Cotidiano

Rebel Layonn, cantor: "A arte é nossa última arma"

“Meu nome é James Vergneau, mas sou chamado de Rebel Layonn desde o início da minha carreira. Nasci em Porto Príncipe, Haiti, e me considero um homem de família. Tenho 38 anos e dois filhos. Além de músico, sou professor de yoga e já estudei metafísica. Foi a forma que encontrei para trabalhar minha espiritualidade”.

Conte algo que não sei.

Antes de produzir arte é preciso vivê-la. A maior obra de um artista é a sua vida. Não importa se na música ou em qualquer outra atividade, é preciso que exista uma mensagem no seu trabalho. E se você não pratica aquilo que quer passar aos outros, como espera que acreditem em você?

E como a música se encaixa nesse pensamento?

A música não tem valor algum quando não é utilizada para provocar mudanças na sociedade. Para mim, é uma forma de lutar contra todos os preconceitos e injustiças. De motivas as pessoas a agirem de modo positivo. É uma missão. Para mim, meu papel é levar uma mensagem benéfica para o meu país e para o mundo.

E de que forma consegue exercer esse papel no Haiti?

O Haiti ainda tem muitas barreiras a ultrapassar, problemas estruturais. Quando um país não vai bem nem econômica nem sociopoliticamente, isso afeta nossos projetos. Não temos mercado musical bem organizado nem política de direito autoral bem estruturada. Porém, posso ver como a arte, de forma em geral, afeta nosso povo.

Como ela os afeta?

A música, ou outra forma de arte, toca o coração, traz de volta a nossa humanidade e cria união entre as pessoas. Quebra essa ilusão de que vivemos em mundos separados e mostra como estamos interconectados. Isso é fundamental neste momento internacional delicado.

Que momento delicado é esse?

Estamos numa era de transformação, e, se você não mudar, é um imbecil. Sempre digo aos novos artistas: “Não importa que seja na música, no audiovisual, no esporte, é preciso que vocês levem a positividade para a sua comunidade, para o nosso mundo.” Temos que propagar a ideia de universalidade.

Qual sua definição para essa ideia?

É a ideia de eliminar fronteiras. Somos ligados pelas consequências dos nossos atos e pela nossa cultura. Quando cheguei ao Brasil, ouvi ritmos que eram iguais aos da cultura vodu e fiquei surpreso. Temos diferenças, mas, quando vemos como o universo foi criado e como tudo precisa se encaixar para funcionar, vemos que somos um só. É assim que entendemos a universalidade.

É possível ver o resultado desses impactos?

Infelizmente, no meio político, não há nada que funcione perfeitamente no Haiti. Parece que todos os setores estão corrompidos. Porém, apesar de todo esse cenário pessimista, o que nos salva é a cultura. Mesmo se o governo não der o devido respeito a ela, até porque normalmente quem está à frente no ministério é um político, e não alguém da área, o povo se importa. É a nossa terapia, é o que nos conforta. A arte é a nossa última arma.

Vê solução para a crise haitiana?

Perdemos a confiança em nossos políticos. Há mais de 40 anos estamos nesse circo. É como se a política não funcionasse. A democracia norte-americana não serve para o Haiti. Não votar foi uma forma de rejeitar a política atual. A solução talvez sejam os artistas. Se não deu certo com um político, então vamos tentar com um músico. Um artista para ministro, para a Presidência. Há tempos que os políticos não fazem nada pela gente, então devemos experimentar outras coisas. Temos barreiras para ultrapassar, será um trabalho longo.