Cotidiano

Saiba quem são as vítimas do acidente de ônibus em São Paulo

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GUARUJÁ E BERTIOGA ? O movimento de parentes das vítimas do acidente de ônibus em Bertioga foi intenso nesta quinta no Instituto Médico Legal de Guarujá. Incredulidade, desespero e dor se sucediam enquanto os familiares das vítimas do acidente de ônibus que capotou na rodovia Mogi-Bertioga rememoravam as vidas ceifadas pelo tombamento do veículo fretado que fazia o transporte de estudantes universitários. Dezessete universitários e o motoristas morreram. A Polícia ainda não divulgou o nome de todas as vítimas.

Rita de Cássia Alves de Lima, de 19 anos, conquistou seu primeiro estágio em Enfermagem recentemente e estava se preparando para casar. Filha única, só deu trabalho para a mãe para vir ao mundo: foram sete anos de tratamento para que a caseira Maria Alves de Lima pudesse engravidar. No parto, conta ela, ainda teve eclâmpsia e ficou internada na UTI. Já na infância, a menina converteu-se em dua grande companheira. Na rotina de ambas estavam caminhadas diárias.

Acidentes pelo Brasil 09/06/2015

? Tudo se acabou. Arrancaram meu sorriso. E olha que ontem ela nem queria ir para a faculdade. Já reclamava da imprudência do motorista. Dizia que ele corria demais. Ficarei com a lembrança dela se despedindo ? diz a mãe, aos prantos, trajando um dos aventais de enfermeira que comprou para a filha trabalhar.

? Parece filme de terror. Não consigo entender. É uma dor que ultrapassa a alma.

Segundo Maria, a moça, que estudava na UMC e morava em Barra do Una, costumava dormir na casa de um tio, em São Miguel, porque tinha medo de pegar o transporte noturno. Estava fazendo aulas de direção para viajar com o próprio carro. Nesta quarta, teimou em não ir para a faculdade, mas tinha prova, e foi contrariada.

? Parece que ela estava adivinhando o que ia acontecer. Ela sempre reclamava desses motoristas ? lamentou o tio, Emanuel Alves do Nascimento.

Janaína de Oliveira, de 20 anos, também estava entre as vítimas. Ela cursava Farmácia na UMC. O ex-namorado, Pablo Henrique, lembrava do sorriso da companheira enquanto resolvia a burocracia para o sepultamento de Janaína.

? Ela tinha o sorriso largo, era alegre. Deixou uma irmã de dez anos. A mãe tem pressão alta e está na casa de uma tia minha ? contou Henrique.

ABAIXO-ASSINADO CONTRA MOTORISTA

A família de Nathália Rodrigues Teixeira, de 23 anos, contesta as palavras do irmão do motorista e afirmou que ela e outros universitários providenciavam um pedido à empresa de ônibus para que Antônio Carlos não mais conduzisse o veículo. A jovem estudava Ciências Contábeis na UMC e morreu no acidente.

? Eles queriam que tirassem esse motorista ? afirmou um parente, que não quis se identificar. Segundo ele, Antônio Carlos corria demais.

A cunhada de Nathália, Jéssica, lembra da última mensagem enviada pela jovem, que trabalhava em Bertioga, mas morava em Barra do Una.

? Ela era muito espontânea e divertida. Fazia tudo que pediam. Ia casar no ano que vem. Essa semana foi aniversário da minha filha de cinco anos e as duas foram para a cozinha. Ela estava ensinando a sobrinha a cozinhar e mandou uma foto ? lembrou Jéssica.

MOTORISTA RECLAMOU DE NEBLINA NA ESTRADA EM SMS

Filho de motorista de caminhão, o motorista Antônio Carlos da Silva, de 38 anos, colocou na cabeça ainda garoto que seguiria os passos do pai. Nem com a morte do patriarca da família, há cinco anos, em um acidente, ele pensou em desistir da carreira, interrompida nesta madrugada. Deixa uma filha de 14 anos e outro de dez anos. Estava de casamento marcado.

? Ele trabalha como motorista há mais de dez anos. Ralou para chegar onde estava, amava o que fazia e era muito responsável, até porque sabia que transportava jovens. Nunca se acidentou. E os ônibus eram bons e novos. Dia desses ele não foi trabalhar porque o ônibus foi para a revisão. Agora tudo acabou ? lamentou o irmão, o marinheiro Anderson Luiz da Silva, de 27 anos.

Silva diz que recebeu um SMS do irmão por volta das 22h avisando que ia demorar para chegar em casa, em Caraguatatuba, onde será enterrado. Ele dizia, na mensagem, que havia muita neblina na estrada. Silva não soube informar se o motorista havia parado o veículo para escrever a mensagem de celular. Diante de relatos de parentes de que os usuários do transporte reclamavam da imprudência do motorista, ele afirmou:

? Sempre andavam quatro carros, um atrás do outro. E isso diminui a possibilidade de correr. E até agora chegou a informação pra mim que o tacógrafo marcava 48km/h. Isso não é correr.

NO IML, INCREDULIDADE

damiao2.jpgO cearense Damião Braz, de 33 anos, chegou em Barra do Una há 15 anos à procura de uma vida melhor. Abrigou-se na casa de uma das irmãs e passou a trabalhar como cozinheiro e pedreiro. Há alguns anos, resolveu cursar engenharia na Faculdade de Mogi das Cruzes para se especializar e dar uma vida melhor para o filho, hoje com 12 anos. Teve o sonho interrompido quando voltava de uma noite de aula, quando o ônibus capotou com 42 pessoas na rodovia Mogi-Bertioga, por volta das 23h de quarta-feira, em Bertioga, no litoral paulista. Damião é um dos 18 mortos no acidente. Um grupo formado por três assistentes sociais, um psicólogo e uma psiquiatra está acompanhando os parentes das vítimas. Segundo o IML, cinco corpos já foram liberados. Nem todos os familiares chegaram ao local para fazer o reconhecimento.

? Não há palavras para definir essa dor. Cada um tem a sua, mas perder um parente desta forma dói a alma ? afirma a secretária da Secretaria de Desenvolvimento e assistência social Maria Angélica de Araújo.

? Ele é o primeiro da família a fazer faculdade. Veio tentar uma vida melhor. Minha avó está arrasada ? conta a sobrinha de Damião, Jessica Maiara Braz, de 19 anos, no IML do Guarujá.

Segurando a foto de Damião sobre um cavalo, Jessica lembra de um tio que adorava animais, ia todo ano de carro para o Ceará ver a mãe, dona Margarida, de 55 anos, e tocava violão. Sentirá falta de seus acordes.

? A esposa dele está dopada e o filho em choque ? lamenta ela.

HOMENAGENS NAS REDES SOCIAIS

Mensagens em redes sociais são uma das formas que parentes e amigos encontraram para prestar homenagens às vítimas do acidente. Uma delas é o estudante Guilherme Mendonça de Oliveira, de 19 anos. Familiares e amigos de Guilherme substituírem suas fotos de perfil por mensagens de luto.

Annyne Xavier Mendonça, tia de Guilherme Mendonça de Oliveira, prestou homenagem em sua página no Facebook. Já na madrugada, a tia ficou sabendo do acidente pelas redes sociais. Mais tarde, ao saber que seu sobrinho estava entre as vítimas, publicou: ?Não entendemos e muitas vezes não aceitamos os planos de Deus!!! Fica (sic) tantos porque (sic)… Mas a vontade do Senhor foi recolher vc… Agora fica (sic) a saudade e as lembranças!!! A dor é muita… A tia te ama Guilherme?.