RIO – A empregada doméstica Nelma de Sá Saraça, de 42 anos, teve o nome usado pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) para esconder a titularidade da linha telefônica para onde os executivos de empreiteiras ligavam, como apontaram as investigações da força-tarefa da Lava-Jato no Rio. De acordo com o Ministério Público Federal, era por meio desse telefone que o peemedebista marcava encontros para discutir propinas em obras públicas. O jornal “Folha de S.Paulo” encontrou Nelma em Maricá, na região metropolitana do Rio, onde ela mora.
Ao saber do uso indevido de seu nome, a empregada doméstica disse:
– Que sem vergonha.
Nelma vive de aluguel num imóvel de cerca de 30 metros quadrados, com quarto e sala, na zona rural de Maricá, que ela divide o imóvel com cinco parentes. A reportCabralgem conta que a rotina da empregada é acordar segunda a sábado às 6h para ir ao centro de Maricá, para onde vai andando por 50 minutos para economizar os R$ 2,70 cobrados de tarifa da van. Pelo trabalho, ganha um salário de R$ 1.100.
À reportagem, a doméstica disse não ter ideia de como seu nome e CPF foram usados no cadastro do número usado pelo ex-governador. Ela disse que já sabia da prisão do ex-governador, mas não acompanhou as notícias em que seu nome apareceu. A informação sobre essa linha telefônica foi repassada aos investigadores pelo delator Alberto Quintaes, da Andrade Gutierrez.
A ocultação do número de telefone também foi um artifício usado por outros dois suspeitos de integrar o esquema: Carlos Emanuel Miranda, operador financeiro, e Wilson Carlos, ex-secretário de Cabral. A defesa de Cabral não respondeu ao contato da reportagem.
Nelma, que estudou até a 4ª série do ensino fundamental, disse à “Folha” não lembrar se votou em Cabral em alguma eleição. A empregada contou que começou a trabalhar aos 14 anos servindo café num cassino em Niterói. Em seguida, virou auxiliar em padaria, ajudante de cozinha e bordou por encomenda. Nelma mora com dois dos quatro filhos, que têm entre 2 e 19 anos.