CARACAS – A oposição venezuelana convocou nesta quinta-feira uma jornada de grandes manifestações em protesto contra as condições para o recolhimento de assinaturas que permitam a convocação de um referendo para revogar o governo do presidente Nicolás Maduro. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) disse na noite de quarta-feira que o plebiscito que permitiria encurtar o governo do presidente socialista ocorreria em meados do primeiro trimestre de 2017, cronograma que impediria a realização de novas eleições.
A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática quer fazer o referendo antes de 10 de janeiro ? porque se ele ocorrer depois e Maduro perder, o que indicam várias pesquisas, não haveria uma nova eleição, e seu vice-presidente completaria o mandato até o início de 2019.
? As condições contradizem o espírito e o texto da Constituição ? disse o secretário-executivo do movimento opositor, Jesús Torrealba, no seu programa na emissora RCR. ? O que virá é uma jornada nacional de mobilização, um grande protesto pacífico, mas enérgico, em defesa da Constituição. Esses senhores vão se encontrar com um país pronto para a luta.
A oposição considera o referendo uma “válvula de escape” para as crises econômica e política que abalam a Venezuela, onde há escassez de alimentos e medicamentos, em meio a uma inflação projetada pelo FMI de 720% para 2017.
? Não temos nenhuma dúvida. Milhões de venezuelanos vão-se mobilizar, dando (a Maduro) uma contundente derrota eleitoral, mas também política e moral ? disse Torrealba.
A MUD reivindicava que a coleta de 20% fosse nacional, e não que esse percentual correspondesse ao registro eleitoral de cada estado. Com isso, basta que apenas uma das 24 entidades estaduais não obtenha o mínimo para que o processo seja invalidado.
Outro assunto polêmico era o número de máquinas de identificação biométrica previstas para esse processo. O CNE aprovou 5.392 máquinas para um contingente de quatro milhões de pessoas, mas a MUD pedia 19.500 para atender a 19 milhões de eleitores.
Um apoio que se aproxime, ou supere, os 7,5 milhões de votos necessários para tirar Maduro do poder, terá um “impacto inegável”, mesmo se o referendo não acontecer este ano, acrescentou Martínez. Para o analista Luis Vicente León, “com poucas máquinas e com 20% por estado, é muito difícil coletar as assinaturas, e a oposição vai-se dividir sobre se deve, ou não, aceitar essas condições”.