RIO – O brasileiro nunca trocou tanto de operadora. No ano passado, a chamada portabilidade numérica – sistema que permite ao usuário mudar de empresa mantendo o número – chegou a 3,3 milhões de pedidos, um avanço de quase 27%. E em janeiro deste ano o movimento começou batendo recorde para o mês desde que a modalidade foi criada no Brasil, há nove anos.
Pelos dados da consultoria Teleco, com base na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), mais de 325 mil pessoas pediram para mudar de empresa somente no primeiro mês deste ano. É uma alta de 14% em relação ao mesmo período do ano passado. Em geral, quem faz portabilidade é o cliente pós-pago, considerado mais rentável pelas operadoras. Existem hoje, diz a Anatel, pouco mais de 79 milhões de linhas pós-pagas.
O que é preciso saber sobre portabilidade telefônica
Segundo especialistas, a busca por promoções com a retração na renda por conta da crise econômica ajuda a explicar o avanço da portabilidade. O troca-troca vem sendo impulsionado também pelas próprias operadoras, que estão travando uma verdadeira disputa pelo cliente, com promoções e descontos em aparelhos.
Para fazer a mudança de operadora, o cliente precisa atualizar seus dados cadastrais, como endereço e CPF, na tele em que possui a linha. O processo de transferência, geralmente, é rápido e feito pela empresa que está recendo o cliente. Na maior parte dos casos, a companhia marca um horário para a mudança de sistema, e a linha pode ficar sem sinal por algumas horas.
Segundo Eduardo Tude, da Teleco, a portabilidade vai continuar crescendo no país, embora represente pouco em relação ao total de usuários do país. Para ele, o aumento da portabilidade, além da busca por preços melhores, encontra respaldo no avanço de usuários pós-pagos no Brasil. Enquanto a base pré-paga caiu 10,75% no ano passado, o número de celulares de conta subiu 8,32% no mesmo período.
– A portabilidade vai continuar crescendo – diz Tude.
Aparelho pode até sair de graça em promoção a clientes
A TIM, por exemplo, já tratou da portabilidade em suas campanhas publicitárias neste ano. Saverio Demaria, diretor de Marketing da empresa, cita exemplos de ofertas de aparelhos e planos para atrair clientes de outras operadoras. Ele lembra que o Samsung Galaxy S7, por exemplo, é vendido com um desconto de R$ 1.500 para quem trouxer o número para a TIM e contratar um plano pós-pago da operadora com uma franquia de dados a partir de 5GB, plano que também recebe um desconto.
– Com iniciativas como essas, a TIM espera continuar atraindo clientes e aumentando sua base de valor – destacou Demaria.
A Nextel também vem investindo pesado. No ano passado, 383,6 mil clientes portaram seus números para a empresa, um aumento de 40% em relação ao ano anterior. Esse volume representou também cerca de 40% de todos os novos clientes da operadora. Muitos vieram atraídos pelas promoções. Em alguns casos, há desconto de R$ 40 por mês no preço do plano. É o caso do plano de 5GB de internet e 500 minutos, que cai de R$ 139,99 (no valor normal) para R$ 99,99 mensais.
– O aumento da portabilidade é fruto dos investimentos da empresa em rede e do melhor custo-benefício do mercado – disse Eduardo Aspesi, vice-presidente de Negócios da Nextel.
Descontos podem gerar fidelidade
De olho nos clientes insatisfeitos, a Claro promete dobrar a quantidade de dados oferecida ao cliente que vier da concorrência. Segundo a empresa, o usuário, ao optar pelo plano chamado Combo Multi, ganha o dobro de internet e de minutos para falar, além de conseguir um smartphone gratuito. Para quem mora no Rio, há mais uma alternativa. Ao adicionar um dependente, o cliente, que vier da concorrência, ganha bônus de internet de até 3GB por mês. A Vivo também vem registrando crescimento. No Rio, por exemplo, houve alta de 10% no ano passado em relação ao ano anterior.
– Quem não quer reduzir o valor da conta? Nessa crise, está todo mundo buscando reduzir suas despesas. Mas a portabilidade exige atenção quando a operadora oferece descontos no aparelho ou no plano. Ao aceitar um preço promocional, o cliente fica preso na operadora por um ano. E, se tentar sair antes disso, pagará multa – disse Averbal Lourenço, especialista em telecomunicações.