SEUL ? A Corte Constitucional da Coreia do Sul confirmou o impeachment da presidente Park Geun-hye. Ela estava afastada do cargo desde dezembro do ano passado, por decisão parlamentar, após ter sido acusada de extorsão, suborno, abuso de poder e vazamento de segredos de Estado num grande escândalo que tomou as manchetes mundiais. Com a decisão, Park se torna a primeira chefe de governo eleita democraticamente no país a não cumprir o mandato de cinco anos. Com a decisão, o primeiro-ministro, Hwang Kyo-ahn, continua como presidente interino até uma nova eleição presidencial, que deve acontecer até o dia 9 de maio ? um prazo de 60 dias, segundo as leis eleitorais do país. PARK
Lee Jung-mi, juíza-chefe do Tribunal Constitucional, disse que a corte acredita que Park abusou de seu poder e violou a Constituição para ajudar Choi a extorquir dinheiro através de suas fundações. Ela começou a audiência enfatizando que a corte tentou garantir um julgamento justo e resumiu os últimos meses de audiências.
? Espero que o veredicto ponha fim à divisão na opinião pública e pavimente o caminho para a harmonia e a cura ? afirmou, antes de ler a decisão.
Park, 65 anos, é suspeita de conluio com Choi Soon-sil, amiga próxima e ex-assessora, para pressionar grandes empresas a doarem às duas fundações criadas para apoiar iniciativas políticas. Park negou ter cometido qualquer crime, mas pediu desculpas por seu envolvimento com Choi.
Choi foi presa em novembro do ano passado, acusada de fraude e envolvimento nos assuntos de Estado por sua amizade com Park, o que teria beneficiado a ex-presidente através de suas fundações sem fins lucrativos com as decisões do governo. Antes da prisão, a melhor amiga de Park, de 60 anos, foi interrogada pelos promotores sul-coreanos para responder às alegações de exercer influência inadequada nos assuntos de Estado. Ainda há suspeita que ela colaborou em discursos presidenciais e teve acesso a documentos secretos.
O escândalo envolveu empresários de grandes empresas, como o herdeiro do grupo Samsung, Lee Jae-yong. Ele é acusado, entre outros crimes, de ter pago 40 milhões de dólares em subornos para Choi, em troca de favores políticos. O caso, que perdura desde outubro de 2016, levou milhões às ruas das maiores cidades da Coreia do Sul em protestos contra a então presidente. A instabilidade política no país também levantou um debate interno se a nação estaria enfraquecida perante as ameaças da vizinha Coreia do Norte.
Filha do ditador militar Park Chung-hee, que liderou a Coreia do Sul por 18 anos depois de tomar o poder num golpe em 1961, Park foi a primeira mulher a chegar à Presidência no país. Apelidada de “Rainha das eleições”, a conservadora, que foi deputada por 15 anos, afirmou ter entrado na política para ajudar a salvar seu país durante a devastadora crise financeira asiática de 1997 e 1998. Park nunca se casou ou teve filhos, pontos que seus opositores insistiam em destacar numa tentativa de frear seu favoritismo.
O QUE ACONTECE AGORA?
Park poderá ser interrogada no processo criminal, algo que se recusou a fazer durante meses usando sua proteção legal enquanto chefe de Estado ? porém, agora com a possibilidade da emissão de um mandado de prisão contra ela, será difícil uma nova recusa por parte de Park acontecer.
Com a decisão, uma nova eleição presidencial será feita dentro de 60 dias ? até 9 de maio ?, de acordo com as leis eleitorais da Coreia do Sul. As pesquisas de opinião apontam vitória do político liberal e atualmente de oposição Moon Jae-in. Moon, que perdeu para Park no pleito presidencial de 2012, pode trazer mudanças significativas para o país depois de uma década de governo conservador da adversária. Em seus discursos, salienta a necessidade de um diálogo com a vizinha Coreia do Norte, que poderia ser uma reviravolta quando comparada à linha-dura de Park. Moon também promete considerar os planos do Sul para implementar, neste ano, um sistema antimíssil americano contra as ameaças nucleares de Pyongyang, uma instalação que a China afirma ser uma ameaça à segurança.