Cotidiano

Rompimentos comerciais podem custar US$ 500 milhões ao oeste

Cascavel – Quase um terço das vendas feitas no oeste do Paraná para outros países ano passado foi para países que podem ter as relações comerciais arranhadas com os direcionamentos de mercado que vêm sendo sinalizados pelo Governo Jair Bolsonaro.

Essas vendas correspondem aos principais produtos exportados pela região, como carnes, produtos químicos orgânicos e cereais que, juntos, representam meio bilhão de dólares.

A aproximação que Bolsonaro chama de “estratégica e comercial” com o governo americano, pode afetar, por exemplo, a relação brasileira com o mercado chinês que, sozinho, é o maior comprador na balança comercial brasileira. Do oeste, apenas China e Hong Kong compraram ano passado US$ 240 milhões, quase 15% do total exportado.

A economista Regina Martins avalia que esses direcionamentos comerciais devem ser muito bem cuidados: “No século 21 não se pode escolher mercados. Se tivermos condições de oferecer para muitos e eles estiverem dispostos a comprar, temos que vender. Não se pode colocar em xeque e destruir relações conquistadas pelo Itamarati ao longo das últimas décadas. É preciso cautela, diálogo, bom senso e decisões inteligentes que favoreçam o mercado brasileiro possibilitando a abertura de mercados, não o fechamento”.

Para o especialista de mercado Neoroci Frizzo, a aproximação com o mercado norte-americano pode ser benéfica, sendo a oportunidade de mandar mais produtos para lá. “Os Estados Unidos eram o nosso principal parceiro comercial até a crise enfrentada por eles em 2008, quando acabaram se retirando um pouco do mercado e então a China passou a ser a nossa principal parceira, mas a reaproximação com os americanos seria benéfica para as nossas exportações”, avalia.

Liga árabe é a maior compradora de carnes

O boom das exportações do oeste tem nome e sobrenome: complexo de carnes, especialmente de aves. Com plantas inteiras construídas e que estão sendo edificadas e adaptadas para atender à comunidade árabe em toda a região, a mudança da embaixada de Israel de Tel Aviv para Jerusalém pode trazer impactos enormes às exportações brasileiras.

As transações comerciais do oeste do Paraná para a chamada Liga Árabe no ano passado – considerando inclusive a Síria – somaram US$ 190 milhões. “A mudança da embaixada, reconhecendo Jerusalém como capital de Israel, é algo que afronta a comunidade árabe. Ano passado uma comitiva do Egito cancelou a visita ao Brasil depois de esse assunto ter sido assumido pelo presidente Jair Bolsonaro. Essa alteração pode trazer retaliações às relações comerciais. É preciso mais uma vez ter muita cautela”, segue a economista Regina Martins.

A mudança agradaria ao Estado de Israel, com quem o presidente Bolsonaro também quer estreitar as parcerias comerciais.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, veio para a posse de Bolsonaro e, em meio a muitas denúncias que enfrenta por corrupção, o viés comercial principal diretamente relacionado a inteligência e materiais bélicos produzidos naquele país.

Em contrapartida, a região oeste exportou para Israel ano passado menos de US$ 75 mil. “Particularmente, não acredito em fechamento de mercado, mas de ampliação de mercados. Este é um novo momento para a política econômica e para o mercado internacional. Então acredito que é hora de nos aproximarmos mais de outros países, aprimorarmos nossas relações e abrirmos novos mercados”, afirma o presidente do Sindicato das Cooperativas Agrícolas, Agropecuárias e Agroindustriais da Região Oeste do Paraná, Dilvo Grolli.