e a situação esta extremamente critica”, lamenta.
O levantamento das perdas deve ser contabilizado até a próxima semana. Há produtores que sequer vão colocar as máquinas no campo. Com isso, a colheita deste ano pode ser uma das piores da última década.