RIO ? Embaixador russo de longa experiência e veterano da Guerra Fria, Sergey Kislyak virou pivô no novo escândalo que provoca suspeitas sobre as relações do governo do presidente dos EUA, Donald Trump, e autoridades da Rússia. Ele manteve comunicações com pelo menos três representantes do atual chefe da Casa Branca ainda durante a campanha eleitoral. O diplomata altamente respeitado por colegas em seu país já esteve lotado nos Estados Unidos três vezes e já ocupou quase todos os cargos de peso na chancelaria russa ? inclusive, de acordo com autoridades da Inteligência dos EUA, como importante espião e recrutador de espiões.
Kislyak se comunicou com o ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn, que se demitiu após a história vir à tona, o procurador-geral, Jeff Sessions, e o genro e alto conselheiro de Trump, Jared Jushner. A história aumenta as suspeitas de que os russos tenham se esforçado para manipular as eleições dos EUA, favorecendo Trump em detrimento da sua ex-rival democrata, Hillary Clinton.
A Rússia nega que Kislyak tenha atuado como espião, condenando o que chama de especulações infundadas da imprensa. O diplomata se juntou à diplomacia em 1977, no ápice da Guerra Fria. Hoje com 66 anos, se formou engenheiro em Moscou na juventude e depois estudou na Academia da União Soviética de Comércio Exterior.
Entre 1985 e 1989, trabalhou pela primeira vez como enviado aos Estados Unidos. À época, o então presidente russo Mikhail Gorbachev mantinha altos esforços para a abertura e a reforma da União Soviética. Segundo diplomatas americanos, o forte de Kislyak era o trabalho com controle de armas.
Entre 1998 e 2003, foi embaixador da Rússia para a Otan. E, mais tarde, participou das negociações com os EUA para extender e adicionar amendas a acordos de controle de armas enquanto vice-ministro das Relações Exteriores.
Além disso, Kislyak posteriormente foi embaixador do Kremlin para Washington durante nove anos ? um período mais longo do que o comum. Ele chegou aos EUA em 2008, pouco antes da eleição do ex-presidente Barack Obama, antecessor de Trump. Desde então, é descrito como um Washington insider.
Em sua longa carreira política, o diplomata ? que é casado e tem uma filha ? levou uma vida típica para um enviado internacional. Se fez uma presença de confiança nos circuitos de recepções, chás e fóruns do calendário de embaixadores. Desde que chegou a Washington, é regularmente visto caminhando pela cidade, entre uma reunião e outra.
Quem participa de eventos com o embaixador o descreve como um diplomata gracioso, embora talvez menos polido ? e também combativo ? quanto o seu famoso chefe, o chanceler russo, Sergey Lavrov.
Em seus discursos, Kislyak vem sendo um importante comentarista sobre as relaçõe sentre Moscou e Washington. Em novembro, disse que os dois países vivam o pior período da sua relação, apesar de a divisão ideológica da Guerra Fria já tivesse passado há muito tempo. Mas reafirmou que há mais coisas para unir do que dividir as nações: o combate ao terrorismo, à intolerância religiosa e às mudanças climáticas.
Em abril do ano passado, o embaixador estava na plateia quando Trump fez seu primeiro grande discurso sobre política externa. Na ocasião, o então candidato disse: “Eu acredito no alívio das tensões e a melhoria das relações com a Rússia ? de uma posiçao de força ? é possível, absolutamente possível”.
Em seguida, ao jornal “Politico”, o embaixador reagiu ao discurso do republicano. Disse que as propostas de Trump eram interessantes, mas que era necessário entender qual o seu objetivo.
? É necessário iniciar cuidadosamente ? disse o diplomata, em referência ao processo de aproximação entre as duas potências.