Cotidiano

Partido anti-imigração ameaça reduto de Angela Merkel

G20-CHINA_-GU22T6LP1.1.jpg BERLIM – Um ano depois de Angela Merkel abrir as portas aos refugiados, a região de Mecklemburgo-Antepomerania (nordeste) renova neste domingo o Parlamento em eleições nas quais o partido anti-imigração AfD pode derrotar os demo-cristãos (CDU) da chanceler alemã.

A integração de um milhão de solicitantes de asilo no ano passado monopolizou a campanha eleitoral neste estado-região da ex-RDA comunista, abrindo caminho para os populistas de direita do Alternativa para a Alemanha (AfD), que segundo as pesquisas pode obter entre 20% e 25% dos votos.

Embora existam apenas alguns milhares de refugiados em Mecklemburgo, “a política migratória provocou uma grande sensação de insegurança no povo”, explica Frieder Weinhold, candidato da CDU em Wismar, uma cidade de 42.000 habitantes às margens do mar Báltico.

– Voto pelo AfD. A principal razão é o tema dos solicitantes de asilo – confirma um aposentado de Ludwig, que deseja permanecer no anonimato. – Para eles há dinheiro, para os aposentados não.

A chefe deste partido, Frauke Petry, pediu na sexta-feira em um vídeo aos eleitores que “façam História, não apenas no estado-região, mas em toda a Alemanha”, votando em massa pela AfD.

POPULARIDADE ESMAGADORA

A chanceler, deputada por esta região, vive momentos difíceis. Uma pesquisa de sábado concede a ela apenas 44% de confiança para um quarto mandato. E seu próprio partido, a União Democrata Cristã (CDU), pode perder para a AfD nestas eleições, que junto com as de Berlim de 18 de setembro medirão a temperatura eleitoral a um ano das legislativas.

Em um comício no sábado neste estado regional onde se encontra sua própria circunscrição, Merkel advertiu para o risco do voto aos populistas, a “essa gente que provoca, mas que nunca fez nada por este Land” (estado federado).

Uma mensagem que ainda pesa sobre os eleitores. “Quero reforçar a união contra (a extrema) direita (…) Sobre a AfD só tenho uma coisa a dizer: a irritação conduz a decisões ruins”, afirma Ulrike Zschunke, de 31 anos.

Na última semana, a chanceler, que se encontra na China por ocasião do G20, multiplicou este tipo de apelos. Mas, segundo as pesquisas, a AfD seria a segunda força mais votada, à frente da CDU.

Uma popularidade crescente classificada de “esmagadora” pelo conselho central dos judeus da Alemanha.

A imprensa reagiu a este novo panorama. “Agora a Alemanha tem o que não havia existido desde o fim da guerra (em 1945): um partido de extrema-direita”, lamenta o jornal “Die Welt”.

– Espero um resultado de até 30% para os movimentos (que defendem) a identidade (nacional) como AfD e (o neonazista) NPD, 25% para o primeiro e 5% para o segundo – adverte Hajo Funke, professor de ciência política da Universidade Livre de Berlim.

UMA BOFETADA

Aos dois principais partidos políticos, o Partido Social-Democrata (SPD) e o CDU, em coalizão neste estado federado e nacionalmente, Funke prevê “uma bofetada”. Uma pesquisa publicada na quarta-feira estima que eles receberão 28% e 20% dos votos, contra 35,6% e 23% em 2011.

Para além do tema dos refugiados, a AfD se nutre “das dificuldades do SPD e da CDU de se diferenciar”, segundo Weinhold.

– Muitos não se sentem representados – acrescenta.

Uma rejeição às elites, junto com a política de austeridade regional, beneficia os populistas, apesar da boa saúde econômica da zona.

Alguns políticos, desamparados diante do êxito dos populistas, culpam diretamente Merkel.

Esta política “provocou uma cisão em nossa sociedade”, como afirmou o chefe do governo regional em fim de mandato, Erwin Sellering (SPD).

– O clima na Alemanha mudou maciçamente – disse, alarmado.

Merkel continua insistindo, no entanto, que o acolhimento dos refugiados era necessário em 2015. Desde dois ataques cometidos em julho por solicitantes de asilo e reivindicados pelo grupo Estado Islâmico (EI), a política da chanceler se concentra mais na segurança.