Cotidiano

Peixes: exportação em alta anima o setor que tem gargalos a superar

Nova Aurora  - Cooperativa Copacol - Abate de Tilapia  - Foto : Jonathan Campos / AEN
Nova Aurora - Cooperativa Copacol - Abate de Tilapia - Foto : Jonathan Campos / AEN

Ainda dando os seus primeiros passos dentro da cadeia de proteína animal, se comparada a outros segmentos como avicultura, suinocultura, bovinocultura de corte e de leite, a piscicultura já desponta como atividade de grande potencial no agro responsável pela geração de milhares de empregos e de renda Brasil afora, com destaque para o Paraná.

Em 2022, a produção de peixes em tanques escavados, por meio da exploração da tilápia, alcançou uma ascensão de 15% nas exportações em comparação com 2021. Isso se deve principalmente ao trabalho colocado em prática pelo produtor no campo e à tecnologia presente no segmento. Entretanto, vários são os gargalos que ainda precisam ser superados para tornar esse ramo ainda mais promissor e expansivo.

Com décadas de experiência na produção de peixes em tanques escavados, Edmilson Zabott, presidente da Comissão Técnica de Aquicultura da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) e do Sindicato Rural de Palotina, faz uma série de apontamentos necessários para que a piscicultura atinja o patamar de relevância que merece no Paraná.

Em entrevista concedida ao Jornal O Paraná, Zabott recorre aos números de produção alcançados no ano passado no Estado, totalizando 187.800 toneladas somente com a tilápia. “Mesmo unindo a produção dos três maiores produtores depois do Paraná, no caso São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, o volume chega a 171 mil toneladas. Ou seja, o Paraná hoje domina toda a produção de tilápia do Brasil, por oferecer um produto de alta qualidade e potencializada pelas plantas frigoríficas ligadas às cooperativas, com o aporte de tecnologia desde o abate, preparo do produto e venda ao consumidor”, destaca Zabott.

 

Mercado externo

Essa junção de fatores positivos tem aberto os olhos de mercados externos, atraídos pela qualidade do peixe produzido no Brasil e em especial, no Paraná. “Há poucos dias, tivemos a visita de representantes de quatro países em Palotina, atraídos pela estrutura oferecida pela C.Vale em relação ao peixe e às aves. Ficaram encantados com a qualidade do produto produzido aqui no Oeste”.

Para Zabott, essa curiosidade mundo afora permite a abertura de novos mercados. Um bom exemplo é o Japão, já importando o filé de tilápia tupiniquim. “Para melhorar e ampliar ainda mais esse leque de exportação é preciso incrementar a infraestrutura de logística para que esse produto chegue o mais fresco possível nas gôndolas dos supermercados e das grandes redes distribuidoras desses países”.

 

Água com qualidade exige alto

investimento e documentação

A qualidade da água existente nos tanques faz toda a diferença no desenvolvimento das tilápias. Não é de hoje que os produtores de peixes têm cobrado das autoridades uma resposta quanto à celeridade na liberação de outorgas e licenciamentos para fins de efetivação e legalização da atividade.

O bem-estar dos peixes é outro fator preponderante para manter elevado o índice de qualidade do produto até a mesa do consumidor final. “Todo cuidado é adotado também em relação ao sistema de aeração, que é a produção de oxigênio na água de forma artificial, garantindo a qualidade da água e uma produção maior de peixes comparativamente a outras regiões produtoras. Trata-se de um sistema de produção de alta tecnologia e com muita assistência técnica dentro da cadeia de produção”.

Mas nem tudo são flores na atividade, como conta Zabott. O sistema de fiscalização e de outorgas tem gerado uma série de obstáculos para os produtores de peixe do Paraná. “Hoje, há exigência pelo Estado em relação a esses documentos, mas não há material humano suficiente para atender toda a demanda de produtores existente, tanto àqueles que já trabalham com a atividade há anos como para os que estão há pouco tempo garantindo o sustento familiar por meio da produção de peixes”, aponta. “E não é somente o peixe dependente da água. Outras atividades como avicultura, suinocultura, bovinocultura e áreas de irrigação também dependem dessa água para suas atividades”.

