Cotidiano

Renan diz que Temer precisa ?reorientar os sinais? sobre influência de Cunha

33202020681_0ef92fa966_o.jpgBRASÍLIA ? Depois de uma conversa “franca” com o presidente Michel Temer na noite de ontem, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), disse nesta sexta-feira que, se não há influência do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no governo, é preciso que Temer dê os “sinais disso”.

? O presidente deu informações, disse que não está havendo a influência do Eduardo Cunha. Acreditamos no presidente. Se não está havendo, melhor. Só precisamos redirecionar os sinais então ? disse Renan ao GLOBO, mantendo as alfinetadas:

Renan cunha

? Porque os sinais que estão postos ? todos ? atestam que há mais do que uma influência, há uma remontagem a partir de um processo de chantagem, e o presidente não pode absolutamente ficar refém disso.

Essa foi a reação de Renan à declaração de Temer de que Eduardo Cunha não tem “influência nenhuma no governo“, em entrevista hoje ao colunista Jorge Bastos Moreno, na CBN.

Em seu gabinete em plena sexta-feira, Renan disse ao GLOBO que o diálogo com Temer foi “verdadeiro”. Por mais de uma hora e meia , o líder peemedebista reclamou do preenchimento de cargos do governo por pessoas ligadas a Eduardo Cunha. Um dos exemplos é o novo líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE).

? A conversa foi muito boa, franca, verdadeira. Fiz essa avaliação a partir dos fatos, tivemos um período de desmobilização em função do carnaval.

O encontro foi no Palácio do Planalto, na noite de ontem. Os dois estavam sozinhos e chegaram a fazer um lanche. Renan não foi para a Paraíba nesta sexta-feira, acompanhar Temer. Ele disse que precisava ficar em Brasília, para alguns compromissos.

Na conversa, Renan reclamou do que chamou ao longo do dia de quinta-feira de “prato feito”, nomeações de pessoas ligadas ao antigo centrão da Câmara, que era controlado por Eduardo Cunha. Irritou a ascensão de André Moura a líder do governo no Congresso, de Arthur Lira (PP-AL) como líder do seu partido; e da possibilidade de o atual subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, ficar no lugar do ministro licenciado Eliseu Padilha. Rocha é advogado e ligado a Cunha.

Renan disse que o cargo de líder do governo no Senado é “tradicionalmente” ocupado por um senador.

? Imagina o que significa colocar o André Moura para conduzir a bancada de 22 senadores do PMDB. O núcleo originário, que sempre foi conduzido pelo Eduardo Cunha. A emissão de um sinal que você está remontando esse núcleo ? disse Renan.

DEFESA DO PARTIDO

Renan disse que reclama como líder do PMDB, para defender o partido. Mas, nos bastidores, há uma disputa de espaço visando a eleição de 2018, já que ele terá que concorrer em Alagoas ao Senado.

? O papel do líder do PMDB é qualificar o partido. Não colaborar com o rebaixamento do partido.

Na conversa, Temer disse que não teve tempo de informar a todos sobre as mudanças. Mas foi confrontado de que a leitura geral era de que o grupo de Eduardo Cunha continua atuando.

? Perón (presidente argentino Juan Domingo Perón) dizia que política não se estuda, se compreende ? disse Renan a Temer.

O líder do PMDB disse que o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) defende o afastamento do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e de outros citados na Lava-Jato do comando da legenda. O próprio Renan é investigado na Lava-Jato, mas não é da Executiva.

? Isso (o pedido de Marun) é rebaixar o partido. O líder tem função institucional, não pode concordar com isso ? disse o senador.

PREVIDÊNCIA

Renan também avisou a Temer que a reforma da Previdência precisa ser alterada para ser aprovada.

? Tem que humanizar a proposta. Ela é exagerada, exagerada na transição e no tempo de contribuição. Tem que ser uma reforma no limite, possível, humana. Quem propôs 49 anos de contribuição para trabalhador rural do é, sinceramente, porque não conhece o Nordeste ? criticou Renan.