A renúncia do ministro da Transparência, Fiscalização e Controle pôs no caminho correto o desdobramento final do episódio em que Fabiano Silveira foi flagrado conspirando contra a Lava-Jato. Teria sido um equívoco do presidente interino, Michel Temer, de dimensões incalculáveis, mantê-lo no cargo, como chegou a fazer, em contradição com o princípio da limpidez abraçado pelo governo e na contramão das fortes pressões que pediam a saída do ministro. O gesto de Silveira livrou o presidente de um desgaste maior.
Era inescapável o simbolismo de uma situação em que o responsável por controles e transparência dentro do governo apareceu criando obstáculos ao combate à corrupção. Isso ficava evidente nos diálogos entre Silveira e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), captados pelo gravador do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e divulgados pelo ?Fantástico?. Mais uma conspirata contra a Lava-Jato.
Silveira, funcionário de carreira do Senado protegido por Renan, foi indicado por este para ocupar um posto-chave no combate a agravos à ética na administração pública. Em delação à Procuradoria-Geral da República, Machado deu mais detalhes sobre as movimentações do ex-ministro para inviabilizar as investigações do Ministério Público. Pelo menos uma delas foi gravíssima: ele procurou o MP atrás de informações sobre Renan na Lava-Jato. As gravações não fazem referência diretas a essas gestões, mas falam por si diálogos de Machado e Renan comemorando o resultado da missão junto à PGR.
Ao longo do dia, Temer manteve Silveira, até ser salvo pela renúncia, induzida ou não. Mas o episódio contém ensinamentos que o presidente não pode negligenciar. Assim como assumiu um país economicamente depauperado, Temer também o encontrou eticamente degradado, em vista dos escândalos do mensalão e do petrolão, frutos do bilionário mercado de propinas financiadas pelo superfaturamento de obras no mandarinato do lulopetismo. Tais ?malfeitos? contribuíram para que se formasse mal juízo dos governos petistas e aliados, incluindo o PMDB de Temer.
Por isso, o compromisso de Temer com a transparência tem de ser inquestionável. E a inaceitável manutenção do ministro teria ainda outras nefastas consequências, de ordem política. Por mais fantasiosa que seja a ideia de que o impeachment foi uma manobra para enfraquecer a Lava-Jato, as gravações dariam força ao discurso lulopetista de que o afastamento de Dilma foi um ?golpe?. O PT não perderia essa brecha para alvejar Temer. A saída do ministro tira essa munição do partido e contribui para desmontar o devaneio.
A referência em eventuais casos semelhantes precisa ser a do desfecho, correto, dado ao episódio Romero Jucá, igualmente abatido pelo gravador de Machado. O presidente não pode relutar em dar demonstrações firmes de apoio à Lava-Jato, compromisso tão essencial para o governo como a contenção da crise econômica.