BRASÍLIA ? Sem a certeza de apoio formal do PT e do PC do B, o deputado André Figueiredo (PDT-CE) oficializou nesta terça-feira sua candidatura à presidência da Câmara. A decisão, que teve como principal fiador o presidente do seu partido, Carlos Lupi, foi tomada depois de reunião da Executiva nacional da legenda com deputados do PDT, em Brasília. Eleição Câmara – 17.01
? Temos a esperança e a expectativa de que o PT, o PC do B, a Rede e o PSOL estejam conosco. Nos últimos meses, depois da eleição de Cunha e também de Rodrigo Maia, a nossa Câmara virou um local que servia de chantagem ao governo ou um mero carimbador de decisões do Executivo. Queremos resgatar a altivez da Câmara ? afirmou André Figueiredo, propondo a realização de um debate entre os candidatos
O pedetista criticou a tentativa de votação célere da reforma da Previdência e as votações varando a madrugada, entre outras coisas. E defendeu a importância de uma candidatura das oposições. Em entrevista à imprensa, acrescentou quando questionado sobre a possibilidade de o PT e o PC do B apoiarem candidatos da base de Michel Temer:
? Acredito que os partidos de esquerda estarão conosco. Mas não deixará de ser uma contradição, caso venham apoiar candidatos que atuaram contra a democracia em passado recente.
Nos bastidores, antes de entrar para a reunião, alguns deputados manifestaram preocupação com o lançamento da candidatura de Figueiredo, principalmente por não crer na possibilidade de apoio dos demais partidos de oposição.
? Acho que será um erro, porque PT e PC do B não devem vir junto e ficaremos isolados ? disse um pedetista.
Durante a reunião, o próprio líder da bancada, Weverton Rocha (MA), registrou sua preocupação com o lançamento da candidatura no recesso e sem a certeza do apoio dos outros partidos de esquerda. Mas disse que apoia a decisão do colega e irá trabalhar para ajudar na captura de votos.
? Fiz o registro do time (tempo) de lançamento da candidatura, sem o apoio dos outros partidos de esquerda. Mas apoiamos a candidatura e acreditamos que, além da oposição, teremos votos também nos partidos da base aliada ? disse Weverton.
LÍDER DO PT PARTICIPA DO ATO
Assim como fez no lançamento da candidatura do líder do PTB, Jovair Arantes (GO), há uma semana, o líder do PT, Carlos Zarattini (SP) fez questão de estar presente ao ato do pedetista. Mas disse que o partido ainda não tomou decisão sobre o rumo a ser tomado nesta eleição. Na reunião, defendeu a importância do PT ter um lugar na mesa Diretora da Câmara.
Lupi aproveitou a presença do petista para apelar pelo apoio da legenda.
? Estamos apelando que o deputado Zarattini seja porta-voz dessa candidatura aos nossos primos-irmãos do PT. Mostre a importância dessa candidatura para a oposição ? disse Lupi, acrescentado:
? O PC do B está reunido em São Paulo e esperamos tê-los conosco também.
Ao falar no evento, Zarattini fez críticas à gestão de Eduardo Cunha, mas não criticou a atual gestão de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Parte da bancada do PT defende que o partido apoie Maia, mas outros deputados rechaçam a ideia.
? Estamos em processo de discussão. Assistimos (na época de Eduardo Cunha) a Casa votar matérias duas vezes. Isso não pode acontecer de novo. Temos que defender a Casa ? disse Zarattini.
André Figueiredo já tinha anunciado a decisão de concorrer à presidência e contou com o apoio de Lupi, que bancou a candidatura. A assessoria dele já tinha preparado todo o material de campanha, antes mesmo da decisão final da bancada. O deputado cearense foi ministro do governo Dilma Rousseff e um dos que criticou, de forma dura, o impeachment dela. Por isso, ao falar sobre a expectativa sobre as decisões das bancadas do PT e do PC do B, Figueiredo afirmou na semana passada ao GLOBO que esperava que a coerência vencesse o pragmatismo.
A bancada do PT está reunida na tarde de hoje para discutir sobre a eleição da Presidência da Câmara. Parte da bancada defende que o partido não formalize o apoio a Figueiredo. Essa é uma exigência dos partidos que apoiam a candidatura à reeleição do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia. Segundo aliados do atual presidente da Câmara, se o PT decidir formalizar o apoio a outra candidatura, não será possível garantir ao partido um dos lugares na Mesa Diretora. Ameaçam fazer um bloco e excluir o PT da escolha. A entrada de Figueiredo no páreo pode levar a disputa para o segundo turno.