BRASÍLIA – O presidente Michel Temer disse que a reforma da Previdência evitará com que o país se transforme em estados com dificuldades financeiras, como o Rio, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Temer deu entrevista nesta sexta-feira ao colunista do GLOBO Jorge Bastos Moreno, na estreia do programa “Moreno no Rádio”, na rádio CBN, que vai ao ar às sextas-feiras, das 14h às 15h.
Pela primeira vez, Michel Temer sinalizou que poderá negociar termos da reforma previdenciária. O peemedebista afirmou que haverá discussão na proposta de emenda à Constituição (PEC) “até onde” o governo puder.
? O governo mandou aquilo que acha necessário para que o Brasil não se transforme… Vou citar aqui, com toda a liberdade, porque já está já devidamente publicizado, não é? Que é a história do Rio de Janeiro, a história do Rio Grande do Sul, a história de Minas Gerais… Estados que estão passando por grandes dificuldades, exata e precisamente em função do fenômeno previdenciário. Então o Brasil não pode, daqui a quatro, cinco anos, transformar-se numa figura como está acontecendo com os estados brasileiros ? declarou Michel Temer na entrevista a Jorge Bastos Moreno, e completou:
? Haverá objeções, observações lá no Congresso (à reforma)? Haverá, e é natural que haja. Nós precisamos dialogar, não é? E vamos até onde pudermos.
Questionado sobre eventuais afastamentos e demissões de ministros citados em colaborações premiadas da Operação Lava-Jato, Temer voltou a dizer o critério de só demitir um ministro quando ele se tornar réu. Quando for denunciado, esse integrante do governo deverá só ser afastado temporariamente. Contudo, Temer reconheceu que o próprio ministro pode pedir para sair, devido à “pressão”.
? Pode ocorrer, e estou de acordo com você, que haja uma tal pressão que o próprio ministro, em dado momento, diga: “Olhe, não posso continuar, não quero continuar, isso aqui está me prejudicando demais, e eu vou cuidar da minha vida”. Isso pode acontecer, mas aí você sabe, eu tenho que esperar os acontecimentos ? contou. Nos próximos dias, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve enviar ao Supremo Tribunal Federal a lista com pedidos de inquéritos contra políticos, baseada em 78 delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht. Em seguida, esses pedidos serão divulgados.
Depois de ter sido alvo de críticas do líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), Temer contemporizou a relação dos dois, e negou que o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) influencie o Palácio do Planalto, rebatendo Renan.
? Não, absolutamente não existe (influência de Cunha). E com o senador Renan eu tenho dialogado permanentemente, tenho certeza de que nós vamos continuar dialogando. Ele vai continuar nos ajudando, preocupado que é com o país, e sabe a importância das reformas. Portanto eu tenho absoluta convicção de que ele vai nos ajudar. Evidentemente, essas afirmações não têm sustentação, não é? Imagine se o Eduardo Cunha, que está, enfim, distante, não é, pode influenciar alguma coisa aqui. Não há influência nenhuma ? afirmou Temer, que emendou dizendo que a relação dele com Calheiros vai continuar “sólida como foi no passado”. O presidente citou ainda que a escolha do ministro da Justiça, o deputado peemedebista Osmar Serraglio, aliado de Cunha, só se deu porque outros dois cotados para a pasta ? Antônio Cláudio Mariz e Carlos Velloso ? haviam recusado assumir o ministério.
Temer diz já ter vencido os discursos de que o impeachment foi um “golpe” e que a economia não iria retomar o crescimento.
? Você sabe que nos primeiros momentos era a história do golpe, do “Fora, Temer”. Depois, quando verificaram que não prosperava, passaram a dizer que a economia iria para o fundo do poço. E não foi, não é? Agora não sei o que é que vão inventar ? afirmou o presidente, repetindo que não irá se candidatar à presidência em 2018.
Na entrevista, Temer leu um poema que escreveu recentemente. Ele o fez em um guardanapo, durante um voo.
“Não percebeu. Mas uma semente pousou em seu coração. Germinou. Cresceu em galhos, folhas e flores. Atravessou os caminhos do seu corpo. Boca, olhos, ouvido, tato olfato. Todos os sentidos tomados pela mão pousada sobre a mão, pela proximidade da respiração, pelo leve roçar dos dedos, pelo olhar que penetrava, pelo perfume que dela vinha. A planta assim nascida tinha nome. Paixão. Que não pode se manter, porque o objeto desse amor não tinha a mesma sensação. Sem correspondência, a planta feneceu. Percorreu de volta todos os caminhos. Aninhou-se em seu coração. Voltou a ser simplesmente semente.”, diz o poema.