Para os médios e pequenos produtores, as taxas para renovação das outorgas e licenciamentos têm pesado no já elevado custo das atividades rurais diante da necessidade de custear projetos e outras etapas para obter e regularizar toda documentação.

 

Custo de energia

O custo da energia elétrica é outro fator de risco para a produção de peixes no Oeste e em todo o Paraná, segundo o presidente do Sindicato Rural de Palotina. “A energia elétrica é responsável, hoje, por 42% de todo o custo na propriedade. Para quem trabalha com piscicultura em grande escala, precisa bombear a água dos mananciais para abastecer os tanques”. Conforme Zabott, já quem tem água por desnível, o custo de energia hoje é exorbitante. “Para cada quilo de tilápia, a energia chega a custar 35% do valor, diante da necessidade de trabalhar com grandes sistemas de aeração para garantir o bem-estar animal e fazer com que ele atinge bons níveis de qualidade”.

Uma das alternativas para evitar o impacto da tarifa de energia elétrica são os investimentos em energias alternativas, como a solar por meio das placas fotovoltaicas. “Porém, essa opção esbarra no custo elevado dos juros para financiamento”. Para ele, o Paraná, como líder de produção nacional, precisa potencializar as políticas de incentivo para essas aquisições. “A piscicultura propicia ao Paraná, ser o líder na produção nacional dentro de uma cadeia de proteína animal de alimento para o Brasil e para o mundo, onde já somos destaque na suinocultura, avicultura e bovinocultura”.

Outro fator de retrocesso, na visão de Zabott, foi o fim da Tarifa Rural Noturna, que garantia descontos no período que ia das 21h até às 6h30. Nesse período, os piscicultores aproveitavam para acionar os equipamentos de aeração, ante a exigência de uma maior oxigenação na água. “O governo poderia rever essa decisão e retomar esse benefício para o produtor”.

Vale lembrar também que evasão ou o êxodo rural ainda causa temor entre as famílias no campo. E a piscicultura surge como uma alternativa para fixar a família e os jovens no interior.

 

Peixe brasileiro conquista o paladar

norte-americano e gera US$ 23,8 mi

O mercado internacional dos pescados produzidos no Brasil está em expansão. No comparativo com 2021, o setor fechou o ano passado com crescimento superior a 15% em valores negociados. De janeiro a dezembro de 2022, os embarques para o exterior foram responsáveis por gerar US$ 23,8 milhões em receita cambial.

Os números dos pescados no ano passado constam na sétima edição do “Anuário da Piscicultura”. O material foi apresentado pelo diretor-presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), Francisco Medeiros. Dentro do cenário da exportação, o anuário destaca que os Estados Unidos foram o principal destino do pescado brasileiro em 2022, sendo responsáveis por 81% das compras. A tilápia segue disparada como o principal produto nesse recorte, representando 98% do total exportado — sozinha, gerou US$ 23,2 milhões.

Em sua apresentação, Medeiros destacou o crescimento da produção de pescado no Brasil no decorrer dos últimos anos. Em 2014, conforme mostrou, a produção de peixes de cultivo no país ficou na casa dos 578,8 mil toneladas. Em 2022, o volume saltou para 860,355 mil toneladas. Ou seja, avanço de 48,64% no intervalo de oito anos.

O Paraná ocupou a primeira posição no ranking de maiores produtores de pescado no Brasil no ano passado, com mais de 194 mil toneladas. São Paulo, Rondônia, Minas Gerais, Santa Catarina, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia e Pernambuco completam o top 10, segundo a mais nova edição do “Anuário da Piscicultura” brasileira.

Com a revelação dos números referentes à exportação e ao volume de produção, o diretor-presidente da Peixe BR revelou uma meta por parte da entidade em termos de crescimento do setor para os próximos anos. “[Queremos] acabar a década acima de 1 milhão de toneladas [de pescado produzido anualmente no país]”, disse Francisco Medeiros.

O novo “Anuário da Piscicultura” também mostrou números referentes à capacitação de crédito por parte dos produtores de pescado no Brasil. Conforme o material, foram captados R$ 825,7 milhões em 2022 — o que representa avanço de cerca de mais de 26% na comparação com os R$ 653 milhões captados em 2021.

 

Quaresma: Vendas abaixo do esperado

Nesta época do ano, de predominância da Quaresma, período de preparação para a Páscoa por parte dos cristãos, especialmente católicos, a tendência é de crescimento na venda de pescados. Entretanto, a situação econômica da população e a desconfiança com o atual governo federal, têm comprometido os índices de vendas, em comparação aos anos anteriores. A afirmação é do presidente da Comissão de Aquicultura da Faep, Edmilson Zabott.

“Se comparar o preço do quilo da carne de gado com o da tilápia, pode até assustar o consumidor. Só que é preciso também expor que um quilo de filé de tilápia é de carne pura, ao contrário de um quilo de costela ou contrafilé, que costumeiramente o consumidor acaba pagando também pelo osso no corte”. Segundo ele, o custo-benefício do peixe é bem superior à carne de gado.

Para Zabott, também é preciso difundir outros cortes de peixes e não apenas o filé, explorando comercialmente a posta, por exemplo, tornando o produto mais acessível para o consumidor.

 

Setor faz reivindicações ao ministro da Pesca

Membros da cadeia de proteína animal na modalidade peixe participaram de recente encontro virtual com o ministro da Pesca, André de Paulo e de seu antecessor, ex-ministro Altemir Gregolin. Durante a live, o ministro focou mais na pesca artesanal e na participação da mulher na atividade pesqueira. “Quando surgiu espaço, colocamos a nossa preocupação com a falta de políticas públicas voltada à cadeia de produção de peixe nas escalas comercial e industrial, mais especificamente na exploração da atividade em tanques escavados e com tanques redes”, destaca Zabott.

Com a finalidade de minimizar o custo da produção, os representantes da cadeia produtiva de peixes também sugeriram ao ministro a isenção do PIS/Cofins para a ração de peixes, assim como ocorre em outras atividades importantes para o agronegócio como avicultura e suinocultura.

A oportunidade também abriu caminho para reivindicação de efetivação do programa de incentivo ao custeio de energia elétrica para a atividade da piscicultura no País. Porém, é preciso um padrão exclusivo para o segmento e que nesse padrão, não pode haver nenhum tipo de ligação conjunta, ou seja, somente para garantir a geração de energia para os equipamentos usados na piscicultura. “Pedimos para fazer uma adequação no programa, possibilitando a ligação de outras subtarefas da atividade, como no barracão usado para armazenar os equipamentos e para a moradia do caseiro responsável pela lida diária nos tanques”, descreveu.

O incentivo às energias alternativas foi outro ponto apresentado pelos representantes da cadeia de peixes participantes do encontro virtual. Em determinado momento, a conexão com o ministro caiu, não sendo possível mais o contato direto. A partir daí, as explanações passaram a ser feitas diretamente ao ex-ministro Altemir Gregolin.

 

Melhoramento genético

Tecnologia mais que essencial nos tempos atuais, o melhoramento genético é uma etapa importante de desenvolvimento e investimento por parte do Governo Federal. E foi justamente esse o pedido feito por Edmilson Zabott ao governo. “Precisamos dessa mentalidade também na piscicultura, a exemplo do que foi feito com o frango, o gado leiteiro e o suíno”. Segundo ele, o frango, por exemplo, passou de dois quilos em 45 dias para 3,8 quilos no mesmo período. Tudo graças ao aporte da genética. “Precisamos com urgência desse investimento, pois hoje, é preciso custear a importação dessa tecnologia e para muitos produtores de peixe, torna-se inviável em virtude do elevado custo”.